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PREVIDÊNCIA

A Previdência Complementar e a inversão da dependência financeira

"O aposentado no Brasil se preparava para correr uma corrida de 100 metros, com a mudança demográfica ele passou a correr uma maratona"

por por Rogério Araújo em 28/01/24 17:47

Imagem: Pixabay

Hoje, domingo, dia 28 de janeiro de 2024, ao chegar da casa dos meus pais, um casal de 87 e 85 anos, após mais um daqueles chamados de urgência, para socorrer uma necessidade, resolvi tocar nesse importante assunto novamente, a previdência complementar e a inversão da dependência financeira. Não se trata apenas, necessariamente, dos produtos de previdência privada, mas sim do conceito previdência, “faculdade ou ação de prever, precaução, cautela”.

No caso específico dos meus pais, tenho a clara convicção de que eles não têm nenhuma culpa em hoje estarem dependendo do auxílio dos filhos, uma vez que ambos são frutos de famílias simples e que durante toda à vida laborativa batalharam para cuidar de seus quatro filhos e viveram em um país de hiperinflação e sem nenhuma cultura de poupança.

Enfrentaram ainda, como todos os brasileiros da mesma geração, a mudança demográfica, a maior expectativa de vida da população.

Como bem diz o Dr. Alexandre Kalache, a maior referência nacional em envelhecimento e qualidade de vida, pioneiro no estudo das questões do envelhecimento, “o aposentado no Brasil se preparava para correr uma corrida de 100 metros, com a mudança demográfica ele passou a correr uma maratona”. E todos sabemos que a preparação para uma corrida de 100 metros é muito diferente da preparação para correr uma maratona, que requer maior preparo físico, no caso reservas financeiras, e maior resiliência (no caso, saúde).

Hoje, porém, nós da sociedade economicamente ativa, que produzimos receitas, riquezas, que, com o fruto do nosso trabalho, alcançamos determinado padrão de vida, que vivemos em uma economia até certo ponto estável, um país no qual, felizmente conseguimos prever e planejar um futuro de curto e até médio prazo, embora vivamos em constante instabilidade política, independente de quem esteja no poder, partido ou político. Mas não vou me arriscar a entrar nesse assunto, temos o conhecimento claro de que nosso futuro depende exclusivamente de nossas ações no presente, seja nossa saúde física, mental ou financeira, claro que cientes de que imprevistos podem acontecer, e para tanto devemos nos prevenir, também, contra a possibilidade da ocorrência desses riscos.

Portanto, como disse Peter Drucker, professor, consultor e escritor de origem austríaca, “a melhor maneira de prever o futuro é criá-lo”, e a decisão de que no futuro iremos ter uma dignidade financeira na aposentadoria é exclusivamente nossa.

Alguns leitores podem contextualizar, em um país de tamanha desigualdade social, no qual a imensa maioria da população vive com uma renda próxima a um salário mínimo, esse “lunático” está falando em poupar, investir, acumular reservas?

Entendo perfeitamente essa situação, e é claro que não estou falando de acúmulo de riquezas visando viver melhor na aposentadoria, mas sim “manter o padrão de vida e a dignidade financeira”, quem vive no padrão de vida de 1 a 3 salários mínimos eu acredito que, mesmo com o passar dos anos, com o aumento do déficit da previdência social, com a acelerada mudança demográfica, terá a sua renda garantida pela previdência social, e que reforça a necessidade de entendermos melhor os objetivos e os benefícios da previdência social, a importância e a obrigatoriedade de que todos que produzam renda no país façam as suas contribuições e sobre os valores corretos.

“Criar o seu próprio futuro” é ser previdente, ter uma previdência complementar, visando formar uma reserva, poupando parte do que se produz hoje, para utilizar no futuro, nada mais do que isso, não importa o mecanismo que você escolha para formar essa reserva, investir esses recursos, o ideal é que seja uma opção adequada ao perfil do seu objetivo. Nesse caso é um objetivo de um prazo mais longo, ou deveria ser, já que é importante começar o mais cedo possível, portanto deve estar na “caixinha da dignidade financeira”, como bem diz meu grande amigo, corretor e planejador financeiro, um dos maiores do país, Ricardo Tarantello.

Essa atitude é fundamental para que no futuro você não passe pela tão dolorosa “inversão da dependência financeira”, como gosto de chamar o fato de que os pais, que hoje são os responsáveis financeiros pela família, pelos filhos, passem, no futuro, a ser dependentes financeiros dos mesmos, percam a autoestima e a dignidade financeira, como acontece hoje com mais de 46% dos aposentados no Brasil.

Resolvi escrever, novamente, sobre o tema hoje, um domingo, pela dor e angústia de ver nos olhos dos meus pais essa perda de autoestima e da dignidade financeira, um casal que educou e cuidou de seus quatro filhos e que não tiveram a oportunidade, assim como nós temos, de serem prudentes consigo mesmo.

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