Creomar de Souza

Por uma luz no fim do Túnel

Faz sentido pensar um Brasil que há muito deixou cair a máscara de uma democracia racial, de um país que se considera modelo de tolerância e que oferece, pela chamada meritocracia, oportunidades a todos seus filhos que trabalham e lutam?

por Creomar de Souza em 07/07/21 21:51

A sensação crescente é de que estamos à deriva. E, exatamente, por isto, este texto não quer tratar de um fato específico da deprimente realidade que nos cerca. Esses fatos, sejam eles políticos, sociais ou econômicos, são conhecidos, e apesar das tentativas, cada vez mais infrutíferas, de distorcer a realidade por meio de fake news nas redes sociais e grupos de WhatsApp, esta se impõe a cada minuto como uma parede intransponível.

Diante desta constatação, portanto, aqui se propõe um exercício distinto. Será exercitada a negação de repetir os lamentos em forma de mantra, ao mesmo tempo em que se buscarão os elementos que apontem uma saída, uma luz no fim do túnel. E nesta jornada, a primeira pergunta a ser feita é se tal exercício vale a pena diante de tanta desilusão, vidas perdidas e retrocessos civilizatórios. Faz sentido pensar um Brasil que há muito deixou cair a máscara de uma democracia racial, de um país que se considera modelo de tolerância e que oferece, pela chamada meritocracia, oportunidades a todos seus filhos que trabalham e lutam?

O mito desfeito, que colocou o gigante nu diante dos seus filhos e pares no mundo, nos tira o chão. E isto posto, a nossa identidade como Nação e a imagem que tínhamos como visão coletiva de país contrastam com o espelho da concretude, onde vemos refletida uma figura muito diferente, em que prevalece a indiferença, a intolerância e a mesquinharia. Um lugar onde a corrupção faz escola e laivos autoritários de corporativismos de ocasião contaminam a sociabilidade e a política.

Nesse contexto, vale a pena insistir na construção de um país mais próximo da imagem idealizada ou a melhor saída é o aeroporto? Caso a escolha seja pela montagem de um paraíso na terra, o país do futuro de que falava Stefan Zweig, é bom que a aspiração sirva de estímulo, e não de comodismo e inação. É bom que queiramos ser uma sociedade próspera, justa, democrática, mas é ainda mais importante ter consciência da distância a ser vencida para atingir esse ideal. Fundamental também saber que esse destino não está assegurado, nem de longe.

Findado o diagnóstico, é possível dar o primeiro passo na construção de um caminho a ser percorrido. E a partir disto, não é difícil imaginar o quão árduo será o processo de pavimentação desta estrada, uma empreitada que precisa ser coletiva, com a participação das forças vivas da sociedade e seus diversos segmentos. O principal desafio será aprender de fato a respeitar diferenças que nos enriquecem para encontrar um mínimo denominador comum que permita reconstruir um país hoje em frangalhos. Afinal essa construção deve ser obra coletiva e não uma delegação para entes pseudo-iluminados.

Considerando que você quer ser parte desta tarefa, e que há um consenso mínimo sobre as escolhas, pontua-se que isto só fará sentido se for assentado sobre o Estado de Direito, a democracia e a liberdade. E este tripé obriga a que as instituições sejam remodeladas para serem um veículo da aplicação da Constituição e não meras engrenagens das lides partidárias e ideológicas ou de trambiques inconfessáveis. O pacto pela democracia, pelo respeito aos direitos humanos e pela retomada de valores civilizatórios deve ser acompanhado do desenho de políticas públicas efetivas, baseadas em evidências e voltadas a resultados.

Em suma, o processo de recuperar e fortalecer não apenas o compromisso com a democracia, a tolerância e políticas racionais devidamente planejadas e meticulosamente executadas, mas também iniciar a pavimentação dessa longa estrada com os valores da empatia, da ética, da fraternidade e do humanismo. O desafio que se coloca é um verdadeiro resgate moral e racional que o país necessita desesperadamente, para que aquela luz no fim do túnel comece a ser visível lá ao longe. Estaremos à altura desse desafio? Ou sucumbiremos diante da polarização estéril e da inércia dessa nau desgovernada?

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