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Cultura do assédio e do estupro andam juntas, diz Márcia Tiburi sobre caso Klein

Para a filósofa, é preciso fomentar um novo ambiente social contra esse tipo de cultura

por Rodrigo Borges Delfim em 28/12/20 18:48

O escândalo envolvendo Saul Klein, filho do fundador das Casas Bahia, denunciado pelo Ministério Público por estupro e aliciamento, é algo mais comum do que parece e é sintomático da situação social vivida pelo Brasil.

A observação é da filósofa Márcia Tiburi, que comentou o caso na edição desta segunda-feira (28) do Almoço do MyNews.

“Infelizmente não surpreende porque nossa moral, nossa ética, nossas condições políticas hoje no Brasil são as piores possíveis. Que apareçam coisas tão bizarras e vergonhosas, que mostram tanto abuso de poder psicológico e financeiro, infelizmente estão fazendo parte do nosso cotidiano”.

Tiburi situa o caso Klein junto a casos recentes de feminicídio e de outros homens que que utilizaram-se de seu poder e influência para abusar de mulheres, como o médico Roger Abdelmassih.

“Há tantos casos de homens poderosos, que abusam das mais diversas formas, mas estão protegidos por aquilo que chamamos de cultura do assédio, que é a mesma cultura do estupro. As duas andam juntas, são parte fundamental da cultural patriarcal, que também é racista, faz exploração da classe social e por aí vai”.

A filósofa, que tem parte de sua obra dedicada ao feminismo e a críticas à extrema-direita, deixou o Brasil em 2018 por receber ameaças de morte e atualmente vive na França. Segundo ela, não basta buscar a saída apenas pela lei, mas é preciso fomentar um novo ambiente social, a partir de ações culturais, educacionais. “Nós deveríamos mesmo criar uma cultura engajada na construção de uma outra sociedade”.

Cultura do estupro e do assédio contra mulheres é uma situação cotidiana
Cultura do estupro e do assédio contra mulheres é, infelizmente, uma situação cotidiana.
(Foto: Pixabay)

Entenda o caso Klein

Saul Klein, 66, filho do fundador das Casas Bahia, é acusado de abuso sexual e de estupro por mulheres que contam ter sido aliciadas para festas e eventos na casa do empresário, em Alphaville, na Grande São Paulo. O caso foi revelado pela coluna da jornalista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S.Paulo, no último dia 22.

Em entrevista ao programa Fantástico (Globo), no domingo (27), uma ex-funcionária de Klein afirmou que, em um ano, 230 mulheres passaram pela casa do empresário. Elas eram submetidas a controle de peso, pressionadas a passar por procedimentos estéticos e a manter relações sexuais sem uso de preservativos. Algumas das mulheres aliciadas por Klein, ainda de acordo com a ex-funcionária, eram menores de 18 anos.

O MyNews tentou contato com o advogado André Boiani, que representa Klein, mas não obteve resposta até o momento.

Em nota enviada a veículos de comunicação, no entanto, o defensor de Klein disse que ele era cliente de uma agência que agenciava mulheres e que passou a ser chantageado depois que rompeu o contrato com a empresa. E que, eventualmente, estabelecia com as mulheres uma relação de “Sugar Daddy” – prática na qual mulheres são bancadas por homens ricos em troca de relacionamento.

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