Elizabeth II soube se manter como símbolo e distante de todas as transformações que ocorreram durante o reinado mais longevo da Inglaterra
por Maria Aparecida de Aquino em 12/09/22 13:22
Era esperado, mas, mesmo assim, ainda causa espécie a comoção internacional e, particularmente, entre os ingleses, pela morte da Rainha Elizabeth II. Nascida em 21/04/1926, Londres, Inglaterra; faleceu em 08/09/2022, aos 96 anos, no Castelo de Balmoral, Escócia. A Escócia é parte do Reino Unido, juntamente com a Inglaterra, País de Gales e Irlanda do Norte. Existem movimentos de luta pela independência, atualmente, na Escócia e Irlanda do Norte.
A Inglaterra que já foi conhecida como “o Império onde o sol nunca se põe” – explica-se: tão grande era o poderio inglês que em algum de seus domínios o sol estaria brilhando – perdeu, durante o reinado de Elizabeth II a maior parte de seus territórios pelos processos de Independência após a II Guerra Mundial (1939-1945). A luta pela democracia contra o nazismo e o fascismo não poderia combinar com o colonialismo. Impunha-se a conquista da liberdade.
Assim, um a um, quase todos os domínios ingleses se libertaram, da Ásia à África. Desses processos de descolonização, talvez o mais rumoroso e complexo tenha sido o da Índia. Desenrolado entre 1947 e 1948 sob a liderança de Mahatma Gandhi e Jawaharlal Nehru, teve como um dos negociadores ingleses, Lord Mountbatten que foi o último vice-rei da Índia e o primeiro governador-geral do país independente. Era tio do Principe Philip Mountbatten, marido de Elizabeth II. O final da descolonização levou à separação entre a Índia e o Paquistão por razões que envolvem, principalmente, temas religiosos, ou seja, a opção muçulmana por parte dos paquistaneses.
Digno de nota é o processo de Independência da Irlanda. Parte do território se torna independente em 1919, mas só oficialmente liberto em 1922. Outra parte, a Irlanda do Norte, permanece sob controle inglês. Porém, muitos conflitos ocorreram envolvendo o Exército Republicano Irlandês (IRA) que queria a unificação e praticava a luta armada. Causou particular estupefação mundial a ausência de atitude do governo inglês – Margaret Thatcher no comando – quando do processo de greve de fome e morte do ativista do IRA, Bobby Sands, em 1981.
Hoje, a outrora, todo poderosa Inglaterra, está reduzida aos países que compõem o Reino Unido e possui uma ligação, por associação voluntária e não de dependência política, com 53 (cinquenta e três) estados soberanos que formam a Commonwealth (Comunidade das Nações).
A título de explicação necessária, o domínio inglês sobre as colônias foi brutal politicamente e de extrema rapinagem econômica. Por onde passaram subjugaram com crueldade os povos conquistados e roubaram (o termo é esse) tudo que puderam. Só para exemplificarmos, apesar de não termos sido colônia inglesa, a Inglaterra dominou economicamente Portugal durante séculos. Assim, se passarmos pelas Igrejas inglesas encontraremos o ouro brasileiro que as adorna além, obviamente, de ornamentar as Igrejas portuguesas.
Não é uma história bonita ou edificante! É parte da nossa tragédia de nações que foram colonizadas e, mesmo livres, lutam para se libertar da dependência social e econômica.
Entretanto, após sua morte, Elizabeth II tem sido enaltecida por todos. Seu passado representando a nação que subjugava suas colônias é pouco lembrado. Isso, porém, não deve obscurecer a importância da monarca no comando de seus domínios. Sua atitude foi exemplar dentro da cartilha regida pelo papel que cabe à monarquia. E é um papel pequeno que se deve a questões históricas.
Em 1215, o rei da Inglaterra que ficou conhecido como João sem-terra por haver perdido territórios ingleses em batalhas malsucedidas, foi obrigado a aceitar a Magna Carta, limitando seu poder. Posteriormente, no século XIV, foram criadas a Câmara dos Lordes e a Câmara dos Comuns, o Parlamento inglês que governa até hoje. E, durante a Revolução Gloriosa – assim chamada, pois, não houve derramamento de sangue -, em 1688, definitivamente, os poderes reais foram diminuídos, gerando o dito popular “O Rei reina, mas não governa”.
Elizabeth II soube se manter como símbolo que representa a monarquia inglesa apesar de sua atitude ao não querer se pronunciar quando da morte da “princesa do povo”, Lady Diana Spencer. A forte reação popular a fez rever sua posição saindo na defesa da princesa morta em acidente fatal.
Talvez uma memória convenientemente curta faça com que os ingleses e o mundo esqueçam os aspectos negativos e exaltem a rainha que se manteve no poder durante 70 (setenta) anos. Elizabeth II foi também digna de admiração, talvez mais por permanecer distante de todas as enormes transformações que ocorreram durante seu reinado, o mais longevo da Inglaterra.
Em termos de longevidade, Elizabeth II perde para outro rei que governou durante 72 (setenta e dois) anos, Luís XIV que reinou entre 1643 e 1715. Ao fim de sua vida, dele se dizia: “Il n´en finissait pas de mourir” – numa tradução livre: “Ele não acabava nunca de morrer”. Começou a governar muito jovem, sob a regência de sua mãe Ana da Áustria. Aos poucos, foi construindo em torno de si um enorme arcabouço de poder, pois, retirou a nobreza de suas terras e a concentrou ao seu redor, tornando-a sua corte. Sob seu governo começou a ser construído um dos maiores símbolos da França até hoje, o Palácio de Versailles. A frase pela qualsempre será lembrado, considerado o exemplo mais claro do absolutismo monárquico é: “L´Etat c´est moi”, ou seja, “O Estado sou eu”.
Desse modo, entre os dois soberanos longevos, uma distância abissal os separa. Ela, cuja maior virtude foi saber se manter distante do poder que efetivamente não tinha, destacando seu papel de símbolo de uma monarquia que seu povo venera. Ele que será sempre lembrado pelo poder absoluto que exercia.
Voltando aos ingleses, um exercício fascinante será o de buscar explicar as razões que justificam, apesar do arcaísmo démodé, esse amor exacerbado de uma população moderna e avançada em muitos aspectos, pela monarquia e seus monarcas.
Mas, essa é uma história que fica para uma outra vez!
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