Parlamento australiano adotou lei que obriga empresas a pagarem pela publicação de conteúdos noticiosos
por Natália Fernandes em 26/02/21 08:50
O uso das notícias passará a ser cobrado das gigantes de tecnologia na Austrália. A decisão, firmada nesta quarta-feira (24) pelo parlamento, retoma a discussão antiga trazida em diversos países: afinal, os produtores de conteúdo deveriam ser remunerados por notícias que aparecem nas plataformas de empresas como Facebook e Google?
A decisão estabelece um precedente global na regulamentação das relações existentes entre as partes e pode ecoar em locais que já levantam esta bandeira. Vamos compreender melhor esta questão com três pontos importantes:
A remuneração dos veículos de notícia ocorre de diversas formas, uma das mais comuns na relação com as big tech é a disponibilização de espaços para publicidade ao longo do conteúdo.
Você já está acostumado, são os anúncios que aparecem quando navegamos pelos sites.
Desta forma, marcas que estejam dispostas podem pagar para ter exposição ali. Quanto maior for o volume de acessos às páginas, mais o veículo poderá lucrar.
A remuneração ao veículo de notícia ocorre quando você acessa o site, neste tipo de monetização.
Então, se ao navegar no seu feed de notícias de uma rede social você apenas ler o título da notícia e a imagem ou até um trecho do conteúdo sem acessar o site, a remuneração não necessariamente acontece para o veículo, porque você não precisou acessar o site.
Com o Google a dinâmica é semelhante. Ao tentar responder as perguntas dos usuários complementando a parte superior do resultado de busca com imagens e textos frequentemente extraídos de sites, ele torna menos necessário que os usuários cliquem em um link. Com isso, o produtor de conteúdo deixa de ser remunerado porque, novamente, o site não foi acessado.
No exemplo abaixo, você não precisa acessar o site para ver as dicas sobre como declarar o imposto de renda. Se o site usa publicidade para ser remunerado pelo Google, ele não será neste caso.
Enquanto isso, as empresas podem monetizar a atenção e o engajamento gerado pelo acesso com seus próprios anúncios e outros produtos.
Os veículos de comunicação entendem que manchetes, imagens e trechos do conteúdo são frutos do seu trabalho e que ao serem exibidos, devem ser remunerados. As leis sobre o tema variam de acordo com cada país, mas nos EUA estes trechos só podem ser exibidos mediante uma taxa de licenciamento pela lei de direitos autorais.
Já as empresas de tecnologia como Google e Facebook declaram que ajudam os produtores trazendo tráfego ao site por divulgarem seus conteúdos, dando relevância que dificilmente alcançariam sem suas tecnologias.
Há claramente um desequilíbrio de forças uma vez que as empresas de tecnologia possuem papel imprescindível na distribuição de conteúdo das notícias e ganho de relevância destes produtores.
E o meio do caminho e postura diplomática parece ser o melhor sinal para avançar de forma equilibrada. Enquanto o Facebook bloqueou por dias o compartilhamento de notícias na Austrália em resposta ao parlamento australiano, o Google fez um acordo global com a News Corp, controladora do The Wall Street Journal, para licenciar o seu conteúdo e lançou sua plataforma de publicação de notícias em que paga empresas de jornalismo.
Ambas possuem iniciativas incríveis para fortalecimento dos canais de notícias, como por exemplo o Google News Initiative ou Facebook Journalism Project. E esta sim é a resposta necessária: busca por crescimento conjunto que leve a um futuro mais sustentável para o ambiente digital e democratização da informação.
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