O ministro do STF, Alexandre de Moraes, retirou o sigilo da decisão que autorizou a operação da Polícia Federal para apurar suposta espionagem ilegal da Abin
por Alice Rabello em 26/01/24 02:37
Ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no governo Bolsonaro e pré-candidato do PL à prefeitura do Rio, o deputado federal Alexandre Ramagem foi alvo de uma operação de busca e apreensão da Polícia Federal nesta quinta-feira (25), em sua casa e no gabinete na Câmara dos Deputados.
A operação, intitulada Vigilância Aproximada, faz parte de investigação de esquema criminoso de espionagem política na Abin durante seu comando para monitorar ilegalmente adversários políticos do governo Bolsonaro – entre autoridades, jornalistas e políticos.
Ao todo são 21 mandados de busca e apreensão, incluindo as buscas feitas no gabinete de Ramagem na Câmara dos Deputados e no apartamento funcional em Brasília, além de medidas cautelares, prisão e suspensão imediata do exercício das funções públicas de sete policiais federais supostamente envolvidos.
Foram apreendidos pela Polícia Federal, durante o mandado de busca e apreensão no gabinete e na casa de Ramagem, celulares, um notebook, 20 pen-drives e documentos relacionados ao órgão. Um celular e o notebook pertencem à Abin e não poderiam estar na posse do ex-diretor da agência.
A operação é a segunda fase da Última Milha, deflagrada em outubro de 2023 para apurar o uso do software First Mile, e foi autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, a pedido da Polícia Federal e da Procuradoria-Geral da República, já sob o comando de Paulo Gonet.
Em decisão, Moraes afirma que, sob a direção de Ramagem, “os policiais federais destacados utilizaram das ferramentas e serviços da Abin para serviços de “contrainteligência ilícitos” em tentativa de interferir em investigações para proteger o filho do ex-presidente, Renan Bolsonaro. Moraes também escreveu em decisão que a Abin foi usada para elaborar relatórios de defesa a favor do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), no caso das “rachadinhas”.
Flávio Bolsonaro, negou através de nota da assessoria, o uso do órgão de inteligência para sua proteção:
“É mentira que a Abin tenha me favorecido de alguma forma, em qualquer situação, durante meus 42 anos de vida. Isso é um completo absurdo e mais uma tentativa de criar falsas narrativas para atacar o sobrenome Bolsonaro”
O ex-presidente Bolsonaro defendeu o deputado Ramagem através de sua lista de transmissão no Whatsapp afirmando que a operação se tratava de uma “perseguição implacável”, como informou o jornalista Igor Gadelha, em sua coluna no Portal Metrópoles.
Segundo a Polícia Federal, Alexandre Ramagem comandou um esquema de espionagem a partir do software israelense First Mile durante seu período no cargo de diretor da Abin, entre 2019 e 2022. O software foi adquirido sem licitação em 2018, no fim do governo Temer por R$ 5,7 milhões de reais e utilizado na gestão Bolsonaro para monitorar de forma ilegal adversários do então presidente.
Entre autoridades espionadas citadas por Moraes estão, por exemplo, a ex-deputada Joice Hasselmann, o ex-presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia e o atual ministro da Educação, Camilo Santana.
A ex-deputada federal Joice Hasselmann falou sobre a existência da “Abin paralela” durante a CPMI das Fake News, em seu depoimento no dia 4 de dezembro de 2019. No ano passado, em outubro de 2023, Hasselmann publicou um vídeo nas redes sociais afirmando que ela fez essa denúncia logo no primeiro ano de governo Bolsonaro e que o Ramagem montou uma Abin paralela para “espionar, não somente adversários” mas qualquer pessoa que “passasse na cabeça do maluco do Bolsonaro e que pudesse dar um piu contra ele ou contra o governo” e afirma ter sido ela uma das grampeadas.
Em seu depoimento na CPMI das Fake News, a ex-líder do governo Bolsonaro declara que a informação sobre o esquema de Ramagem foi dada pelo ex-ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, 12 dias antes de sua morte por ataque cardíaco:
Já o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, falou ao Canal MyNews que não se surpreendeu com a notícia:
“Não estou surpreso. Avançando as investigações e chegando a essa conclusão, que parece que é verdade, tomarei as atitudes cabíveis. É preciso acabar com a percepção de que o crime contra a democracia é menor. Me surpreende muito uma pessoa que desrespeitou a democracia, a Constituição, a Casa do Povo e usou o Estado para monitorar as pessoas, hoje é deputado federal e ainda quer ser prefeito do Rio de Janeiro. É a raposa cuidando do galinheiro na Câmara dos Deputados, e é essa mesma pessoa que poderia usar o aparelho de uma prefeitura poderosa como a do Rio de Janeiro contra os seus adversários”
O processo eleitoral não ficou de fora do contexto da espionagem ilegal e, na decisão, Alexandre de Moraes afirma que, segundo a PF, foram encontrados diálogos sobre “ações de inteligência” de ataque às urnas eleitorais entre os ex-servidores da Abin, Paulo Maurício e Paulo Magno:
“As supostas ‘ações de inteligência’ foram realizadas sob a gestão e responsabilidade de Alexandre Ramagem, conforme se depreende da interlocução (…) tratando do ataque às urnas eletrônicas, elemento essencial da atuação das já conhecidas ‘milícias digitais’. (…) O evento relacionado aos ataques às urnas, portanto, reforça a realização de ações de inteligência sem os artefatos motivadores, bem como acentuado viés político em desatenção aos fins institucionais da Abin”
A investigação também revelou o monitoramento da promotora de justiça Simone Sibilio, ex-coordenadora do Gaeco do Ministério Público do Rio, que atuava na investigação dos assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
Alexandre Ramagem deixou a Abin em março de 2022, para concorrer à Câmara dos Deputados e foi eleito pelo PL com mais de 50 mil votos. Alvo da operação, Ramagem é pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro e sua campanha é coordenadas por Carlos Bolsonaro.
O programa Segunda Chamada conversou hoje com o deputado federal titular da Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência, da qual Ramagem é membro titular, Carlos Zarattini (PT-SP) e os jornalistas Afonso Marangoni, João Bosco Rabello e Igor Gadelha. Confira:
*Foto de destaque da matéria na página principal: Igo Estrela/Metrópoles
Comentários ( 0 )
ComentarMyNews é um canal de jornalismo independente. Nossa missão é levar informação bem apurada, análise de qualidade e diversidade de opiniões para você tomar a melhor decisão.
Copyright © 2022 – Canal MyNews – Todos os direitos reservados. Desenvolvido por Ideia74
Entre no grupo e fique por dentro das noticias!
Grupo do WhatsApp
Utilizamos cookies para oferecer melhor experiência, melhorar o desempenho, analisar como você interage em nosso site e personalizar conteúdo.
ACEITAR