Na avaliação do filho 01, só o ex-presidente saiu ganhando com a carta redigida por ele e boicotou chances de recuo do STF
por Juliana Braga em 18/10/21 11:30
A carta redigida pelo ex-presidente Michel Temer (MDB) e assinada pelo presidente Jair Bolsonaro após o 7 de setembro não deixou apenas a base nas redes sociais irritada. Principal estrategista político do pai, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) ficou bastante incomodado com a intervenção do emedebista na semana passada. Na avaliação de Flávio, que costurava uma solução diferente, somente Temer ganhou com o episódio e ainda atrapalhou qualquer possibilidade de recuo por parte do Supremo Tribunal Federal (STF).
Apenas dois dias após as manifestações do 7 de setembro, quando falou em descumprir ordem judicial e chamou o ministro Alexandre de Moraes de “canalha”, Bolsonaro divulgou uma carta, na qual atribuía os arroubos retóricos ao “calor do momento”. O presidente estava pressionado pela reação dura das instituições, como o STF e o Senado, e por uma ameaça de greve de caminhoneiros que já começava a comprometer o abastecimento em algumas cidades.
Nesse cenário, Bolsonaro enviou um avião a São Paulo e levou Temer a Brasília, onde conversaram por mais de quatro horas. O ex-presidente intermediou uma ligação entre o chefe do Executivo e Alexandre de Moraes, a quem tinha ofendido dias antes. E, ao final, a carta, redigida por Temer, foi publicada.
Flávio, o filho 01, o que costuma elaborar as soluções políticas, estava apostando em um outro caminho para resolver o impasse. A ideia era que o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, e o presidente da Câmara, Arthur Lira, costurassem um diálogo de forma que tanto o Executivo quanto o Judiciário levantassem bandeiras brancas. Por essa alternativa, seria escrito um manifesto também, mas assinado por ambos os lados, e com o registro de recuos dos dois lados.
O objetivo era ter sinalizações concretas, até com relação a investigações contra a família e seus aliados. Flávio acreditava que, dessa maneira, seria viável tirar o STF do encalço e ainda apaziguar a crise, diminuindo o ímpeto pelo embate do pai. Era um caminho mais difícil, mas, ao menos, o Planalto teria algo para sinalizar para a base.
A intervenção de Temer, avaliou Flávio a interlocutores, só serviu para ele próprio faturar. O ex-presidente saiu como o pacificador, deu entrevistas e capitalizou a momentânea retomada de popularidade nas redes sociais. Enquanto isso, os aliados de Bolsonaro tiveram de apagar incêndios nas redes sociais, acalmar a base mais radical, e construir um discurso pedindo a confiança no mandatário. E mais: o STF não precisou sair do lugar, nem fazer sinalização alguma.
Dias depois, o vazamento de um vídeo no qual Temer aparece às gargalhadas em uma mesa com desafetos de Bolsonaro, rindo de Bolsonaro, deixou Flávio ainda mais irritado. Em um jantar, o humorista André Marinho foi flagrado fazendo uma imitação caricata do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), falando sobre a carta. O vídeo, gravado pelo marqueteiro de Temer, Elsinho Mouco, viralizou na internet.
Entre risadas e palmas, é possível identificar no vídeo a lista de presença, composta por: Paulo Marinho, empresário; Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD; Johnny Saad, presidente do Grupo Bandeirantes; Roberto D’Ávila, jornalista, apresentador e diretor da GloboNews; Antônio Carlos Pereira, editorialista do jornal O Estado de S.Paulo; Naji Nahas, empresário e investidor; Raul Cutait, cirurgião do hospital Sírio-Libanês; José Yunes, advogado e amigo pessoal de Temer; José Rogério Tucci, advogado – além dos já citados Michel Temer e André Marinho.
Flávio se incomodou com o que pareceu uma chacota com o pai. O episódio o deixou ainda mais insatisfeito com toda a situação.
André Marinho, quem faz a imitação, é filho do empresário Paulo Marinho, que se elegeu como suplente de Flávio. Paulo participou ativamente da campanha e chegou a ceder a sua casa como um bunker para as atividades. Logo no início do governo, no entanto, os dois se desentenderam e Paulo Marinho rompeu com o governo. Meses depois, filiou-se ao PSDB, a convite do governador de São Paulo, João Doria, desafeto declarado da família.
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