Pressões sobre CPMI para preservar oficiais revelam um recuo no compromisso de despolitizar quartéis.
Em 29/08/23 09:54
por Política com Bosco
João Bosco Rabello traz uma bagagem acumulada em mais de 45 anos de profissão, em grandes veículos nacionais como O Globo e O Estado de S.Paulo. Sua coluna, agora no MyNews, traz insights valiosos e análises aprofundadas do cenário político direto de Brasília para os leitores.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Ou nunca foi para valer, ou houve uma inflexão na retórica do comandante do Exército, general Tomás Paiva, desde que assumiu a função com postura legalista e compromisso com a punição dos militares envolvidos no enredo golpista.
O discurso do general, imediatamente anterior à sua posse, combinado com a nomeação de José Múcio Monteiro, parecia encerrar uma dúvida polêmica – se o momento pedia mais ordem unida que diplomacia, ou vice-versa, prevalecendo esta última como uma escolha pessoal do presidente Lula.
Com a CPMI orientada pelas investigações oficiais, depoimentos e quebras de sigilos requeridos pela base governista começaram a esbarrar na pressão do comandante Tomás, análoga ao bloqueio de tanques com a qual o Exército impediu o desmonte do acampamento à frente de seu QG, pela Polícia Militar do Distrito Federal.
A pretexto de preservar a imagem da instituição, o general de discurso legalista mostra que na prática tem dificuldades com a teoria, posta a serviço de uma diplomacia de ocasião que pretende consolidar agora, quem sabe investindo numa anistia a generais.
De fato, o Exército indica ter operado com o fator tempo, estratégia clássica, mas sempre eficiente, para preservar mais que a instituição – os intocáveis integrantes da família militar. Quando quis, ao longo da história, as Forças Armadas sempre souberam aplicar a seu modo o marketing do braço forte e mão amiga.
Não há razão politicamente honesta para se impedir a convocação do ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira, empenhado claramente em disseminar a suspeita sobre o sistema eleitoral brasileiro durante o exercício do cargo. Chegou a receber o hacker Walter Delgatti para esse objetivo, razão pertinente pela qual a CPMI quer ouvi-lo.
Nogueira parece ser o limite riscado no chão como fronteira intransponível para as investigações – pelo menos, as da CPMI. Afinal sua condição de ministro da Defesa foi precedida pela de comandante do Exército, posto ao qual chegou com a demissão do general Fernando Azevedo, defenestrado por não se alinhar à trama de Jair Bolsonaro. E, agora, ocupado Por Tomás Paiva.
A preocupação com a defesa da instituição é mero pretexto, impulsionado pelo temor do aprofundamento do desgaste de imagem revelado em pesquisas recentes. Ao invés de depurar o ambiente, Tomás acendeu o sinal vermelho para a CPMI.
Aqui se pode perceber a digital do líder maior, general Villas Boas, que anteriormente já divulgara um twitter de advertência ao Supremo Tribunal Federal para impedir a revisão do caso Lula. Uma senha também para o público interno e o eleitorado fanático.
Cuidadoso com as palavras, Tomás Paiva defendeu-se das desconfianças com novo discurso legalista em que reitera o compromisso de não compactuar com eventuais desvios de conduta, que terão seu “repúdio e correção”. Já punição é outra história.
O general Tomás não se manifesta sobre a prisão privilegiada do tenente-coronel Mauro Cid que lhe permite, longe das vistas de todos, receber visitas implicadas no mesmo delito que ele para combinar versões de depoimentos.
Foi preciso que o STF formalizasse a proibição para que Cid se reunisse com os cúmplices dos crimes pelos quais é acusado, motivo primeiro a determinar sua prisão preventiva. Entre esses, seu pai, o general Lourena Cid, outro que a CPMI não consegue convocar.
A prevalecer os critérios e as pressões do comandante Tomás Paiva, a instituição Forças Armadas sairão desse episódio como um clube militar preservado pelo poder que ainda infunde, pela chamada força dissuasória, e não pela confiança da sociedade.
Há velhos generais e generais velhos. O comandante Tomás Paiva parece traçar seu rumo de forma a perfilar-se entre esses últimos.
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