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Faixa de Gaza

Escalada de conflitos em Israel é “situação de violência estrutural”, afirma cientista social

Região é palco de intensos embates, que já ocasionaram dezenas de mortes e deixaram centenas de feridos

por Vitor Hugo Gonçalves em 12/05/21 17:06

A cidade de Jerusalém, sagrada para três principais religiões abraâmicas (judaísmo, cristianismo e islamismo), tem sido palco de uma escalada de violência nos últimos dias, que já deixou pelo menos 22 mortos e mais de 300 feridos.

Faixa de Gaza amanhece (12) sob ataques de foguetes.
Faixa de Gaza amanhece (12) sob ataques de foguetes. Foto: Reprodução (Redes Sociais).

Na segunda-feira (10), em meio a tensões iminentes, foguetes foram disparados de Gaza para Jerusalém, provocando a evacuação do parlamento israelense mediante o caótico som de sirenes de emergência. Em resposta ao ataque, ainda na segunda, Israel bombardeou 130 alvos em Gaza – autoridades israelenses afirmam que 15 integrantes do grupo palestino Hamas, responsável pelo controle da Faixa de Gaza, foram mortos.

O conflitou seguiu durante a terça-feira (11), quando ainda era possível ouvir o som de foguetes sendo lançados na região. Um integrante do Hamas confirmou o lançamento de mais de 300 mísseis contra Israel em menos de 12 horas.

Nas ruas, os embates entre movimentos humanitários e protestantes palestinos com forças de choque israelenses já deixam, até o momento, 300 palestinos feridos, os quais 228 foram levados ao hospital para tratamento e sete deles estão em estado crítico. Do lado de Israel, 21 policiais ficaram feridos, três dos quais necessitaram de tratamento clínico.

Contrariando o discurso da comunidade internacional, que solicita o cessar fogo de ambos os lados, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu defendeu a ação de seu país ao afirmar que o grupo Hamas “atravessou uma linha vermelha” e que Israel respondeu “com grande força”.

Para Daniel Douek, cientista social e diretor do Instituto Brasil – Israel, a hostilidade vista nesta semana começou “em meados de abril, quando se iniciou o mês mais sagrado do calendário islâmico, que é o mês de Ramadã, uma época na qual fiéis muçulmanos se fazem mais presentes na sociedade israelense, nas mesquitas, nas ruas após o entardecer”.

Douek explica que uma das maneiras de celebrar literalmente a ocasião é “se posicionando contra aquilo que se entende como infiéis”. Nesse meio tempo, “viralizou, principalmente pelo TikTok, uma série de vídeos nos quais judeus, em especial ultra ortodoxos, eram ‘atacados’ nas ruas, as vezes em uma espécie de bullying… Essa divulgação nas redes sociais instigou novas ações do tipo, que foram respondidas por grupos judeus de extrema direita, o que elevou um pouco o nível de tensão já presente”.

O estopim, no entanto, ocorreu após o decreto de despejo das famílias árabes que ocupam bairro Sheikh Jarrah, na parte oriental de Jerusalém – o local, desde 1950, é compreendido como combustível para a eclosão de protestos na cidade sagrada.

Sistema de defesa israelense 'Iron Dome' agindo contra foguetes do Hamas.
Sistema de defesa israelense ‘Iron Dome’ agindo contra foguetes do Hamas. Foto: Reprodução (Redes Sociais).

“O despejo de algumas famílias de suas casas no bairro Sheikh Jarrah também contribuiu para que manifestações de grupos palestinos, incluindo grupos não religiosos ou não muçulmanos. Esse bairro é composto pela elite palestina e chama bastante atenção pelo seu histórico”, elucidou o cientista social.

“Não é que a situação estava em paz e de repente ele estourou, isso é um engano: há uma situação de violência estrutural, há uma ocupação de territórios palestinos por Israel que vem de décadas, há uma situação de desigualdade entre israelenses judeus e israelenses não judeus dentro do Estado de Israel, e é uma situação que, em geral, é controlada ou administrada. Alguns episódios acabam contribuindo para aquilo que está mais ou menos sufocado, de tempos em tempos, venha à tona, e é isso que a gente está vendo acontecer neste momento”, completou.

Pandemia em Israel

Abordando o eficiente combate à pandemia em Israel, Douek enfatiza que “ao longo do último ano, deixamos de ouvir notícias sobre a violência entre israelenses e palestinos. A notícia era principalmente de pandemia, e uma esperança começou a surgir quando, já em dezembro de 2020, Israel recebeu as vacinas e iniciou a campanha de vacinação, com o primeiro-ministro sendo o primeiro a se vacinar, incentivando os cidadãos; aí começou uma mobilização na sociedade israelense envolvendo judeus, muçulmanos e cristãos no enfrentamento da pandemia”.

Com 832 mil casos confirmados no país e 6.378 mortes, Israel já vacinou cerca de 63% de sua população total, número próximo para efetivar o processo denominado ‘imunização de rebanho’.

“É altíssima a representação de árabes nos centros médicos e hospitalares de Israel, e foi esse trabalho conjunto que permitiu a superação da pandemia. Se durante a pandemia as manifestações públicas estavam suspensas e os encontros religiosos inviabilizados, quando a pandemia terminou – hoje em Israel há menos de mil casos de contaminados e quase não há mais mortes –, as pessoas voltaram às ruas, e junto delas os conflitos. Todo aquele sopro de esperança foi se dissipando. Essa é a grande tragédia. O desafio é saber se esse pragmatismo das relações normalizadas entre israelenses e palestinos, que foi capaz de vencer a covid-19, vai ser capaz de derrotar, também, essa onda de violência”, finalizou.

Íntegra do programa ‘Almoço do MyNews‘ desta quarta-feira (12), que abordou os conflitos recentes entre Israel e Palestina.

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