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Os conselhos da avó Silvana e o dilema de Lula

“Quem muito se agacha acaba mostrando o fiofó”. Vale a advertência para as relações do presidente Lula com o Congresso

Em 23/01/24 21:15
por Conversas com Cid

Cid de Queiroz Benjamin é um jornalista e político brasileiro. Nos anos 1960 e 1970, militou na luta armada, tendo sido dirigente do movimento estudantil em 1968 e integrante da resistência à ditadura militar, responsável pelo setor armado do Movimento Revolucionário Oito de Outubro.

Minha falecida avó materna Silvana era de poucos estudos. Nunca soube que tivesse lido algum livro. Mas ela tinha aquela sabedoria popular que, muitas vezes, se mostra extremamente útil na vida das pessoas. E a velha Silvana gostava de lembrar ditados populares. Um dos que repetia, sempre que alguém cedia sempre, diante dos impasses que a vida frequentemente nos apresenta, era: “Quem muito se agacha acaba mostrando o fiofó”. Por isso vamos falar aqui os conselhos da avó Silvana e o dilema de Lula.
Fazendo um corte para a situação vivida por Lula na Presidência, me lembro da avó Silvana.
Ele é presidente da República num sistema presidencialista, mas num arcabouço legislativo em boa medida moldado para o parlamentarismo. Dá poderes exagerados ao Congresso, manietando o Executivo. Isso torna evidente a necessidade de uma reforma política. Mas as mudanças necessárias para que a casa seja reformada e que poderes indevidos sejam retirados do parlamento, dependem … do próprio parlamento. Ele, por sua vez, não vai legislar contra seus próprios interesses.
Ou alguém imagina que Rodrigo Pacheco e, ainda mais, Artur Lira vão pôr a conveniência pública acima de seus interesses particulares? E que vão ajudar a acabar com a farra que atende aos interesses quase exclusivo de deputados e senadores? Ou que aceitarão, de bom grado, pôr fim às emendas secretas (que continuam a existir, só que com outro nome) ou rever fundos partidários e eleitorais verdadeiramente obscenos, num país tão necessitado de recursos nas áreas sociais?
É mais do que nunca atual a conhecida frase de Ulysses Guimarães, proferida quando alguém reclamou da qualidade do Congresso existente — “Está achando ruim? Espera só o próximo!”.
Hoje o Congresso não é sequer conservador. É reacionário. E a grande maioria de seus integrantes pensa, antes de mais nada, nos seus interesses particulares. Não é exagero dizer-se que seus integrantes com espírito público são uma ínfima minoria.
Assim, o País assiste a um permanente emparedamento de Lula pelo parlamento.
Diante disso, o presidente está permanentemente às voltas com a chamada “governabilidade” — palavra que antes não existia no vocabulário político e que hoje não sai dos jornais. Há duas formas para buscar a tal “governabilidade”: (1) negociar, aceitando certas exigências do parlamento ou (2) levar as divergências para a opinião pública, inclusive usando mecanismos constitucionais de que dispõe, como requisição de cadeia de rádio e TV e, no limite, uma ou outra vez, chamar referendos populares, que, certamente seriam denunciados como populismo pela grande imprensa.
É evidente que, o bom senso recomendaria, em alguns casos, fazer concessões. Mas o compromisso com um programa de reformas — como prometido no programa de campanha e necessário para não praticar um estelionato eleitoral — não recomendaria também, vez por outra, tensionar as coisas, levando a polêmica para a sociedade?
Não permitir que as negociações se esgotem sempre entre as quatro paredes, levando-as para a sociedade, não deixaria Lula em melhores condições para a queda de braço com Lira e afins?
Os conselhos da avó Silvana e o dilema de Lula então são muito atuais. Com certeza, se consultada, minha velha avó Silvana diria que sim.

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