O despertar para a transformação digital nem sempre vem acompanhado da devida compreensão do fenômeno
por Francisco Saboya em 29/12/20 09:36
As medidas restritivas de isolamento social para enfrentamento da Covid-19 ajudaram a disseminar o conceito de “transformação digital”, trazendo um sentido de urgência para certas mudanças de estratégia que corporações, pequenos negócios ou governos já deviam estar fazendo há muito tempo. Nada de novo. O potencial das tecnologias digitais para alavancar novos ou antigos negócios é reconhecido há décadas. O problema é o ritmo de adoção, que sempre andou a passos de tartaruga por aqui. A pandemia parece ter despertado o tecido produtivo brasileiro para a economia digital.
Não necessariamente com esse nome, “transformações digitais” (no plural) vêm ocorrendo pelo menos desde os anos 80, motivadas por fatores como a consolidação da microcomputação e consequente ampliação da base de usuários digitais, e a introdução da internet comercial com banda larga nos anos 90-00’s. O que se viu a partir daí foi a articulação exponencial de redes de computadores (incluindo smartphones), de pessoas e, mais recentemente, de objetos.
Dados passaram a ser gerados e consumidos em volume e intensidade inimagináveis e por quantidades cada vez maiores de agentes digitais, oportunizando, por meio de sofisticados complexos de tecnologias e algoritmos, a exploração econômica inteligente de toda uma riqueza antes perdida em bancos de dados de transações em formato digital.
O valor dos dados na nova economia foi particularmente evidenciado a partir da imagem criada pela revista inglesa The Economist, em 2017, segundo a qual “dados são o novo petróleo”. É uma boa metáfora para caracterizar os dois estágios de um mundo em transição: o tradicional-analógico e o moderno-digital.
Se os dados são isso mesmo, então as empresas têm dois desafios pela frente: correr atrás deles e desenhar novas estratégias orientadas por eles, em especial aquelas voltadas para conhecimento, conquista e retenção de clientes. Tirar proveito de dados em contextos de inovação e incerteza em relação ao futuro, estruturar negócios diferenciados em redes e plataformas digitais e desenhar novos modelos de negócios voltados para a geração crescente de valor para o cliente em mercados abertos e hipercompetitivos são o core da Transformação Digital. É conveniente lembrar que, como apontam os especialistas em mercados digitais, não se compra mais um cliente com propaganda; conquista-se com experiências de relacionamento mobilizadoras e com propostas de valor efetivas e continuamente calibradas pelas suas necessidades.
Retomando o raciocínio do primeiro parágrafo, a questão é que o despertar para a transformação digital nem sempre vem acompanhado da devida compreensão do fenômeno. A transformação digital não é um produto de prateleira; é um processo complexo que envolve, além das tecnologias digitais em si, a capacitação de pessoas em novos repertórios habilitadores de novas práticas e a mudança da cultura organizacional. Mas isso dá um trabalho imenso e é mais fácil criar atalhos. Um deles é reduzir a Transformação Digital à Digitalização de Processos. Não que seja fácil digitalizar um negócio. Também toma tempo, custa caro e quase sempre dá errado.
O que se coloca é a necessidade de se diferenciarem as coisas para avançar na implementação eficaz de uma e outra. O foco da digitalização é obter a máxima eficiência operacional por meio da utilização de sistemas e tecnologias de informação para automação de tarefas operacionais e administrativas e para suporte à condução dos negócios, especialmente quanto ao processo de tomada de decisão. Isso é desejável em qualquer contexto. O alerta aqui é que, em tempos de mudança acelerada na dinâmica dos negócios, esse esforço tende a malograr por uma razão muito simples: o dinheiro vai pro lugar errado, vai pro passado, ao encontro de estratégias empresariais vencidas no tempo.
Na economia digital, digitalização não é estratégia. Transformação Digital sim. E provavelmente será A estratégia pelos próximos 5 anos. Quem não a fizer nesse tempo, corre o risco de não ter mais o que fazer em tempo algum.
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