Presidente do TSE, Barroso diz que Bolsonaro ataca a Corte por falta de coragem de enfrentar o Congresso, que enterrou o voto impresso
por Juliana Braga em 09/09/21 12:51
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, subiu o tom contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e chamou de covardia os ataques feitos à Corte. Segundo ele, o presidente o faz por falta de coragem de enfrentar o Congresso Nacional, quem enterrou a pauta do voto impresso. Para Barroso, exceto os fanáticos e os radicais, todos sabem que não houve fraude nas eleições, como Bolsonaro prega.
“Hoje em dia, salvo os fanáticos, que são cegos pelos radicalismos, e os mercenários, cegos pela monetização da mentira, todas as pessoas de bem sabem que não houve fraude. Quem é o farsante nessa história?”, provocou.
Barroso falou na manhã desta quinta-feira (9), na abertura da sessão do TSE. Ele afirmou que o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, já havia se manifestado institucionalmente, e que ele se ateria a desmentir declarações contra o sistema eletrônico de votação. “Faço isso em nome dos milhares de juízes e servidores que servem ao Brasil com patriotismo – não o da retórica de palanque, mas o do trabalho duro e dedicado –, e que não devem ficar indefesos diante da linguagem abusiva e da mentira.” Declarou já estar “cansativo” ter que “repetidamente desmentir falsidades”. “É muito triste o ponto ao qual chegamos.”
O presidente do TSE rebateu as acusações de ter feito ativismo legislativo para derrubar o voto impresso. Segundo relatou, ele foi convidado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para participar de um debate “público, aberto e franco” sobre um tema importante sendo discutido. A Câmara votou a PEC do voto impresso, que não alcançou os 342 apoios necessários para a aprovação.
“O presidente da República, como ontem lembrou o presidente da Câmara, afirmou que após a votação da proposta, o assunto estaria encerrado. Não cumpriu a palavra. Seja como for, é uma covardia atacar a Justiça Eleitoral por falta de coragem de atacar o Congresso Nacional, que é quem decide”, pontuou. É o Congresso também quem decide sobre a abertura de pedidos de impeachment.
O presidente Jair Bolsonaro vem reiteradamente fazendo acusações sobre o sistema eleitoral. Em discurso na Avenida Paulista, na tarde de 7 de setembro, declarou não poder participar dessa “farsa” e disse que não seria uma pessoa, ou o TSE, que afirmaria ser um sistema seguro porque, segundo insistiu, não é.
Em julho deste ano, Bolsonaro organizou uma live, com a participação de jornalistas, para apresentar provas de fraudes nas eleições. Acabou admitindo ter apenas “fortes indícios”. Após uma live que deverá figurar em qualquer futura antologia de eventos bizarros, foi intimado pelo TSE para cumprir o dever jurídico de apresentar as provas, se as tivesse. Não apresentou, lembrou, acrescentando se tratar de “retórica vazia”.
Barroso voltou a desmentir a ausência de mecanismos de auditoria da urna. São 10, segundo relata, mecanismos de verificação de segurança. Para ele, instituir o voto impresso seria como voltar do computador não à máquina de escrever, mas, sim, à caneta tinteiro. “Seria um retorno ao tempo da fraude e da manipulação. Se tentam invadir o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, imagine-se o que não fariam com as seções eleitorais!”, argumentou.
Barroso citou três fenômenos hoje no mundo, o populismo, o extremismo e o autoritarismo, que, quando se manifestam, trazem problemas para a democracia. Segundo afirma, quando o “inevitável fracasso” bate à porta do populismo, é necessário procurar culpados ou bodes expiatórios. “Pode ser o comunismo, a imprensa ou os tribunais”, defende.
Ainda na quarta-feira, o presidente do STF, Luiz Fux, rebateu as declarações de Bolsonaro. Fez questão de responder a ameaça de que não mais cumprirá decisões judiciais expedidas pelo ministro Alexandre de Moraes. “Se o desprezo às decisões judiciais ocorre por iniciativa do chefe de qualquer dos poderes, essa atitude, além de representar atentado à democracia, configura crime de responsabilidade, a ser analisado pelo Congresso Nacional”, disse Fux.
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