Forte tensão política e humanitária se instala na Europa desde que o presidente bielorrusso Alexander Lukashenko, em resposta às sanções aplicadas pelos vizinhos, decidiu utilizar um tipo diferente de munição: a migração em massa
por Cristiano Bucek em 22/11/21 14:03
Não se fala muito da Bielorrússia por aqui, talvez porque as bizarrices de seu presidente não impressionem o brasileiro de 2021. Homofóbico declarado e negacionista de primeira linha, Lukashenko foi aquele presidente que indicou vodka e sauna para “matar o vírus da covid-19” e que disse ao ministro das Relações Exteriores da Alemanha, homossexual assumido, que ele devia “levar uma vida normal”.
Reeleito em 2021 sob contundentes acusações de fraude eleitoral, o homem que ficou conhecido como o último ditador da Europa respondeu aos protestos em massa da oposição com prisões, tortura e censura da imprensa.
Os atos de violação dos direitos humanos e do funcionamento das instituições democráticas, assim como provocações diplomáticas no espaço aéreo bielorrusso, levaram a União Europeia a impor sanções comerciais ao país, tais como o congelamento de uma ajuda de 3 bilhões de euros em projetos de desenvolvimento. Outras sanções já haviam sido imputadas pelos Estados Unidos, pelo Canadá e, recentemente, pelo Comitê Olímpico Internacional.
Nos últimos dias, Lukashenko retaliou com uma estratégia pouco usual. Ele está sendo acusado pela União Europeia e pelas Nações Unidas de ter aberto país para cerca de 2 mil imigrantes, a maioria curdos do meio-oriente, para em seguida enviá-los às florestas na fronteira com a Polônia, orquestrando uma crise humanitária que visa desestabilizar a região.
Com uma população de quase 40 milhões de pessoas, perseguidos na Síria, Turquia e Iraque, os curdos são o maior grupo étnico do mundo sem território próprio.
Em acampamentos de lona improvisados, mulheres grávidas e crianças estão entre os que atravessam noites a zero grau Celsius, na esperança de cruzar a fronteira e de reconstruírem suas vidas. Do outro lado da cerca, em estado de emergência, o governo polonês envia à região centenas de tropas, no intuito de evitar a entrada dos imigrantes.
Frente a tais movimentações, aviões bombardeiros bielorrussos sobrevoam a divisa entre os dois países. Mas o governo bielorrusso garante que tais manobras não visam vizinhos e que não passam de uma patrulha rotineira.
Após a ameaça de novas sanções por parte da União Europeia, Lukashenko cogitou, durante uma reunião ministerial, cortar a transmissão de gás que passa pelo seu território e que abastece vários países da Europa.
Enquanto no nível internacional as retaliações escalam, na Polônia, a iminência de uma entrada em massa de imigrantes jogou lenha na já raivosa fogueira da ultradireita. No Dia da Independência, 11 de novembro, milhares de pessoas se manifestaram em Varsóvia em apoio ao trabalho das tropas na fronteira.
Cristiano Bucek é produtor multimídia e consultor em comunicação. Trabalha atualmente como consultor para Organização Internacional pela Migração nas Nações Unidas, em Genebra.
* As opiniões das colunas são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a visão do Canal MyNews
Comentários ( 0 )
ComentarMyNews é um canal de jornalismo independente. Nossa missão é levar informação bem apurada, análise de qualidade e diversidade de opiniões para você tomar a melhor decisão.
Copyright © 2022 – Canal MyNews – Todos os direitos reservados. Desenvolvido por Ideia74
Entre no grupo e fique por dentro das noticias!
Grupo do WhatsApp
Utilizamos cookies para oferecer melhor experiência, melhorar o desempenho, analisar como você interage em nosso site e personalizar conteúdo.
ACEITAR