Rotular os acontecimentos como bons ou ruins não define exatamente o que cada experiência é de fato
por Fabio La Selva em 20/07/21 14:29
Esses dias estava conversando com um mentorado que trouxe uma questão pessoal. Ele sentia muita ansiedade quando não tinha o controle sobre uma certa situação. No caso, ele estava vendendo seu imóvel e o provável comprador demonstrou comportamentos imprevisíveis e falta de objetividade para concluir a negociação. Isso o deixava desconfortável e inquieto.
Conversamos bastante sobre o assunto e juntos chegamos à conclusão de que não temos controle sobre as coisas externas a nós, mas sim como reagimos a elas. E que a sensação de controle que temos em certas situações é uma verdadeira ilusão. Ao abordarmos essa possibilidade, por algum motivo, me lembrei do conto do velho fazendeiro chinês.
O velho tinha um cavalo que, de repente, fugiu. Seus vizinhos o consolaram:
– Puxa! Que azar que teve!
E o velho respondeu:
– Será azar ou será sorte? Vai saber!
Os vizinhos ficaram confusos. Como seria possível, o fato de perder um cavalo, significar sorte?
Poucas horas depois, o cavalo retornou e trouxe consigo outros dois outros cavalos. O chinês que só possuía um, agora tinha três. Os vizinhos se apressaram em parabenizá-lo:
– Triplicou seus cavalos. Mas que sorte!
A resposta do velho, porém, foi a mesma:
– Será azar ou será sorte? Vai saber!
No dia seguinte, o filho do velho foi montar um dos novos cavalos e, como era um animal selvagem, acabou derrubando o rapaz, que teve sua perna quebrada. Os vizinhos lamentaram:
– Coitado, que azar!
E a resposta continuava a mesma:
– Azar? Sorte? Vai saber!
A China entrou em guerra e seu governo convocou os jovens para a batalha. Os filhos dos vizinhos foram forçados a irem arriscar suas vidas. O filho do velho, no entanto, como estava lesionado, foi poupado.
– Seu filho escapou dessa, mas que sorte.
E a resposta seguia:
– Azar? Sorte? Vai saber!
Em um primeiro momento, pensei que essa história veio à minha mente para ilustrar ao mentorado que não temos controle das coisas. E que a sensação de controle é pura ilusão, conforme concluímos juntos. Mas depois, refletindo sozinho e com calma, reparei que os ensinamentos desse conto vão muito além.
O conto também mostra que procuramos julgar e rotular tudo que ocorre à nossa volta como ‘bom’ ou ‘ruim’. Quem nunca ouviu a história do cara demitido que foi parar no fundo do poço e então se encontrou na vida? Ou a da moça que teve seu noivado rompido e entrou em uma depressão profunda, para meses depois encontrar o amor da sua vida e agradecer aos céus pelo traste do qual se livrou?
Sempre que reflito sobre essa ideia, fica cada vez mais claro que o que cabe a nós é o esforço para levar uma vida congruente com nossos valores e princípios. Em outras palavras, focar a energia nas coisas mais importantes em nossas vidas. E o que vem a acontecer no mundo externo e que independe de nossas ações, deixemos a “sorte” decidir. Por isso, se um evento pode ser considerado sorte ou azar, como no conto do velho chinês, prefiro pensar que se trata de sorte.
Deus, Destino, Universo, Acaso… Seja qual for o nome que você dá à força misteriosa que rege nossa vida, acredito que ela já tem um plano para nós. E gosto de pensar que é um plano com muita sorte.
Fabio La Selva é mentor de carreiras, co-fundador da Cortex Academy, e gerente de parcerias no Google.
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