Pesquisadores constataram sequelas da Covid-19 dois meses depois do diagnóstico em pessoas com casos considerados leves
por Juliana Cavalcanti em 31/07/21 17:07
Considerada inicialmente uma doença respiratória, a covid-19 vem se mostrando ao longo do tempo uma doença sistêmica, que afeta diversos órgãos e tem efeitos inesperados, dependendo do paciente. Entre as sequelas da doença descobertas recentemente estão danos cerebrais, inclusive em pessoas que tiveram quadros considerados leves. Uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) que acompanhou 81 pessoas que tiveram covid-19, mas não precisaram de internação, mostrou que dois meses depois da infecção, esses voluntários ainda apresentavam sequelas da doença.
Além de perda do olfato, 34% tiveram perda de função cognitiva; 28% apresentaram sinais de ansiedade; 28% enfrentaram perda de memória; 20% tiveram um quadro de depressão. Para a médica infectologista Rosana Richtmann – que participou do programa Quinta Chamada, no Canal MyNews desta quinta-feira (22/07), os resultados do estudo reforçam como o novo coronavírus causa surpresa para o estudo científico. “Tenho dificuldade de comparar o coronavírus com qualquer outra pandemia que a gente já vivenciou. Já acompanhei a epidemia de Aids, o H1N1 e posso dizer que a covid-19 está desafiando como os médicos podem conversar com os pacientes. Na hora que você acha que venceu tudo, vem uma surpresa”, argumentou Richtmann.
O especialista em virologia e bioinformática Anderson Brito pontuou que ainda é cedo para falar nas consequências das infecções pelo novo coronavírus. “Mesmo as pessoas que não desenvolvem casos graves, ficam com sequelas que a gente ainda não sabe e só vai descobrir depois de meses de pesquisa”, explicou, acrescentando que apesar de a preocupação do momento ser a variante Delta, não é possível esquecer que no Brasil ainda existe a predominância da variante Gama e que não é possível baixar a guarda nas medidas preventivas e no avanço da vacinação.
Anderson Brito acrescentou que como o novo coronavírus sofre mutações muito rápidas – de duas a três mutações por mês – é possível que exista a necessidade de vacinação anual contra a covid-19, assim como já acontece com a vacina da gripe, que é atualizada frequentemente.
Rosana Richtmann ressaltou que apesar da alta capacidade de disseminação da variante Delta, nos países onde esta cepa é dominante, o percentual de mortes e casos graves têm sido muito menor entre as pessoas vacinadas. “Quem está com quadro mais grave e morrendo são os não vacinados. Apesar de ser uma variante mais grave e que vai acabar entrando no Brasil, a notícia boa é que as vacinas estão funcionando para evitar casos graves e mortes”.
O Quinta Chamada contou também com a participação do filósofo e ex-ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro – que toma posse nesta sexta-feira (23/07) como presidente da Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC). O ex-ministro ressaltou a importância de realizar uma maior divulgação da ciência como forma de combater as fakenews.
“Nós temos grandes comunicadores e nessa área talvez o grande nome seja o Drauzio Varella, mas o fato é que talvez a área científica que os cidadãos comuns tenham mais conhecimento seja a saúde, seja a medicina. Porque nesses 20 anos o que houve de informação a respeito, com Drauzio, com Paulo Saldiva, Margareth Dalcolmo, Roberto Lent. Vários pesquisadores da área de saúde, sobretudo por causa da pandemia, que suscitou uma demanda gigantesca de informação qualificada, ao mesmo tempo que veio a desinformação”, destacou Janine Ribeiro.
Para o ex-ministro da Educação é preocupante a demanda e o espaço aberto para a desinformação. “Talvez a grande questão a explicar seja por que tanta gente, 5% dos brasileiros, segundo as pesquisas, não acreditam na ciência? Acredito que uma das missões da comunidade científica, dentro da qual está a SBPC, seja a de procurar um letramento científico. Acredito que se todo mundo, além de ler, escrever e fazer contas, tiver um conhecimento básico das ciências, você melhora a qualidade de vida, melhora a inteligência, torna mais difícil as pessoas serem manipuladas; é um ‘ganha-ganha’”, destacou.
Renato Janine Ribeiro falou ainda da importância de ter dados estatísticos sobre a educação no Brasil para poder atuar com políticas públicas de acordo com as necessidades de cada localidade. Para o filósofo, um bom exemplo é o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) – que faz um diagnóstico da situação do ensino em vários aspectos e ajuda os gestores públicos a tomarem decisões que muitas vezes não estão diretamente ligadas ao ensino.
O Quinta Chamada vai ao ar todas as quintas-feiras, a partir da 20h30, e tem apresentação de Cecília Olliveira. Esta semana, além do filósofo e ex-ministro da Educação Renato Janine Ribeiro, o programa contou com as participações do jornalista Salvador Nogueira, da médica infectologista Rosana Richtmann e do especialista em virologia e bioinformática Anderson Brito.
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