Pioneira no mercado automobilístico nacional, Ford anunciou fechamento de suas fábricas
por Rodrigo Borges Delfim em 13/01/21 10:45
O anúncio do fechamento das fábricas da Ford no Brasil levanta uma série de debates sobre a situação da indústria não apenas no contexto nacional, mas também em estratégias de mercado adotadas pelas corporações mundo afora.
Em participação no Dinheiro na Conta desta terça-feira (12), o economista Paulo Feldmann, professor de Economia na USP, citou que o exemplo da montadora — a primeira a se estabelecer no Brasil, ainda em 1919 — reflete tanto a questão dos subsídios governamentais para o setor automotivo quanto o chamado ‘Custo Brasil‘, que reflete o alto custo e burocracia para se operar no país.
Segundo ele, o setor industrial, que já respondeu por 32% do PIB nacional, agora corresponde a algo na casa dos 9%. “A indústria perdeu importância no Brasil porque o ambiente de negócios é muito ruim. E um país que está cheio de coisas ruins nesse ambiente acaba tendo de oferecer subsídios para compensar. Mesmo assim a Ford tomou a decisão de ir embora, porque o ‘custo Brasil’ está muito alto”.
Só em 2019, de acordo com o Ministério da Economia, o governo federal deixou de arrecadar R$ 348 bilhões em subsídios concedidos à indústria automobilística, o equivalente a 5% do PIB nacional.
Por outro lado, dessa renúncia fiscal é esperada que as empresas gerem empregos que, por sua vez, movimentam as economias locais e geram novas divisas por meio dos impostos a serem arrecadados. Uma conta que precisa ser feita com bastante cuidado pelos governos.
Feldmann pondera que oferecer subsídios em geral traz resultados favoráveis. No entanto, cita um exemplo recente, ocorrido com a então presidente Dilma Rousseff no final de seu primeiro mandato, em 2014, quando também concedeu desonerações fiscais a diversos ramos da indústria, incluindo o automotivo.
“Naquele momento provavelmente não valeu a pena, porque aqueles subsídios acabaram repercutindo nas contas nacionais e o país teve um rombo fiscal”.
De acordo com o comunicado feito pela imprensa pela Ford sul-americana sobre a saída do Brasil, “a pandemia de Covid-19 amplificou a persistente capacidade industrial ociosa e a queda nas vendas, que resultaram em anos de perdas significativas”.
De fato a participação da montadora norte-americana vinha em declínio no Brasil. Tradicionalmente uma das quatro grandes do setor no país, ocupa atualmente a quinta posição no mercado brasileiro, respondendo por 7,06% do total, segundo a Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores). A pioneira do setor no Brasil figura atrás de General Motors [que produz os veículos da marca Chevrolet], Fiat-Chrysler, Volkswagen e Hyundai.
“A competição no Brasil é muito dura. E ela vai ficar mais difícil ainda neste ano, com a queda do consumo. Já teve cinco anos de prejuízo e não quer ter mais um”, ressalta Feldmann, que destaca o fato de muitas montadoras contarem com plantas no país.
A montadora admite que está revendo seus negócios de maneira global para manter uma geração de caixa sustentável. Para Feldmann, isso reflete a chamada “desglobalização”, que inverte um movimento tocado por essas empresas no passado, que buscavam em regiões como América Latina e Ásia uma mão-de-obra mais barata que em suas matrizes na Europa e nos Estados Unidos.
“Os robôs ficaram muito mais baratos. E a indústria automobilística é uma grande usuária de robôs. É mais barato produzir nos Estados Unidos com robôs do que ir a países distantes em busca de uma mão de obra que não é mais tão barata assim”, exemplifica.
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