Sleeping Giants Brasil surgiu do incômodo com as fake news e discursos de ódio, dizem fundadores

Um casal de 22 anos que vive em Ponta Grossa (PR) é a dupla por trás do movimento Sleeping Giants Brasil. Os estudantes de Direito Mayara Stelle e Leonardo de Carvalho Leal se revelaram ao grande público a partir de uma entrevista concedida à jornalista Mônica Bergamo para o jornal Folha de S.Paulo, no último domingo (13)

Em entrevista ao Almoço do MyNews desta segunda-feira (14), o casal contou que a ideia de criar uma versão brasileira do Sleeping Giants veio depois de ler uma matéria publicada em 18 de maio passado no site El País Brasil sobre movimento. E viram nele uma forma de reagir ao conteúdo tóxico propagado em redes sociais por determinados sites.

“O Sleepng Giants Brasil surgiu de um incômodo nosso com as fake news e com os discursos de ódio espalhados pelo país”, resume Mayara.

O Sleeping Giants, um movimento de consumidores que surgiu nos Estados Unidos, consiste em avisar empresas quando seus anúncios vão parar em locais que divulgam notícias falsas. Estima-se que sites brasileiros já perderam em torno de R$ 1,5 milhão em anúncios que deixaram de ser veiculados, fruto das chamadas “campanhas de desmonetização”.

Para tocar o perfil do Sleeping Giants Brasil tanto Mayara quanto Leonardo partem da experiência que possuem com redes sociais: ela fazia uso para vender cosméticos, enquanto ele já havia administrado páginas de times de futebol.

Mayara conta que até o momento o Sleeping Giants Brasil não conta com qualquer tipo de apoio financeiro, mas que com a saída do anonimato a dupla estuda lançar um programa de crowdfunding (financiamento coletivo) para estruturar o projeto.

“Nesse momento nós pagamos nossos boletos com a ajuda do auxílio emergencial e voltei com a minha loja de maquiagens”, completa Mayara.

Saída do anonimato

O primeiro site alvo de desmonetização por parte do Sleeping Giants Brasil foi o Jornal da Cidade Online, pelo grande número de acesso e por informações falsas relacionadas à Covid-19 e à pandemia.

Foi também esse primeiro alvo que levou Mayara e Leonardo a saírem do anonimato. Isso porque o Jornal da Cidade conseguiu uma ação judicial que obrigou o Twitter a entregar os dados dos fundadores do Sleeping Giants Brasil. O argumento usado foi que o movimento estava prejudicando o jornalismo praticado pelo veículo alvo da ação.

“A partir do momento que nossos dados foram entregues a um propagador de fake news, achamos que era justo revelar quem éramos aos nossos seguidores”, explicou Leonardo.

Ele também afirmou que o Sleeping Giants está preparado para lidar com ameaças que chegam via internet e com possíveis ações judiciais. Uma rede de advogados está oferecendo assistência pro bono [gratuita] ao casal.

“Nosso trabalho não fere nenhum direito, não é ilegal. E estamos trabalhando para tornar o ambiente cibernético mais democrático. Queremos que a internet seja saudável”, comenta o estudante de Direito.

Direita ou esquerda?

Mayara e Leonardo também foram questionados sobre uma possível orientação política do Sleeping Giants, uma vez que os alvos das ações de desmonetização são sites alinhados com a extrema direita.

“O Sleeping [Giants] não olha se um site é de direita ou de esquerda. Infelizmente a desinformação e o ódio estão presentes em todos os espectros políticos e temos plena noção disso. Mas sabemos que o alcance hoje em dia é uma coisa bem preocupante e atualmente a extrema-direita tem mais alcance. Nosso principal alvo é o ódio e a desinformação”, explicou Mayara.

“É muito ressaltar que não diz o que é verdade e o que é mentira. Usamos o trabalho que já é feito pela imprensa, pela academia e pelo Judiciário. A gente nunca vai fazer o que o pessoal chama de ‘tribunal do cancelamento’”, completou Leonardo.