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Eleições e violência

A dura tarefa de oferecer a outra face

Estamos nos aproximando mais do abismo. A morte do guarda municipal Marcelo Arruda é o prenúncio dos tempos violentos que virão por aí.

por Edilson Luiz em 14/07/22 10:15

A cada dia estamos nos aproximando mais do abismo. A morte do guarda municipal Marcelo Arruda do sábado para o domingo último (10/07) é o prenúncio dos tempos violentos que virão por aí. Entramos numa quadra que o diálogo com o diferente é algo impossível, então a saída para a resolução do dilema é a violência.

Hoje a extrema direita que almeja o poder tenta nos sufocar de todas as maneiras. Com argumentos contraditórios, fazem aquilo que acusam os adversários de fazer. Nesse crime ocorrido em Foz de Iguaçu fica óbvio como os defensores da liberdade de expressão lidam com a liberdade de expressão de outrem. Dependendo desses ditos “liberais” teremos a liberdade de seguirmos de acordo com a vontade deles. Mas isso já era esperado, pois afinal elegemos alguém com total compromisso com a violência.

A culpa é do Bolsonaro? Em parte podemos dizer que sim, mas colocar nos ombros dele toda responsabilidade é tapar o sol com a peneira. Hoje a maior ameaça à paz nacional é a dúvida criada sobre o processo eleitoral. Dúvida que principiou ainda logo após o presidente assumir o poder. Garantiu ter provas de fraude, que se elegera no primeiro turno, e outras pataquadas do mesmo quilate. E nesse ponto nos questionamos: onde estava o TSE que não tomou as providências pertinentes naquele momento? O brasileiro tem fama de deixar tudo para o último dia, e algo semelhante aconteceu às nossas instituições democráticas, que se limitaram a notas de repúdio e discursos vazios.

Sou um admirador de Cristo sem ser cristão. Abro mão de qualquer religião para evitar ser contaminado por seus preconceitos. Limito-me a tentar seguir seus preceitos, e um dos maiores de todos os mandamentos deixados pelo Homem de Nazaré, e na minha opinião o mais complicado, é o de ofertar a outra face. E no momento em que vivemos esta é a principal orientação a que deveríamos seguir.

Desde 2018, quando vi a candidatura de Jair Bolsonaro decolando, estou um tanto paranoico. Devem compreender que quem admira ditaduras sonha em ser ditador. Preocupação esta que foi desdenhada não só por pessoas próximas, mas também por grande parte dos operadores da mídia. O argumento era que “as instituições controlariam” o impulso autoritário do então candidato. Tola ilusão! Quem é guiado pela estupidez jamais aceitará os termos acordados por uma sociedade racional.

Quem surfou na onda Bolsonaro, conhecendo-o de perto, talvez imaginasse que alguém sem brilho e capacidade pudesse ser controlado. Ele se elegeria falando a bobagem que quisesse, e no poder condicionariam suas decisões ao bom senso da direita liberal que ganhava um representante no Palácio do Planalto.

A segunda força a conduzir um arremedo de ditador ao maior cargo do país foram os lavajatistas. Estes acreditavam num sujeito, comprometido com esquemas de rachadinha, de ser um paladino no combate da corrupção. Sergio Moro, personagem principal da operação, aceitou ser ministro, mas logo nos primeiros meses perdeu o COAF, que em sua opinião era a principal ferramenta para prender corrupto. Assim como um dos filhos do presidente estava na alça de mira da justiça, as investigações foram suspensas e os corruptos a cada dia foram ganhando mais liberdade de agir a seu bel-prazer.

Em terceiro lugar, mas não menos importante, na ajuda da eleição de Bolsonaro foram os anti-petistas. Gente que votou em Dilma Roussef, mas escandalizados pelos seguidos escândalos de corrupção, optaram por alguém com trinta anos sem frutos na política que se dizia novidade.

Agora vem a pergunta: toda essa gente aprova a violência perpetrada por um bolsonarista em Foz de Iguaçu? Estas pessoas adotariam comportamento semelhante caso contrariados em suas preferências políticas? Arrisco a dizer que não, pois apesar dos altos índices de criminalidade, nosso povo é pacífico.

Ao atual governo interessa esse clima belicoso, pois pode ser uma das alternativas para se manter no poder. Havendo conflito entre tendências políticas opostas, há o álibi de colocar o Exército na jogada para garantir a “segurança” das eleições, e quem sabe declarar o adiamento do pleito por motivo de força maior. Essa possibilidade é factível e já pode estar sendo conjecturada nos lugares esconsos de Brasília.

Tendo isso em vista, não podemos nos deixar emaranhar nessa ânsia de violência. Seja no embate presencial, ou nas trocas de farpas em redes sociais, temos de colocar a gentileza à frente dos nossos impulsos mais primitivos. Não há necessidade de respondermos no mesmo tom de quem só tem como argumento a agressividade. Dar a outra face é exigir mais de qualquer eleitor, eu próprio não suporto ficar calado diante da estupidez, mas diante do primeiro sinal de que o debate vai descambar, viro as costas e vou pra casa. Conselho que espero que seja seguido por todos os democratas, independente do candidato que vai escolher em 2 de outubro.

TSE, Congresso Nacional, Ministério Público e parte da Policia Federal que se deixou dominar pelo presidente, não cumpriram seu papel na defesa da democracia. Então cabe ao povo pacífico nos defender de um possível Estado autoritário. Essa defesa não deve ser feita a partir do embate com quem defende uma criatura sem empatia e amor ao próximo, mas buscando a paz. Evitando confrontos que sempre são desnecessários, sem dar oportunidade dos violentos exercerem seu poder de fato. É uma disputa de vida ou de morte. E creio que as pessoas verdadeiramente de bem querem viver.

*Edilson Luiz é escritor, autor do Romance Pedro Feroz, publicado pela Editora Kazuá

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