Pesquisa da USP mostra que atletas de SP têm taxas muito mais altas do que outros países
por Myrian Clark em 04/04/21 11:03
Enquanto se discute a reabertura ou fechamento dos campos de futebol, uma pesquisa da USP mostra dados alarmantes. Em nenhum outro esporte mundial as taxas de infecção em atletas foram tão altas quanto as verificadas no futebol paulista. Segundo Bruno Gualano, professor da Faculdade de Medicina da USP e coordenador da pesquisa, o protocolo da Federação Paulista de Futebol é adequado. Mas não para ser implementado num país que atingiu um estágio de descontrole epidêmico como o nosso. “Nos EUA, o conceito de bolha foi estabelecido pela experiência com a NBA, liga do basquete. Eles fizeram um sistema que isolou completamente o esporte da comunidade e se mostrou 100% eficaz em prevenir infecções. Mas não dá pra gente fazer uma bolha de sabão”, disse o pesquisador ressaltando a fragilidade no cumprimento dos protocolos seguidos pelo futebol paulista.
No início da pandemia o grupo coordenado por Gualano resolveu criar uma agenda para lidar com a Covid. Um destes projetos é o Esporte Covid 19, uma coalizão de pesquisadores de nove instituições de São Paulo. “Comparados aos outros casos de que se tem registro, nossos jogadores se infectaram entre três e 24 vezes mais”, diz.
A pesquisa foi feita em conjunto com a Federação Paulista de Futebol, analisando a base de dados do laboratório comissionado pela federação para fazer testes de covid em oito competições diferentes, e que envolveram mais de seis mil profissionais, entre jogadores e pessoal de apoio. Foram analisados cerca de 30 mil testes de RT-PCR aplicados em 4.269 atletas ao longo dos torneios. Ao todo, 501 exames confirmaram a presença do vírus. Entre os integrantes das equipes de apoio, 161 pessoas, ou 7%, deram positivo.
Para o pesquisador, os números não surpreendem, mas não podem ser naturalizados. Embora haja uma testagem mais frequente nos jogadores do que em outros setores, isso não é suficiente para conter os surtos entre as equipes.
“Todo mundo pensa que eles se infectam no campo. Ao que tudo indica, a taxa de infecção durante um jogo é menos provável. Talvez por ser um lugar aberto, com contatos rápidos entre os atletas”, diz Gualano.
Segundo ele, não se trata de irresponsabilidade do jogador com respeito ao uso de máscaras, higienização e outros protocolos recomendados pela OMS. “Os times pequenos cruzam o Brasil competindo. Uma comissão técnica mais um elenco e equipe de apoio são, por essência, uma aglomeração de pessoas. Tudo que não se pode ter durante uma pandemia respiratória”, diz.
Dentre os campeonatos estaduais, poucos estão parados como no Estado de São Paulo. O campeonato gaúcho, por exemplo, segue firme e no sábado à noite realizou o clássio entre Grêmio e Internacional em Porto Alegre, a partida foi vencida pelo Grêmio por 1 a 0. A previsão é que a bola só volte a rolar nos gramados paulistas quando o Estado sair da fase crítica da epidemia. Ainda assim, a Federação Paulista de Futebol chegou a realizar jogos em Volta Redonda, no Rio de Janeiro.
Antes que alguém pense em dizer que Gualano está dificultando a volta do futebol com a sua pesquisa, ele avisa que adora futebol. “Sou corinthiano, mas é melhor não falar disso. Meu time está mal no campeonato e ainda podem me acusar de conflitos de interesse”, diz ele, brincando. Gualano é formado em Educação Física pela USP, onde também fez doutorado. Na Faculdade de Medicina, fez ainda um pós-doc. Estuda fisiologia do exercício e estilo de vida em populações clínicas.
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