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Cultura

Novo ano

Realizadores do último ano esperam um 2021 duro, mas com espaço para boas ações

Ações de empreendedorismo e mobilização local deixam lições para este e outros anos

por Rodrigo Borges Delfim em 01/01/21 15:33

Ana Fontes e Gilson Rodrigues
Ana Fontes, da Rede Mulher Empreendedora, e Gilson Rodrigues, do G10 das Favelas.
(Foto: Montagem/Divulgação)

Pessoas e iniciativas que ajudaram a atenuar os efeitos da Covid-19 no Brasil em 2020 estão de olho na permanência da situação de pandemia para o novo ano, que começa nesta sexta-feira (1º).

Para dois empreendedores sociais ouvidos pelo MyNews, 2021 deve ser um ano duro, ainda mais considerando o fim do pagamento do auxílio emergencial, a indefinição quanto ao processo de vacinação e os números recentes sobre desemprego. A última estimativa divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontou para a existência de 14 milhões de desempregados no Brasil.

No entanto, as realizações ocorridas sob o jugo da Covid-19 lançam bases e ideias que permitem ao menos vislumbrar caminhos menos acidentados pelos próximos 12 meses, sem deixar o realismo de lado.

Empreendedorismo sem glamour

“Não dá pra ser empreendedor sem ser otimista. Mas não é aquele otimismo bobo, sem ação. 2021 vai ser um ano duro e a vacina não resolve do dia para a noite”, projeta , Ana Fontes, fundadora da Rede Mulher Empreendedora (RME).

Ação foi algo que não faltou a Fontes. Eleita uma das empreendedoras do ano pela revista IstoÉ Dinheiro, ela se recorda de 2020 como um verdadeiro “tsunami” sobre os negócios que integram a rede. No entanto, destacou a capacidade de adaptação a essa realidade adversa que deve perdurar ainda neste ano.

“Passado o primeiro choque, como se fosse um tsunami, conseguimos adaptar nosso modelo de negócios e mudamos toda nossa operação para o online. E conseguimos mostrar para as empresas que estavam interessadas em ajudar as mulheres a sair da crise e trabalhar com projetos de geração de renda e acompanhamento”.

Uma dessas ações, ainda em curso, é o projeto Heróis Usam Máscaras, que já gerenciou produção de 12 milhões de máscaras por 6.500 mulheres em todo o Brasil, a partir de aportes que somaram R$ 35 milhões, obtidos junto a três grandes bancos privados (Bradesco, Itaú e Santander). O material foi doado a instituições sociais e organizações como Médicos Sem Fronteiras e Cruz Vermelha, a partir de parcerias com instituições diversas, como o Governo do Estado de São Paulo.

Máscaras produzidas no âmbito da Rede Mulher Empreendedora
Máscaras produzidas no âmbito da Rede Mulher Empreendedora.
(Foto: Governo do Estado de São Paulo)

Já projetando um ano diferente para a rede, começa a funcionar em 11 de janeiro outro grande projeto, o Potência Feminina. Com apoio da Google Foundation, ele consiste em acelerar e dar mentoria para negócios sociais a serem desenvolvidos por mulheres empreendedoras em comunidades de todo o Brasil.

“O ano de 2021 vai ser difícil. Acabou o auxílio emergencial, o volume de pessoas desempregadas vai aumentar. Por outro lado, acho que vai ser um ano de oportunidades para quem souber aproveitar e buscar os caminhos, entender o que as pessoas estão querendo. Sempre digo que os melhores negócios surgem nas maiores dificuldades, a partir das crises”, comenta a fundadora da RME.

Para quem pensa em empreender a partir deste ano, Fontes deixa três dicas: buscar capacitação constante, se integrar a uma rede de apoio e procurar “mentores”, que possam ajudar a tirar dúvidas sobre o processo. E refuta versões idealizadas do empreendedorismo professada por certos representantes.

“Para começar, é importante começar pequeno, usando o mínimo de recurso possível, para testar o modelo e, caso bem sucedido, desenvolver um planejamento em cima desse projeto”.

Mobilização pelo exemplo e legado

Segunda maior comunidade de São Paulo, com cerca de 100 mil moradores, Paraisópolis viu a pandemia ampliar os problemas já vivenciados no cotidiano. E o caminho para driblar essas dificuldades vem surgindo a partir da própria população, servindo como espelho para outras localidades.

“Diante da falta de políticas públicas dos governos, decidimos criar nossa própria política pública”, resume o líder comunitário Gilson Rodrigues, presidente da União dos Moradores e do Comércio local e coordenador nacional do G10 das Favelas, bloco de líderes de comunidades Brasil afora.

Rodrigues ajudou a criar uma série de comitês dentro de Paraisópolis, compostos pelos próprios moradores, os chamados “presidente de rua”. Dessa forma, a própria comunidade tem se engajado na busca de soluções para seus problemas cotidianos e para mitigar os efeitos da pandemia.

A prova do sucesso do modelo é comprovada na prática pela sua replicação por outras comunidades, espalhadas por 14 Estados brasileiros.

“De alguma forma as outras favelas tem nos olhado como inspiração para as coisas acontecerem. A nossa melhor forma de trabalhar aqui é pelo exemplo”, reconhece Rodrigues.

G10 das Favelas congrega líderes de comunidades Brasil afora
G10 das Favelas congrega líderes de comunidades Brasil afora.
(Foto: Divulgação)

O líder comunitário já projeta a meta para 2021: organizar ainda mais essas comunidades no Brasil, montando 800 mil comitês de presidentes de rua para que a população local possa se ajudar.

“A crise vai se agravar, tanto sanitária quanto econômica. E a favela tem soluções próprias que podem ser potencializadas a partir da organização”.

A inspiração para montar os comitês teve uma ajudinha da História. Gilson e os demais colaboradores pesquisaram como a população local se organizou diante de grandes crises sociais e sanitárias, como a pandemia de Gripe Espanhola (1917-1918).

“Faz muita falta o Brasil não se conhecer e o mundo não conhecer suas grandes histórias, seus heróis”, lamenta Rodrigues.

Para ajudar a manter as ações em curso na comunidade há um site, o Nova Paraisópolis (https://www.novaparaisopolis.com.br/), por meio do qual é possível fazer doações. Grandes empresas também são provocadas a colaborar com esse esforço.

Um exemplo é a JBS, que vai custear por dois meses o atendimento médico oferecido à população de Paraisópolis no Pavilhão Social da comunidade. A operação do local chegou a ser suspensa no final de dezembro por falta de recursos.

O líder comunitário crê ainda que o exemplo de Paraisópolis, já usado por outras comunidades no Brasil, também servirá de referência para outras ações no futuro, assim como eles próprios buscaram na história elementos para ajudar a enfrentar a atual crise.

“Vamos olhar no futuro que, em uma favela em São Paulo, um grupo de moradores se organizou por meio de comitês de favelas e conseguiu salvar muitas vidas. É motivo de orgulho fazer parte dessa história e deixar isso como lição para o mundo”.

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