As tecnologias da informação e comunicação revolucionaram o processo educacional
por Cecília Leme em 17/02/21 11:03
A educação tem sido interpelada, especialmente a partir da pandemia COVID-19, a incluir as tecnologias nos processos de ensino-aprendizagem em todos os níveis do sistema educativo.
A falta de acesso ao mundo tecnológico, que afeta estudantes e professores, se apresenta como uma dificuldade. Outro obstáculo é a carência de uma formação específica e continuada que ofereça aos educadores os conhecimentos necessários para utilizar as tecnologias, sem ser engolidos por elas.
Nas últimas décadas, as chamadas TICs, tecnologias da informação e comunicação – aquelas relacionadas com informática, telecomunicações e processamento de dados – provocaram uma revolução no processo de transferência de informações, levando a uma atuação ativa e participativa das pessoas em tempo real.
Essas ferramentas de mediação digital transformaram tão profundamente as sociedades modernas, que se pode dizer que vivemos em sociedades de informação, sem fronteiras geográficas e temporais para nos comunicar. Com relação à educação, as tecnologias geraram novos espaços de aprendizagem, integrando a casa e o centro educativo.
Diante disso, muitos educadores têm sentido e expressado a necessidade de atualizar sua formação para assumir os novos desafios educativos na era digital. Mais ainda em tempos de pandemia. A pesquisa A situação dos professores no Brasil durante a pandemia, desenvolvida pelo portal Nova Escola apontou que menos de um terço dos professores (32%) avalia o ensino remoto como uma experiência positiva. Dados dessa pesquisa explicam a razão de a maioria dos professores não ter uma preparação prévia para enfrentar os desafios educativos que se apresentaram com a crise sanitária.
Dos professores entrevistados, mais da metade (51,1%) relataram não ter recebido formação de suas redes ou mantenedores para o ensino remoto. Ao avaliar a experiência do ensino remoto, 33% dos professores a classificou como razoável; 30% como ruim ou péssima, 27% como boa e apenas 5% dos professores lhe atribuem nota 9 ou 10.
Como educadores, temos direito a uma formação profissional continuada que nos prepare para os desafios atuais da educação. Algumas mudanças educativas derivadas da interconectividade são evidentes e vieram para ficar, apesar da exclusão de parte da população estudantil, e da comunidade educativa em geral, do mundo tecnológico. Segundo dados da pesquisa realizada pela TIC Kids Online Brasil, publicada em junho de 2020, o Brasil tem aproximadamente 4,8 milhões de crianças e adolescentes, entre 9 e 17 anos, sem acesso à internet nos seus domicílios. Esses dados corroboram o que a pandemia vem mostrando: a exclusão digital é uma nova forma de discriminação e desigualdade social.
Qual é o papel das instituições educativas na sociedade informacional, principalmente durante a pandemia? Quais são as mudanças que as tecnologias estão provocando na maravilhosa atividade humana de ensinar e aprender?
A evidente chegada do paradigma digital em nossas vidas traz, para algumas pessoas, o temor de que a virtualidade destrua a possibilidade de encontro e diálogo, fazendo desaparecer o encanto das relações presenciais. No caso da educação, a invasão tecnológica também tem provocado temores, especialmente devido à escassa formação dos educadores, que ainda sentem dificuldade para adaptar conteúdos e metodologias para os espaços educativos virtuais.
Não há dúvida de que as aulas tradicionais, aquelas em que o conhecimento é compartilhado quase exclusivamente através da oralidade, devem transformar-se em centros de aprendizagem mediados pelos avanços tecnológicos disponíveis. Nesse sentido, o advento das tecnologias convida a uma reflexão sobre a inutilidade da memorização de conteúdos curriculares durante a aprendizagem. Em lugar de exigir resultados memorísticos, a educação precisa promover um pensamento crítico e criativo, capaz de elaborar as informações para obtenção de aprendizagens relevantes.
É óbvio que a utilização das tecnologias na educação não garante a aprendizagem, pelo contrário, continua vigente e insubstituível o papel protagonista dos educadores para realizar a mediação pedagógica. Ensinar a aprender, ensinar a pensar, ensinar a buscar informações e ensinar a elaborá-las criticamente são os principais objetivos da mediação pedagógica.
Um novo paradigma educativo que se contraponha a uma visão de mundo determinada pelos princípios de linearidade, individualismo e competição, precisa contemplar a existência de interconexões entre pessoas, sociedades e culturas. Nesse sentido, é importante compreender o mundo como uma rede de relações e contribuir para que os educandos se sintam integrados e participantes no movimento relacional planetário. Para isso, a educação deve dominar mais metodologias e novas linguagens, inclusive a linguagem das tecnologias.
Sem um investimento consistente em educação e uma real valorização do trabalho que realizam os educadores será impossível alcançar uma educação de qualidade. Pensar a educação na era da tecnologia e da comunicação, principalmente durante uma pandemia, implica superar a ideia de que a interconectividade seja apenas um meio ou uma modalidade para ensinar e aprender. Imprescindíveis, além da modalidade que dá suporte à ação educativa, são os fundamentos pedagógicos intrínsecos a ela, que têm que ver com a relacionalidade humana e com o projeto de sociedade que, teimosamente, sonhamos construir e no qual desejamos viver e conviver.
Uma real integração das tecnologias à educação só será possível através de um compromisso político sério traduzido em políticas públicas. Esse é o caminho para sustentar uma formação continuada para educadores e o redesenho da prática educativa para um mundo crescentemente comunicativo e interconectado. O que pode (re)nascer desse compromisso são perspectivas educativas atualizadas e inovadoras para acompanhar a marcha da história. E os desafios de um mundo interconectado.
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