Demora na vacinação da população pode ainda atrasar a retomada da atividade econômica
A chegada de uma vacina contra a Covid-19 é vista pelo mercado como um indicador de quando a economia de um país deve voltar ao patamar anterior à pandemia. E nessa corrida o Brasil fez apostas erradas que o deixarão para trás em relação a outras nações – seja nos indicadores econômicos, seja na imunização da população.
“Brasil apostou em um cavalo que ficou para trás. Era hora de o governo sair disparando para todos os lados, seria o melhor cenário”, disse ao Morning Call desta terça-feira (8), a economista-chefe da GAP Asset, Anna Reis.
Ela se refere à aposta do governo brasileiro, concentrada no acordo para obter a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e pelo laboratório AstraZeneca. Os testes, no entanto, sofreram atrasos que deve retardar a concessão do registro para aplicação na população.
Por outro lado, o mesmo governo anunciou na última segunda-feira (7) que avançou nas tratativas para a compra de 70 milhões de doses da vacina desenvolvida pelo laboratório americano Pfizer com a empresa alemã BioNTech. É a mesma dose que está sendo usada no Reino Unido, que iniciou nesta terça-feira a imunização de sua população.
“O governo percebeu que ficou um pouco para trás e a decisão de ontem já vai nessa linha”, comentou Reis.
Além do Reino Unido, Rússia e China já começaram a imunizar suas populações, mas de doses ainda sem dados conhecidos. Estados Unidos e Alemanha também devem iniciar a vacinação nos próximos dias.
A vacina e a retomada econômica também possuem relação com a situação fiscal do Brasil, que já era delicada antes mesmo da pandemia. Na visão de Reis, o mercado vê com desconfiança a postura do governo e de sua equipe econômica.
“A sensação dos investidores é que eles não aguentam mais nenhum desaforo fiscal brasileiro”.
A economista se refere a uma proposta que estava em debate no Congresso Nacional que previa a flexibilização do teto de gastos, que gerou desconforto no governo quando veio a público.
O temor do mercado é que tais flexibilizações do teto de gastos levem a dívida do Brasil a um patamar perigoso, o que poderia afastar ainda mais os investidores externos. Isso em um cenário no qual ainda há incertezas sobre o andamento de questões como o Orçamento para 2021 e as reformas administrativa e tributária.
“O Brasil tem uma estrutura fiscal muito complicada, os investidores olham para o Brasil e dizem que se não tem reformas, a dívida entra numa trajetória explosiva”, ressalta Reis.
Tal situação fiscal coloca o Brasil numa posição oposta a de outras economias. Reis usou o exemplo do Japão, que vai lançar um novo programa de incentivos estatais à economia nacional.
“Japão é o contrário do Brasil. Ele tem uma dívida muito maior do que a nossa, mas existe uma confiança maior. Países mais desenvolvidos tem bala na agulha para fazer uma nova rodada de pacotes. E ao contrário do Japão, não podemos nos dar ao luxo de nesse momento anunciar um segundo pacote, apesar de que o Brasil poderia precisar dele”.
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