Colunistas

Precisamos falar sobre o jornalismo independente

Ao contrário do que se pensa inicialmente, o jornalismo independente, feito com cuidado, precisão e credibilidade, pode ser rentável sim

Em 15/01/21 14:37
por Mara Luquet

Jornalista, fundadora e CEO do canal MyNews, considerado pelo Google referência mundial em jornalismo no YouTube. Foi colunista de finanças pessoais da TV Globo e CBN, editora do Valor Econômico e criadora do caderno Folhainvest, da Folha de S.Paulo.

Estava participando de uma vídeo conferência com jornalistas de primeiríssima linha quando ouvi a velha cantilena: “É difícil encontrar investidores para canais de jornalismo porque não são rentáveis. Quem investe em jornalismo tem outra motivação que não a financeira.” Não foram exatamente estas as palavras usadas pelo meu colega, mas elas traduzem um pensamento muito comum entre os profissionais de imprensa. Na hora, pensei: precisamos reagir e começar a tratar o jornalismo como um negócio.

O jornalismo independente, feito com cuidado, precisão e credibilidade, pode ser rentável sim.

As novas tecnologias de informática têm se mostrado aliadas dos jornalistas, ao contrário do temor inicial de que elas chegaram para destruir nossa profissão.

As novas ferramentas tecnológicas e a internet possibilitaram o florescimento de vários projetos de jornalismo independente. Ao lado das fintechs, das healthtechs, das bigtechs, enfim, de tantas empresas de diferentes áreas que se beneficiaram com as novas tecnologias, estão as newstechs. Nós acreditamos muito nessa nova área do jornalismo profissional e não estamos sós.

Novas tecnologias têm sido benéficas ao jornalismo e o ajudam a se reinventar
Novas tecnologias têm sido benéficas ao jornalismo e o ajudam a se reinventar.
(Foto: David Schwarzenberg/ Pixabay)

Há cerca de dois anos, conheci o Mediapart, um canal francês criado por jornalistas que deixaram a redação do Le Monde para empreender no meio digital. Contaram com aporte inicial de investidores e, passados três anos, a operação já apresentava lucro. Hoje, depois de uma década de resultados crescentes, chegou a um lucro líquido de mais de 2 milhões de euros. Os investidores iniciais do Mediapart venderam suas participações depois de cinco anos com retorno de 20% ao ano em euros! Você encontra aqui uma entrevista com o fundador do Mediapart, Edwy Plenel.

Num mundo de taxas de juro negativas, não falta oferta de dinheiro para projetos que remunerem melhor o capital. No Brasil, onde a taxa básica de juro ronda os 2% anuais, não é diferente.

Investidores brasileiros, mal-acostumados com retornos de dois dígitos em aplicações no mercado financeiro, estão atrás de bons negócios. Por que não investir em uma empresa jornalística como fizeram investidores europeus no Mediapart?

Aqui, já há diversas experiências bem-sucedidas, mas que ainda se encontram no começo da jornada. Para darem saltos, vão precisar de mais aportes de investidores. E não vejo nada de errado nisso. Acordos de acionistas bem elaborados são escudos eficientes para manter a independência editorial, impedindo a interferência dos investidores.

Mas, para sermos bem sucedidos, precisamos desmitificar esse pensamento arraigado de que o jornalismo não pode ser uma atividade rentável. Esta é uma barreira ao jornalismo independente que deve ser vencida de uma vez por todas.

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