Corridas eleitorais são disputadas, normalmente, em terrenos bastante desafiadores. No caso específico das eleições no Brasil em 2022, o cenário é uma pista sinuosa e muito escorregadia para aqueles que sonham em morar no Palácio do Planalto
por Creomar de Souza em 25/11/21 15:59
Candidatos competitivos são enormes vidraças de cristal. E como tal, seus concorrentes e desafetos estão sempre aptos a arremessarem tijolos em suas direções. Se vivêssemos em tempos normais, tais eventos seriam vistos como uma atividade a ser administrada dentro das quatro linhas do marketing político. Contudo, tendo em vista que os anos vinte do século XXI são muitas coisas, menos tempos normais, torna-se importante compreender quais são os riscos que os principais proponentes ao Palácio do Planalto irão enfrentar do ponto de vista narrativo e imagético.
Inicialmente, é importante compreender que as ilações aqui construídas vão levar em consideração os quatro principais proponentes à Presidência até o presente momento. Comecemos, então, pelo atual presidente da República, que muito provavelmente será um candidato com discurso de questionamento ao processo eleitoral como um todo. Este simples elemento dá à eleição uma diferença em relação a arranjos precedentes pelo fato de que o principal ator político do jogo será ao mesmo tempo alvo de críticas e franco-atirador.
Esta dinâmica tende a empurrar o pleito para uma direção tendencialmente perigosa, em que a ideia de tumulto pode ser vista como uma estratégia de ação. Neste aspecto, os principais concorrentes do presidente Bolsonaro possuem diante de si uma série de escolhas muito difíceis. A primeira delas diz respeito à calibragem dos discursos e da transformação de agendas em mensagens que efetivamente possam dar ao eleitor a garantia de que escolher quaisquer um deles em detrimento ao atual mandatário é uma boa escolha.
Tal reflexão resguarda alguns dilemas. Sobremaneira quando se pensa em cada um dos três principais concorrentes de Bolsonaro e em como suas imagens possuem fragilidades que certamente serão exploradas dentro da lógica do tumulto e dissenso que será parte importante do pleito. Lula, Moro e Ciro, cada um a seu turno, serão continuamente fustigados e testados em seus compromissos, coerência e percepções da realidade. E neste aspecto, tendo em vista que uma parcela cada vez maior da sociedade não espera encontrar tais atributos no candidato à reeleição, paradoxalmente, os principais concorrentes serão muito mais cobrados nisto.
Em termos práticos, Lula certamente será alvo de questionamentos frequentes sobre o não ‘mea culpa’ do PT e eventuais declarações de apoio a ditadores de esquerda ao redor do globo. Ciro, de outro lado, será castigado pelos apoiadores de Lula por não ter apoiado Haddad em 2018, ao passo que a pecha de destemperado deve retornar ao centro das reflexões sobre ele. Moro, o candidato em ascensão no presente momento, por sua vez, tende a ser alvo preferencial de lulistas e bolsonaristas. Em uma lógica – ressalvadas as diferenças – que se assemelha ao esmagamento de Marina por Dilma e Aécio em 2014.
O fato é que diante de um cenário em que potencialmente estas e outras fragilidades estão em processo de mapeamento pelas campanhas citadas, abre-se espaço para uma reflexão acessória, que é a necessidade de construir falas em ambientes controlados. No contexto em que deep fakes e outros subterfúgios serão usados de maneira consistente na campanha eleitoral, caberá às estruturas de campanha entender que é virtualmente impossível impedir o espalhamento de percepções negativas sobre o candidato.
De qualquer maneira, será importantíssimo construir estratégias de contenção de danos que permitam a sobrevivência em uma conjuntura marcada por incerteza e tumulto. A percepção que se matura a cada dia é a de que o próximo ciclo de eleição presidencial se assemelhará e muito a uma corrida de Fórmula 1 com pista chuvosa, e o vencedor será aquele que conseguir manifestar ao longo das voltas a maior capacidade de se manter no trilho seco com o menor número de infortúnios.
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