Embora o segmento “FemTech” seja pequeno, é grande seu potencial de crescimento
por Natália Fernandes em 24/06/21 21:53
A saúde da mulher ainda é um universo com poucas respostas. Embora sejamos aproximadamente metade da população do planeta, existem poucas empresas de tecnologia que atendem às nossas necessidades específicas.
Antes disso, uma nota de esclarecimento, estou concentrando as informações quase exclusivamente em mulheres cisgênero, o que não exclui o fato de que mulheres e homens trans também precisam ter voz nesse tema que atinge a sociedade como um todo.
Em 1977, os Estados Unidos baniram completamente a participação de mulheres com potencial para engravidar em ensaios clínicos após a tragédia com o uso da talidomida em diversos países. O medicamento utilizado contra enjoos em grávidas trouxe diversos efeitos negativos para milhares de vidas (mães e fetos) por anos.
Mas o que é uma mulher com potencial para engravidar? Usando uma explicação mais específica, é uma mulher pós-puberdade e pré-menopausa, o que abrange uma parte significativa deste grupo.
Com isso, no intuito de proteger a saúde, o corpo feminino passou a ser excluído de ensaios clínicos, fazendo com que dezenas de medicamentos que chegaram ao mercado tivessem pouca ou nenhuma visibilidade sobre seu impacto na saúde das mulheres.
Com isso, nós ficamos marginalizadas e, embora nos últimos anos a representação de gênero nos ensaios clínicos tenha se tornado mais igualitária e ganhos tenham sido feitos no campo da saúde da mulher, ainda temos progresso a fazer.
A indústria femtech – formada por empresas de tecnologia focadas nas necessidades biológicas de mulheres – multiplicou seu leque de serviços nos últimos anos, indo de monitoramento da menstruação e fertilidade à soluções para amamentação, menopausa e diagnóstico de doenças graves, como o câncer.
Eu mesma já fiz uso de diversas destas tecnologias para acompanhar o meu ciclo menstrual, e acho interessante ter a possibilidade de ter um registro das informações que incluo nestes aplicativos como forma de compreender a longo prazo como meu corpo se comporta.
Há também uma vertente da femtech conhecida como “menotech” que busca melhorar o estilo de vida das mulheres enquanto elas passam pela menopausa, fornecendo acesso à telemedicina e informações e dados que podem ser imprescindíveis neste processo.
Ou ainda, um dispositivo portátil quase do tamanho de um celular, que pode realizar uma fotografia do colo do útero a um metro de distância e ajudar no diagnóstico do câncer cervical, a quarta causa mais comum de câncer entre as mulheres em todo o mundo, de acordo com a OMS, Organização Mundial de Saúde.
Quando vemos notícias como estas, compreendemos o abismo que existe em realidades que não têm vozes e corpos ativos de mulheres na concepção de soluções voltadas para as próprias mulheres.
Um exemplo simplista, mas que ganhou a atenção do mundo, foi a notícia de uma startup formada por três homens alemães que desenvolveram luvas rosas, a “Pink Glove”, para que mulheres pudessem tirar seus absorventes usados. “Resolvia-se” assim um problema feminino que não existe. Quando isso aconteceu? Pasme: 2021.
Não há dúvidas: nossos corpos femininos são únicos e nossos problemas de saúde também. Por isso, a representatividade das mulheres em ensaios clínicos, pesquisas e geração de tecnologia e conhecimento que atenda nossas necessidades é imprescindível para darmos aos nossos corpos e vidas condições igualitárias de acesso e sucesso na sociedade.
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