Porta-voz da ONG comenta queda do Brasil no ranking que mede a liberdade da imprensa; país está na “zona vermelha”
por Luciana Tortorello em 20/04/21 19:29
A ONG Repórteres sem Fronteiras publicou Ranking Mundial de Liberdade de Imprensa. Na lista, estão avaliados 180 países e territórios. O Brasil caiu quatro posições desde o ano passado e agora está na zona vermelha do ranking, onde a prática do jornalismo é considerada difícil.
Em entrevista ao MyNews, Emmanuel Colombié, diretor regional para América Latina do Repórteres sem Fronteiras, explicou quais informações são levadas em conta para montar o ranking.
“Todos os anos, publicarmos o Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa, há 19 anos. Essa classificação é uma uma fotografia da situação atual da liberdade de imprensa baseada na apreciação de vários indicadores, como, por exemplo, pluralismo, a independência, o quadro legislativo, a segurança dos jornalistas, a infraestrutura que sustenta a produção de informação e a transparência. Também usamos um compilado com a contagem que nós fazemos durante o ano todo de ataques caracterizados contra jornalistas e meios de comunicação do mundo. Isso que mede o nível de liberdade de imprensa em 180 países no mundo”, explica Colombié.
O diretor da RSF falou da situação do Brasil que caiu posição 107ª para a posição 111ª. Esse é o quarto ano consecutivo de queda. Nessa posição, o país se encontra na zona vermelha, onde os jornalistas se encontram uma “situação difícil” ao exercer sua profissão. Antes dessa atualização, o Brasil se encontrava na zona laranja, em que a situação da imprensa é considerada “sensível”. Junto com o Brasil, na zona vermelha, estão países como Afeganistão, Venezuela, Nicarágua e Emirados Árabes Unidos.”É uma posição que considerarmos como indigna de uma grande democracia como o Brasil”, diz o jornalista.
Colombié diz que, em quase todos os países do mundo, os governos aproveitaram a pandemia de covid-19 para silenciar jornalistas, não dar vozes críticas aos independentes e nem aos meios de comunicação, que estavam cobrando, fiscalizando ou criticando a atuação dos governos em relação à crise sanitária.
“No Brasil, eu acho ainda mais visível e temos um grande problema de acesso à informação para os jornalistas, sobretudo dos números da pandemia. Não é à toa que há uma coalizão de jornais que que estão recolhendo as informações diretamente nos próprios estados, porque a informação passada pelo Governo Federal chega muito tarde. No Brasil é particularmente visível também porque o presidente Bolsonaro é um mentiroso compulsivo, ele está, por exemplo, fazendo a promoção de remédios que não são recomendados para o tratamento da covid. A situação é gravíssima”, relata o Colombié.
Ainda falando sobre jornalismo independente e investigativo, o MyNews conversou com Thiago Domenici, da Agência Pública, que comentou sobre o caso Saul Klein. Com investigações desde novembro de 2020, uma equipe de jornalistas da Agência Pública publicou denúncias de exploração sexual de menores contra Samuel Klein, fundador da Casas Bahia.
“A gente foi se deparando com uma série de denúncias, a partir de processos judiciais de fontes que a gente consultou, ex-funcionários das Casas Bahia, um escopo de 35 fontes que a gente consultou, que indica um esquema de exploração e abuso sexual de crianças e adolescentes entre 7 e 19 anos, dentro da sede da empresa em São Caetano do Sul e em outros locais onde o Samuel tinha residência como a casa de veraneio no Guarujá, em Santos, em São Vicente. O que a gente conseguiu apurar pelos relatos que a gente têm são indícios muito fortes de abusos e exploração. Eles duraram pelo menos de 1989 até 2010 mais ou menos, então são praticamente duas décadas que a nossa apuração conseguiu contemplar”, explica Domenici.
O jornalista ainda acha que mais casos virão à tona. Nesse período, eles procuraram 30 mulheres e 10 delas disseram serem vítimas de Samuel. “Muitas não querem falar por medo de retaliação e até porque é uma situação delicadíssima de se expor publicamente. A reportagem faz esse cenário e faz uma relação também entre o Samuel Klein e o filho dele, que é o Saul Klein, que nesse momento é investigado pelo Ministério Público por crimes sexuais também. São mais de 30 mulheres que o acusam dessas práticas”, diz o diretor da Agência Pública.
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