No Café do MyNews, Carlos Nobre fala do enfraquecimento dos órgãos ambientais pelo governo Bolsonaro e da relação entre a savanização da Amazônia e as chuvas em Recife.
por da Redação em 30/05/22 18:17
São três milhões e meio de brasileiros que vivem em áreas de altíssimo risco, e a cada evento climático extremo, como as chuvas que atingem o Grande Recife há uma semana, faz-se necessário o debate para entendermos de quem é a responsabilidade por essas tragédias, e o que pode ser feito para que elas não ocorram mais, ou não sejam tão frequentes como têm sido em 2022.
Até o início da tarde desta segunda-feira (30), 91 pessoas já haviam morrido em Pernambuco. Entre fevereiro e março deste ano, aproximadamente 240 pessoas foram vítimas fatais das chuvas e deslizamentos em Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro. Também no início do ano, entre janeiro e fevereiro, dezenas de mortes foram contabilizadas em Minas Gerais.
Para o cientista climático Carlos Nobre, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP), esses desastres naturais estão aumentando muito em função das mudanças climáticas, e essas modificações têm correlação direta com a savanização da Amazônia.
Ele também ressalta que o enfraquecimento de órgãos ambientais como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que são responsáveis pela preservação do país como um todo, “tem sido um problema muito grande”. E que “jamais imaginávamos que o Brasil ia passar por essa crise política, com a diminuição muito acentuada do financiamento da pesquisa, da ciência, da tecnologia, uma crise que o Brasil nunca viu em 50 anos”.
Carlos Nobre é reconhecido internacionalmente quando o assunto é clima, Amazônia e riscos ambientais, e em entrevista à jornalista Mara Luquet, explicou de que forma o desmatamento interfere diretamente nesses eventos climáticos extremos: “Se houver uma perda de floresta na Amazônia em grande escala, entre 50% e 70%, daqui a 30, 50 anos, nós vamos umidificar muito o clima global. Porque o carbono todo armazenado na Floresta Amazônica, se ela desaparecer e virar um sistema degradado, uma savana, nós vamos jogar na atmosfera mais de 300 bilhões de toneladas de gás carbônico, portanto nós vamos contribuir para acelerar o aquecimento global e as mudanças climáticas. E é óbvio que o clima em toda a região tropical da América do Sul vai ficar mais quente, com menos chuva, estação seca mais longa, acelerando a frequência de fenômenos extremos.”
Para o cientista, além de evitar que o desmatamento em todos os biomas avance, é necessário a existência de projetos de restauração florestal da Mata Atlântica, da Floresta Amazônica e também do Cerrado.
Quanto à redução de riscos dos milhões de brasileiros que vivem em áreas periféricas, normalmente as mais atingidas por chuvas e deslizamentos, o professor ressalta a necessidade de um plano de envolvimento tanto do governo federal quanto dos estados e municípios, um plano que busque a realocação dessas pessoas.
“Isso é um processo lento, mas enquanto essa política de adaptação ao aumento dos eventos extremos não for feita, nós vamos infelizmente ver esse número de populações afetadas, feridas e mortas continuar muito altas”, reforça Carlos Nobre, que complementa: “e por isso a questão ambiental precisa fazer parte dos planos de governo dos candidatos. Além da economia, do combate à inflação, a questão ambiental precisa ser prioridade na discussão política.”
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