Mesmo após a confirmação de parcialidade do ex-juiz, o petista mantém precauções quanto a sua possível candidatura em 2022
por Juliana Braga em 25/03/21 11:44
A decisão da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal sobre a suspeição do ex-ministro Sergio Moro foi amplamente comemorada no PT, mas um personagem preferiu manter a cautela: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A interlocutores, Lula disse ver a decisão da suspeição do ex-juiz como mais importante do que a que devolveu seus direitos políticos, mas recomendou cautela aos companheiros porque ainda tem receio de que o jogo possa virar no STF.
Na noite de terça-feira (23), logo após a mudança de voto da ministra Cármen Lúcia, Lula disse a amigos estar aliviado porque o Supremo teria reconhecido que ele foi vítima de perseguição política. O despacho do ministro Edson Fachin, que considerou a Justiça do Paraná incompetente para analisar suas ações, não o inocenta. Analisa apenas um aspecto técnico e ainda permite ao juiz do Distrito Federal, que herdará as ações, aproveitar todas as provas obtidas em Curitiba. Para Lula, a suspeição de Moro é o que “lava a sua honra” e legitima o discurso de perseguição. Do ponto de vista pessoal, é mais importante, revelou com quem conversou.
Isso não quer dizer que ter seus direitos políticos de volta seja um mero detalhe. Pelo contrário. Ele tem se mostrado muito animado com a possibilidade de ser candidato em 2022, mas tenta manter o pé no chão porque o plenário do Supremo ainda pode rever a decisão de Fachin.
Por esse motivo, o petista tem evitado aparições públicas desde a entrevista coletiva em São Bernardo do Campo. Não quer ficar cutucando o STF. Gatos escaldados, estão todos no partido preocupados com uma possível nova reviravolta.
Caso a decisão seja revertida, o ex-ministro Fernando Haddad volta automaticamente ao posto de presidenciável. Não há objeções dentro do PT, já que Haddad é quem tem mais visibilidade, foi escolhido por Lula e já teve 47 milhões de votos em 2018. Não está descartado, no entanto, ceder a cabeça de chapa a outro partido. O nome preferido hoje, inclusive por Lula, é o do governador do Maranhão, Flávio Dino, pela sua experiência em cargo do executivo e por ser nordestino.
A avaliação no partido é de que mesmo que o Lula não seja candidato, só a possibilidade de ele retornar já ajudou a reaglutinar a esquerda. A decisão do Fachin e, principalmente, a suspeição de Moro ajudaram a iniciar um processo de recuperação da imagem do partido.
Um dos poucos presidenciáveis com o qual o diálogo é tido como impossível é o ex-ministro Ciro Gomes. Petistas acreditam que já fizeram os movimentos que podiam em direção ao cearense, mas que ele é quem insiste em fechar as portas.
E Ciro é exceção mesmo. Com ou sem Lula, há espaço para alianças com partidos de centro-direita, inclusive, com o PSDB. Os governadores têm tido um diálogo mais constante e já têm feito essa aproximação mais pragmática entre as duas legendas. Se isso se concretizará em uma aliança para 2022, é necessário mais tempo de maturação para saber.
Com o Centrão, também é preciso um pouco mais de tempo. A expectativa é de que parte das legendas que hoje estão fechadas com Bolsonaro acabem se reaproximando por um movimento gravitacional.
Enquanto não há um desfecho sobre o destino de Lula no Supremo, o plano dele é começar a rodar o país assim que ele tomar a segunda dose da vacina. E não é falando de candidatura ainda, justamente pra não levantar muito a lebre lá no STF. O ex-presidente vai bater em duas teclas. A primeira é denunciar o aumento de pessoas passando fome no Brasil depois da pandemia, bandeira com a qual se sente à vontade. A ideia é tentar despertar uma nostalgia pelo Fome Zero, uma marca que cunhou no seu primeiro governo. A segunda é uma campanha massiva pela vacina, visto como tendão de Aquiles do presidente Jair Bolsonaro no momento.
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