Em entrevista ao MyNews, economista Raul Velloso fala sobre a situação dos estados e a dificuldade de governadores conseguirem manter os investimentos
por Mara Luquet em 06/01/22 14:16
São Paulo: Quando José Serra era governador, São Paulo mantinha, a valores de hoje, R$ 30 bilhões em investimentos ao ano. Atualmente, o estado investe R$ 10 bilhões e, a continuar nesta toada, em três anos, a maior economia do País e a terceira da América perderá totalmente sua capacidade de investimento. A previsão é do economista Raul Velloso, um dos maiores conhecedores de contas públicas do País, que faz um alerta: estados e municípios entrarão em colapso muito em breve.
Em entrevista ao MyNews, Velloso afirma que são poucos os estados que estão conseguindo aumentar ou até mesmo manter seus investimentos. Dessa forma, os governadores eleitos, ou reeleitos, em 2022 terão pela frente o enorme desafio de descobrir novas fontes de recursos para investir, sob o risco de verem seus estados estagnados, a exemplo da União, que tem sua capacidade de investir reduzida a cada ano.
Na entrevista, Velloso revela que, durante conversa ocorrida em novembro de 2018, o então indicado a futuro Ministro da Economia, Paulo Guedes, confessou não ser afeito ao investimento público para o País. Hoje, prestes a entrar no quarto ano à frente do ministério, ainda sonha com os bilhões em investimentos privados que, até agora, não se materializaram. Para Velloso, no entanto, isto não é surpresa, uma vez que, em sua opinião, o investimento privado só se realiza quando há contrapartida do setor público. Em sua opinião, o Estado tem que ser a locomotiva deste processo.
A boa notícia, segundo ele, é que, se houver planejamento, os recursos aparecem.
“A única maneira de arrumar dinheiro para investir é arrumando a previdência dos servidores dos estados. É o que estou sugerindo e acompanhando no estado do Piauí”, diz Velloso. Ao contrário de São Paulo, nos próximos três anos, o estado do Piauí aumentará seus investimentos para cerca de R$ 1 bilhão ao ano. “Está sendo feito um trabalho de reorganização, de reestruturação da previdência, que nós teríamos que fazer em todos os estados e principais municípios. Isso impediria que os investimentos virassem pó; zerassem em poucos anos”, acrescenta.
Segundo Velloso, os fundos de previdência de estados e de municípios, somados, já dispõem de R$ 200 bilhões em recursos aplicados. “Esse dinheiro poderia estar sendo investido em projetos em parcerias com o setor privado, mas está sendo aplicado em títulos federais, rendendo Selic que, até pouco tempo, rendia 2% ao ano”, diz ele.
Num cenário de carência de investimentos, nada mais adequado que utilizar parte deste dinheiro, estacionado em títulos públicos de curto prazo do Tesouro Nacional, para esta nobre finalidade. Com isto todos sairiam ganhando, inclusive os próprios servidores, que veriam aumentar a rentabilidade dos recursos destinados às suas aposentadorias e pensões.
Tais recursos, utilizados em parceria com a iniciativa privada, tornariam possíveis investimentos em infraestrutura nos estados, alavancando, dessa forma, o crescimento econômico. Mas, como enfatiza Velloso, falta planejamento.
Veja a entrevista na íntegra:
Comentários ( 0 )
ComentarEntre no grupo e fique por dentro das noticias!
Grupo do WhatsApp
Utilizamos cookies para oferecer melhor experiência, melhorar o desempenho, analisar como você interage em nosso site e personalizar conteúdo.
ACEITAR