Juliana Braga

Para Bolsonaro, presidente da Anvisa é “traidor”

Bolsonaro não economiza nos adjetivos para se referir a Barra Torres, presidente da Anvisa, que teria frustrado sua tentativa de guinada de postura com ômicron

por Juliana Braga em 13/12/21 14:51

A relação que já não era nada boa entre o presidente Jair Bolsonaro e o mandatário da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres, agora desandou de vez. A gota d’água foi a condução isolada da agência nas discussões sobre como conter a ômicron, nova variante da covid-19. No Palácio do Planalto estava sendo arquitetada uma guinada na postura de Bolsonaro, que pretendia se antecipar até aos governadores, mas a manobra foi frustrada pelas ações da Anvisa. A interlocutores, Bolsonaro só se refere ao contra-almirante da Marinha como “traidor”.

O diálogo entre os dois já estava estremecido desde o depoimento de Barra Torres à CPI da Covid, no Senado Federal. Na ocasião, deixou claro ter divergências com o chefe do Executivo em relação ao enfrentamento da pandemia e afirmou ter se arrependido de ter participado de uma aglomeração em frente ao Palácio do Planalto com ele em março deste ano.

O caldo entornou, no entanto, com a orientação da Anvisa de impor um passaporte sanitário aos turistas estrangeiros vindos de países onde a ômicron já foi identificada. A recomendação frustrou uma estratégia que estava sendo desenhada no Palácio do Planalto para Bolsonaro se antecipar até mesmo aos governadores e conseguir mudar a postura no combate à pandemia.

Seus auxiliares já identificaram que esse será um assunto sensível nas eleições em 2022 e pretendiam embalar um discurso que justificasse a mudança de postura. Algo semelhante foi feito no início do ano com a variante Delta. Na época, Bolsonaro disse que a nova cepa justificava a aquisição das vacinas e deu início à aquisição dos imunizantes. Até hoje, ele argumenta que o governo federal comprou todas as doses aplicadas, embora ele mesmo não tenha se imunizado.

A recomendação da Anvisa, de acordo com interlocutores do Planalto, impediu que Bolsonaro tivesse tempo hábil de construir um discurso para seus apoiadores, a quem vem criticando insistentemente o passaporte da vacina. Na última quinta-feira (9), ele voltou a criticar o governador de São Paulo, João Doria, que condicionou a entrada ao estado à comprovação da vacinação.

“Outro governador, aqui da região Sudeste, quer fazer o contrário. E ameaça: ‘Ninguém vai entrar no meu estado’. Teu estado, o cacete, porra. E se não tiver vacinado? E nós todos temos que reagir. E reagir como? Protestando contra isso”, disparou, comparando com a Assembleia Legislativa de Rondônia, que proibiu a obrigatoriedade do passaporte vacinal.

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