Próxima ao Círculo Polar Ártico, a Islândia reserva surpresas e paisagens que parecem de outro mundo
por Marcos Issa em 19/01/21 13:24
Frio, gelo, neve, aurora boreal….foram as primeiras coisas que pensei quando a Mara Luquet anunciou a viagem à Islândia. Rapidamente dei um Google para saber a temperatura que iríamos pegar em fevereiro de 2020, pouco antes da pandemia estourar. Para minha surpresa, a previsão não era nenhum absurdo, algo entre -4 e 9º. Esperava bem menos, em pleno inverno, melhor época para ver a aurora boreal. Na Serra da Mantiqueira onde moro, pego temperaturas negativas como essa no inverno.
Terra do Gelo (Iceland), localizada a beira do Círculo Polar Ártico, mas banhada pelas correntes marítimas do Golfo, que tornam o clima mais ameno e instável.
Uma das melhores coisas numa viagem é imaginar o que vem pela frente, pesquisar, sonhar, adoro. Paisagens, pessoas, comidas, clima, surpresas…
Planejamento é fundamental, ainda mais num país que é o oposto do nosso, pequeno, frio e organizado (e a praia tem areia preta e pedras de gelo!). Fiquei impressionado com as paisagens que iríamos encontrar! Fotografar a aurora boreal era a cereja do bolo, então comecei a pesquisar dicas de como fazê-lo. A internet está cheia delas. A viagem seria com um grupo de fotógrafos, guiados pelo experiente fotógrafo Marcelo Portella, da Dreamscapes, em sua décima terceira viagem à ilha. Liguei algumas vezes para o Marcelo, li todo o guia que ele enviou, conversamos um bocado, sobre fotografia, equipamentos, roupas, alimentação, etc.
Para melhorar, chamei a Flávia, minha namorada, para ir junto e ela topou, menos chances de sentir frio! Partimos de São Paulo, para encontrar o grupo em Reykjavík, capital do país. Como não existem voos diretos do Brasil, escolhemos Londres para fazer escala. De lá seguimos no voo da Icelandair para o país, que fica entre a Europa e a Groenlândia, pouco mais de 3 horas de voo (mais do que imaginava). Um detalhe brega-divertido: o interior do avião era iluminado por luzes de led que mudavam de cor, entre o azul e o verde, simulando uma aurora boreal! Chegamos a noite, já experimentando a paisagem gelada!
No dia seguinte encontramos nosso grupo, num restaurante da cidade. Grupo animado, provando a famosa hákarl, carne de tubarão fermentada (ou podre). Muitas caretas e goles de brennivín, uma aguardente feita de batata e cominho. Ninguém gostou do tubarão, mas os passaportes foram carimbados! O prato típico, juntamente com a baleia e a arraia fermentadas, foram a fonte de alimentação, muitas vezes vital, para sobrevivência na ilha. O Islandês é antes de tudo um forte!
Nosso grupo estava formado, homens e mulheres solteiros e casais, a maioria entre 35 e 60 anos. Começamos bem, o primeiro encontro foi divertido, compartilhando experiências gastronômicas! Descobri que algumas pessoas haviam chegado uns dias antes e já tinham visto a aurora boreal. E tinha gente repetindo a viagem, bons sinais!
Naquele dia o programa era bater pernas e conhecer o centro de Reykjavík, suas lojas, a Catedral Hallgrimskirkja, o Centro de Concertos e Convenções Harpa, com sua arquitetura em forma de colmeias de aço e vidros coloridos. Era só aperitivo para o que viria.
No segundo dia partimos em duas vans 4×4 em direção ao sudoeste da ilha, onde daríamos início a aventura. Visitamos as Cachoeiras Seljalandsfoss, Skógafoss e Vik, uma pequena cidade onde ficamos hospedados. A praia de areia negra, as cachoeiras cheias de neve. Faltou o sol? Talvez sim, talvez não! A paisagem não era a mesma das fotos que vi no Brasil (provavelmente feitas no verão) mas era incrível. Começamos bem!
Dormimos em Vik e pegamos uma praia no dia seguinte: Areia negra, vento e neve, que cenário!
Quarto dia, as cavernas de gelo no Glaciar Vatnajokull, um dos maiores atrativos da Islândia. As cavernas mudam de formato e localização a cada ano, por isso contamos com um guia local, obrigatório. Foi ótima a experiência do Marcelo: saímos do hotel muito cedo e, ainda escuro, estávamos no Parque Nacional Vatnajokull, calçando crampons (peça metálica com pontas, apontadas para baixo, fixadas na sola das botas), para uma caminhada de 45 minutos, chegando as cavernas com o sol nascendo. Capacetes com lanternas, entramos e pudemos explorar e fotografar com muita liberdade. Uma das paisagens mais deslumbrantes que conheci! A hora que saímos, as cavernas estavam cheias de turistas mas já havíamos feito nossas fotos. Valeu demais o sacrifício de acordar cedo, dica de fotógrafo experiente em viagens ao país.
Parecia que o dia estava ganho, mas não, tinha bônus especial: O glacial Jokulsarlon e a Diamond Beach, praia de areias pretas e blocos de gelo a beira mar, que lembram diamantes. Incrível, que dia! Paisagem surreal. Não deu para pegar um bronze mas foi dia de fotografar muito. E a noite, ainda havia possibilidade da aurora boreal, que não aconteceu por conta do tempo fechado.
A essa altura todos já haviam instalado um aplicativo que indica a possibilidade de ocorrer a aurora boreal. Nada como um dia após o outro, né? Pois no quinto dia de viagem ela apareceu. Voltamos ao Glacial Jokulsarlon a noite, um ótimo lugar de observação, longe das luzes da cidade. E fomos premiados com uma aurora fraca, mas a primeira da minha vida, emocionante. Não foi possível observá-la a olho nu, mas a câmera fotográfica registrou. E todo ambiente, em um glacial a noite, o vinho que levamos, turistas e fotógrafos do mundo inteiro procurando os melhores ângulos. Incrível!
Dormimos felizes. Na manhã seguinte a experiência do Marcelo nos salvou, precisávamos deixar o hotel antes do horário previsto pois uma forte tempestade se aproximava e a estrada poderia fechar. Chegamos a Skógafoss, outra cacheira, a tempo de uma visita rápida antes do vento ficar forte. Alerta amarelo em toda Islândia, exceto no sul, onde o alerta era vermelho – justamente aonde estávamos! Os ventos alcançaram 136 quilômetros por hora, com muita neve. Assustador, mas já nos encontrávamos bem acolhidos no hotel, tomando uns goles de vinho!
Dia seguinte, sol, os extremos do clima. Tem uma expressão popular na ilha, “Se você não gosta do clima na Islândia, espere cinco minutos”. Voltamos a Skógafoss, uma das maiores cachoeiras da ilha e depois às cataratas de Gullfoss, cobertas de gelo. A viagem caminhava para o final.
Penúltimo dia, chegamos a Strokkur, um gêiser localizado próximo do Rio Hvíta, na parte sudoeste da Islândia. Mas antes de chegarmos, um parêntese. O centro da terra, todos sabem, é quente. Mas na Islândia esse calor está mais perto da superfície, e é muito aproveitado. É a energia geotermal, que gera a maior parte da eletricidade e ainda aquece as casas. Nas torneiras, água quente que vem do subsolo. A capital Reykjavík (pronuncia-se “Reiquiavique”) é considerada uma das cidades mais sustentáveis do planeta. E esse calor vindo da terra gera uma atividade vulcânica secundária, os gêiseres, mais uma atração natural desta imensa ilha.
Existem cerca de mil gêiseres no planeta, algo relativamente raro. A água no subsolo é aquecida pela lava vulcânica, entra em ebulição e um jato de vapor e água é expelido violentamente, alcançado cerca de 80 metros do solo. Strokkur é um gêiser que entra em erupção a cada poucos minutos, e antes do café da manhã, no hotel ao lado, onde pernoitamos, já estávamos lá para apreciar e fotografar o espetáculo da natureza.
Voltamos para Reykjavík, última parada. Mas ainda tinha outro bônus de viagem, uma das atrações mais visitadas do país, o turismo popular da Blue Lagoon (Lagoa Azul), nos arredores da cidade, um spa geotérmico. Cercada de uma paisagem vulcânica, coberta de neve, a lagoa azul turquesa com 8700 m² é surreal, aquecida por águas fumegantes vindas do fundo do oceano, que chegam a superfície a 38ºC, proporcionando o relaxamento final de uma viagem inesquecível.
Normalmente opto por viagens por conta própria, ao invés de excursões, especialmente para fotografar, busco as melhores luzes, enquanto nas excursões normais, o guia leva em horários padrões e ainda gasta um bom tempo nas paradas para compras. Viajar com o Marcelo e com este grupo foi uma experiência que superou as expectativas, certamente eu perderia muito se não fosse assim. Mesmo para quem não está centrado em fotografar, é o tipo de abordagem que alimenta os olhos e a alma do turista-viajante. Um grupo buscando observar, ver e eternizar bons momentos.
Viajar, fotografar e estar bem acompanhado. Tem jeito melhor de aproveitar a vida?
Marcos Issa é fotojornalista, com passagens pelos jornais cariocas O Dia e O Globo. É fundador da Agência Argosfoto
Marcos Issa viajou para a Islândia a convite da Dreamscape Expedições Fotográficas
Comentários ( 0 )
ComentarMyNews é um canal de jornalismo independente. Nossa missão é levar informação bem apurada, análise de qualidade e diversidade de opiniões para você tomar a melhor decisão.
Copyright © 2022 – Canal MyNews – Todos os direitos reservados. Desenvolvido por Ideia74
Entre no grupo e fique por dentro das noticias!
Grupo do WhatsApp
Utilizamos cookies para oferecer melhor experiência, melhorar o desempenho, analisar como você interage em nosso site e personalizar conteúdo.
ACEITAR