Um presidente de poucas palavras, de nenhuma ética, de pouca empatia, de pouca inteligência, de nenhuma bondade e de nenhum amor ao próximo.
por Conrado Micke Moreno em 08/04/22 11:41
Ilustração: Conrado Micke Moreno (Membro MyNews)
Todos nós já conhecemos pessoas que falam pouco. Certamente a maioria dos leitores já ficou em uma situação constrangedora que é o silêncio estrondoso entre o fim de um assunto e o começo de outro. Em algumas situações isso é bem embaraçoso. O assunto se esgota e vem o silêncio. Em seguida vem um “então tá, a gente se fala…”.
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Assisti ao programa do Jô Soares certa vez em que ele entrevistava o grande escritor Luiz Fernando Veríssimo, um homem repleto de palavras. Estava ansioso para assistir a essa entrevista pelas qualidades óbvias do entrevistado. Mas na hora H o homem não falava. Um ser “inintrevistável”, como diria o ministro Magri, o pior pesadelo de qualquer entrevistador, que precisa de alguma forma de vida e atividade cerebral na forma de resposta do entrevistado para dar continuidade à conversa. Foi constrangedor.
Na política, especialmente na presidência da república, tivemos no período da redemocratização, personagens diferentes em termos de fala. Começamos esperançosos com um mineiro. Eleito indiretamente, ele media as palavras e acertava acordos aqui e ali, falando ao pé do ouvido e assim foi conquistando o povo com seu jeito mineiro de ser. Até porque seu adversário era um homem que falava mal e tinha a fama de quem roubava, mas fazia. Mas roubava. Além de ser o candidato dos militares, que pouco falavam e mandavam calar quem falava demais.
Mas, esse mineiro resolveu morrer antes da posse e deixou em seu lugar um bigodudo que usava as palavras escritas para falar de “Marimbondos de fogo”. Até hoje eu não sei se os tais marimbondos estavam bêbados ou se sua picada doía como fogo. Mas vou continuar sem saber e sem perder meu tempo com isso.
No pós-bigodudo que deixou o país no caos, tivemos o homem do saco roxo. Grande falador, com fama, inventada por uma emissora de TV carioca, de caçador de marajás. Falava muito. Falava nas rádios, nas TVs, fazia e acontecia. Até que seu irmão falou o que não devia e ele acabou perdendo o direito ao microfone por um bom tempo. Seu vice entrou em seu lugar, outro mineiro que ressuscitou o fusca e que gostava de andar com mulheres que se deixavam fotografar sem calcinha, em ângulos propícios.
Mas, tirando esse fato, foi um mineiro que teve a coragem de colocar como ministro da economia um sociólogo que montou uma equipe que acabou com a inflação e colocou o Brasil, finalmente, no caminho do progresso. Tal foi o sucesso desse ministro que ele foi eleito presidente. Esse falava bem, inclusive em inglês.
Falou coisas boas e coisas que não devia, falou com o Papa, com reis e rainhas, com presidentes de outras nações e nos tirou do canto insignificante em que vivíamos, nos colocando na vitrine do mundo. Evoluímos tanto que nos sentimos seguros de entregar o leme a um trabalhador de origem humilde e nordestina, que aprendeu as falar nos microfones das assembleias de sindicatos, nos comícios contra a ditadura, nas manifestações de greve dos professores, dos bancários, dos metalúrgicos e de todas as categorias injustiçadas do nosso país. Esse homem nasceu sem medo de falar e sem medo dos microfones.
Desde cedo ele aprendeu que para ter o poder é necessário ser amigo do microfone. Ele não se importava com sua língua presa e aprendeu a suavizar o tom de sua fala para dizer o que o povo, na época, queria ouvir. Foi bem. Houve percalços e em um certo episódio que ficou conhecido como “mensalão” que ocorreu durante seu governo, vários de seus ministros e assessores foram defenestrados e condenados, mas ele falou que não sabia de nada. Mesmo assim, como a economia do mundo crescia, ele foi reeleito.
Para ficar em seu lugar resolveu indicar para o seu lugar uma pessoa que não lidava bem com as palavras. Uma mulher que não conseguiu cair nas graças do povo nem dos políticos do congresso e que usava o verbo para falar de culto à mandioca e nova matriz econômica. Apesar de ser reeleita, perdeu a voz e deixou em seu lugar o vice que falou demais em uma gravação telefônica com o dono do maior açougue do mundo. Não, ele não estava pedindo para continuar a entrega de carne, mas de dinheiro.
Por fim, após essa ave de rapina que até conseguiu ressuscitar o país que estava moribundo, chegou a nossa cereja do bolo, o homem de poucas palavras. Não, ele não é de falar pouco, ou tímido. Pelo contrário, ele adora falar. Besteiras! O que ele tem é um vocabulário reduzido mesmo. Alguns estimam em quinhentas as palavras que ele conhece, outros em trezentas, mas são realmente poucas.
Quando ele resolve desfiar seu pobre e chulo vocabulário algum desastre acontece, os investidores se retraem, o dólar sobe, a bolsa cai… Durante a pandemia falou como se fosse um médico, cientista e especialista, recomendando o uso de hidroxicloroquina para tratar a Covid-19, contrariando a ciência.
Falou que vacina transformaria as pessoas em jacarés e que o brasileiro é cheio de mimimi. Falou muita coisa, errada. E seguiu falando. Em alguns momentos ele não falava, xingava, principalmente quando perguntado sobre um tal cheque depositado na conta de sua esposa ou mesmo quando perguntado sobre uma tal de “rachadinha”.
Falou em eventos internacionais, mas falou de um país que apenas ele vê. Em outro não conseguiu falar com nenhum chefe de estado e isolado acabou tentando falar com o garçom, mas este não falava sua língua. Recentemente em visita a Vladimir Putin, nosso intelectual às avessas disse que o Brasil era solidário à Rússia.
Notemos que a palavra solidário não faz parte do seu vocabulário usual e que ele não sabe o que realmente ela significa, afinal ele não foi solidário às vítimas de Brumadinho, não foi solidário às seiscentas e sessenta mil vítimas da Covid e aos seus familiares, não foi solidário à mãe do ator Paulo Gustavo, não foi solidário ao grande cantor brasileiro João Gilberto, que elevou muito mais o nome do Brasil com sua arte, não foi solidário com o povo baiano nas enchentes desse ano, não foi e não será solidário com ninguém que sofra.
Ele não sabe o que significa essa palavra. Seu vocabulário é de poucas palavras. Esse é o pior presidente, o mais limitado e cruel em toda a nossa história. Além de outros adjetivos negativos que poderia colocar aqui. Digo dessa maneira para manter um certo decoro no meu texto.
Ele é o verdadeiro homem de poucas palavras, de nenhuma ética, de pouca empatia, de pouca inteligência, de nenhuma bondade, de nenhum amor ao próximo. Mas fala que é cristão. E o pior é que existem pessoas que acreditam no que ele fala e ainda votam nele.
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