A capacidade dos deepfakes de distorcer a realidade e manipular percepções representa uma nova fronteira na era digital
por Allex Ferreira em 04/08/23 11:35
Imagem criada por Allex Ferreira & Midjourney
Deepfakes, uma inovação revolucionária alimentada por inteligência artificial, têm a capacidade de gerar vídeos falsos hiper-realistas que são quase indistinguíveis da realidade. Esta tecnologia, que combina e superpõe imagens e vídeos existentes para criar conteúdo novo e muitas vezes enganoso, está impondo desafios inéditos à sociedade e ao sistema legal. À medida que essa tecnologia se torna mais sofisticada e acessível ao público em geral, o risco de uso impróprio aumenta exponencialmente. Isso pode levar a uma série de consequências sociais e legais expressivas, desde a disseminação de desinformação até a violação de direitos de privacidade. A capacidade dos deepfakes de distorcer a realidade e manipular percepções representa uma nova fronteira na era digital, exigindo uma reavaliação de como lidamos com a veracidade e a autenticidade do conteúdo online.
Deepfakes constituem um obstáculo considerável para nossa fé e confiança no conteúdo visual. Em um mundo onde ver não é mais garantia de veracidade, como podemos confiar no que observamos online? A título de exemplo, um vídeo deepfake de Elon Musk promovendo uma nova criptomoeda induziu alguns investidores a transferir fundos para uma carteira de criptomoedas, apenas para descobrir posteriormente que o vídeo era um deepfake.
O potencial dos deepfakes para disseminar desinformação e propaganda é vasto. Eles podem ser empregados para criar notícias falsas, manipular a opinião pública e até incitar violência ou agitação. Por exemplo, durante as fases iniciais da invasão da Ucrânia pela Rússia, supostos atores russos divulgaram um vídeo deepfake que mostrava o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky pedindo a seu exército para se retirar. O impacto imediato deste vídeo é desconhecido, mas certamente contribuiu para a avalanche de desinformação disseminada pela Ucrânia enquanto a Rússia invadia o país.
O impacto psicológico nos indivíduos e na sociedade é profundo. Deepfakes podem causar angústia aos indivíduos cujas imagens são usadas sem consentimento, e podem semear dúvida e desconfiança na sociedade em geral. A grande maioria das ameaças ao indivíduo está relacionada à pornografia não consensual. Esses vídeos, muitas vezes contendo a falsa semelhança de mulheres celebridades, podem causar danos psicológicos à vítima, reduzir a empregabilidade e afetar os relacionamentos.
Já foram registrados diversos casos de problemas sociais causados por deepfakes, desde pornografia de vingança e chantagem até manipulação política. Cibercriminosos também utilizaram a tecnologia deepfake para realizar fraudes online. Por exemplo, um esquema recente utilizou áudio artificialmente gerado para combinar com a voz do CEO de uma empresa de energia. Quando o falso “CEO” ligou para um funcionário para transferir dinheiro, seu leve sotaque alemão e cadência de voz combinavam perfeitamente. O funcionário transferiu $243.000 para o cibercriminoso antes de perceber seu erro.
O desafio de usar provas de vídeo em tribunal na era dos deepfakes é significativo. Isso levanta questões sobre a validade das provas de vídeo em tribunal, pois se torna cada vez mais difícil distinguir entre o real e o falso.
As leis e regulamentos atuais sobre deepfakes variam amplamente. Alguns estados nos EUA, como Virgínia, Texas e Califórnia, têm regulamentos contra questões legais de deepfakes. A lei na Virgínia impõe penalidades criminais sobre a distribuição de pornografia deepfake não consensual, enquanto a lei no Texas proíbe a criação e distribuição de vídeos deepfake destinados a prejudicar candidatos a cargos públicos ou influenciar eleições.
As limitações das leis existentes no tratamento de deepfakes são evidentes. Por exemplo, a Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI) afirma que deepfakes podem causar problemas mais graves, como violação dos direitos humanos, direito à privacidade, direito à proteção de dados pessoais, etc. do que violações de direitos autorais. Portanto, de acordo com a OMPI, a principal preocupação aqui é se os direitos autorais devem mesmo ser concedidos à imagens deepfake, em vez de a quem os direitos autorais de um deepfake devem pertencer.
As implicações legais dos deepfakes ainda estão sendo exploradas, com alguns acadêmicos argumentando que as leis existentes são inadequadas para lidar com os desafios apresentados por esta tecnologia. À medida que os deepfakes se tornam mais sofisticados e difundidos, é provável que veremos mais respostas legais e regulatórias a este problema.
À medida que a tecnologia continua a evoluir, torna-se cada vez mais importante que as leis e regulamentos se adaptem para proteger os indivíduos e preservar a confiança no conteúdo digital. O surgimento dos deepfakes, portanto, não apenas apresenta um desafio significativo para a sociedade e o sistema jurídico, mas também abre um novo campo de discussão e reflexão sobre como lidar com as consequências dessa nova era de desinformação.
Este é um momento crucial na história da tecnologia e da sociedade. Estamos navegando por águas desconhecidas, onde a linha entre o real e o artificial está se tornando cada vez mais tênue. A necessidade de políticas eficazes e regulamentações robustas nunca foi tão urgente.
No entanto, além das respostas legais e regulatórias, é fundamental que a sociedade como um todo se envolva nessa discussão. Precisamos de uma conscientização pública mais ampla sobre os deepfakes e suas implicações, bem como de uma educação digital mais sólida para que as pessoas possam navegar com segurança neste novo cenário.
A era dos deepfakes pode ser um desafio, mas também é uma oportunidade para inovação, para o desenvolvimento de novas ferramentas e estratégias para garantir a autenticidade do conteúdo digital. A jornada à frente é incerta, mas com a colaboração entre legisladores, tecnólogos e a sociedade em geral, podemos enfrentar os desafios que os deepfakes apresentam e moldar um futuro digital que seja seguro, confiável e equitativo para todos.
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