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Luana Araújo foi ingênua ao acreditar que teria autonomia, diz ex-ministro da Saúde

José Gomes Temporão enxerga um Ministério da Saúde empobrecido e que afasta bons profissionais

por Luciana Tortorello em 02/06/21 19:27

O ex-ministro da saúde, médico sanitarista e pesquisador da Fiocruz José Gomes Temporão conversou com o MyNews sobre o depoimento de da médica infectologista Luana Araújo na CPI da Pandemia, cloroquina e os rumos da pasta que dirigiu de 2007 a 2011.

Araújo afirmou que a “polarização” fez com que pessoas qualificadas não aceitassem cargos no governo. Temporão, todavia, destaca o negacionismo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como fator repulsivo.

“Houve uma mediocrização da estrutura do ministério, um empobrecimento, o clima de trabalho do ministério é ruim, essa aliança do Presidente da República e do Governo com a negação da ciência, afasta pessoas muito qualificadas. Você chamar um pesquisador, um epidemiologista, um sanitarista nesse momento para compor uma equipe de governo, neste governo e nessas condições, fica muito difícil”, analisa o ex-ministro.

Para o médico sanitarista, Araújo foi ingênua em achar que teria autonomia para desenvolver suas ideias e princípios quando aceitou o cargo no Ministério da Saúde oferecido por Marcelo Queiroga.

“Pelo currículo, pela postura, pelas declarações dela, é uma pessoa da ciência, da saúde pública e imaginar que ela teria a liberdade total de compor uma equipe, desenvolver uma abordagem, uma visão baseada na ciência, na saúde pública, foi um pouco de ingenuidade. O resultado foi ela impedida de desenvolver suas atividades quando o núcleo duro do governo analisou seu currículo e suas declarações. Nessa, o ministro Queiroga também fica mal, porque escolheu uma pessoa altamente qualificada e que foi descartada não por ele, possivelmente por quem o levou ao governo, o Presidente da República”, argumenta o pesquisador da Fiocruz.

Na CPI, Araújo classificou a discussão sobre cloroquina como “esdrúxula” e obsoleta e apresentou dados que mostram que tratamento com cloroquina é responsável pelo aumento de 77% no risco de morte de pacientes com covid-19.

Temporão acha que a discussão sobre a cloroquina, nesse momento da pandemia, não nos leva a lugar nenhum. ”O problema é que estamos presos, amarrados nesse contexto. Sempre que surge uma doença nova, a cloroquina surge como panaceia, mas ela não funciona, não funcionou. Lá atrás, em março e abril, era admissível, como se sabia pouco da doença, mas logo os estudos que seguiram demonstraram completamente a impossibilidade de uso, então insistir nessa questão é curandeirismo, insistir nessa questão é um grave equívoco”.

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