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No Leblon, “você não precisa se preocupar com o caveirão”, diz professor da FGV

Doutor em direito público destaca que a morte de Kathlen Romeu mostra como as mortes violentas têm CEP e cor

por Luciana Tortorello em 10/06/21 18:24

“A gente não pode fingir que as mortes acontecem de maneira igualitária no Brasil”. É assim que o advogado, doutor em direito público e professor da FGV-RJ Wallace Corbo avalia o que acontece o país. Em entrevista ao MyNews, ele comentou sobre o caso de Kathlen Romeu, que foi assassinada na última terça-feira (8), em uma ação policial no complexo do Lins, no Rio de Janeiro. Kathlen havia se formado em design de interiores e estava grávida de 4 meses e visitava sua avó.

A Farm, loja em que ela trabalhava, publicou uma ação no Instagram em que compartilhava o código de vendedora de Kathlen e afirmava que os lucros da venda de peças de roupas seriam revertidos para a família da jovem. Diante da repercussão negativa, a Farm apagou a publicação.

“A marca, deliberadamente ou não, acabou usando a morte de uma pessoa, de uma violência, de uma morte violenta de uma funcionária negra no contexto que é um contexto de racismo estrutural no Rio de Janeiro, para lucrar, tenha sido essa a vontade ou não, essa é a percepção que foi passada. A medida é problemática sobre várias perspectivas e a marca demorou inclusive a reparar esse erro, que foi apontado muito rapidamente e só foi corrigido horas depois, quando talvez a marca tivesse até obtido algum tipo de lucro, de compensação financeira pelo pela campanha totalmente equivocada”, avalia Corbo.

O doutor em direito público pontua que há dois fatores que se cruzam: o racismo estrutural aliado à violência contra negros e também a falta de responsabilidade racial e social das empresas.

“A questão é a segurança pública no Rio de Janeiro que tem matado reiteradamente pessoas negras, sejam elas cidadãos ou sejam elas policiais. Existe um problema no Rio de Janeiro, a forma como a polícia e a segurança pública reforçam esse cenário de negação de direitos para pessoas negras. Existe um segundo problema que envolve a própria marca: a postura da marca. E aí é importante a gente entender que além das medidas que aconteçam em especial e se começar a reconhecer a responsabilidade social que as empresas devem ter diante desse cenário”, argumenta o professor de direito.

O advogado ainda coloca que é preciso que a sociedade cobre das empresas ações responsáveis e reparatórias. Ele dá como exemplo o que está acontecendo nos Estados Unidos, que já tem uma atuação maior em relação ao racismo estrutural e que temos um longo caminho a seguir.

“Infelizmente a gente não pode fingir que as mortes acontecem de maneira igualitária no Brasil, como se todo mundo fosse efetivamente alvo de um tiro da polícia ou um tiro de um criminoso. A verdade é que os dados no Brasil a cada cinco pessoas mortas, quatro são jovens negros, em geral homens. A gente não pode fingir que as nossas polícias ou mesmo o crime, ele está matando pessoas no Brasil, quem são essas pessoas que estão morrendo? Elas infelizmente tem raça, elas sempre tem CEP”.

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