O terceiro dia do Rock in Rio Lisboa 2022 foi marcado por uma maioria de atrações com apelo à geração que viveu seu auge da juventude nos anos 80, reunindo nomes como A-HA, UB40 Feat. Ali Campbell e Duran Duran.
por João Lazera em 27/06/22 09:04
Depois de um primeiro fim de semana de muito sucesso, que reuniu mais de 150 mil pessoas em dois dias de festival, o Rock in Rio Lisboa 2022 retomou as atividades neste sábado com um desfile de grandes nomes que marcaram época nos anos 80, criando uma atmosfera mais diversa, talvez nostálgica, mas não menos empolgada.
Como o festival é também sobre a plateia, não deixava de ser curioso perceber, com certa frequência, três gerações de uma mesma família caminhando, confraternizando e cantando juntas. Um cenário auspicioso nos tempos em que vivemos, sem dúvida.
O lineup previa a abertura do Palco Mundo pelos britânicos do Bush, seguidos pelo UB40 feat. Ali Campbell, pelo A-HA e, por último, os Duran Duran.
Dado o contexto da escalação de sábado, a escolha da banda Bush para abrir os trabalhos no Palco Mundo soava estranha.
A banda britânica formada no começo dos anos 90, com inspirações no punk do “The Clash”, “Sex Pistols” e, mais propriamente, nas bandas grunge de Seattle que lhe são contemporâneas, como Nirvana, Pearl Jam e Soundgarden, não tinha o mesmo apelo geracional das demais que se apresentariam na sequência.
O próprio estilo de sua obra – denominada de pós-grunge por alguns especialistas – nem sempre de forma elogiosa, é verdade, pouco tinha a ver com a atmosfera que se instalaria naquela tarde/noite.
Ignorando o lado vazio do copo, o Bush tomou de assalto a plateia, apostando na presença de palco do seu líder – o vocalista Gavin Rossdale, e no peso da guitarra de Chris Traynor, formando uma aglomeração tímida, mas engajada nas cercanias do palco.
De um modo geral, no entanto, o forte calor e a dispersão do público que, em certa medida, resvalava nas fronteiras da indiferença, comprometeram a eloquência da apresentação.
Apesar disso, por seus próprios méritos, a banda entregou um show competente, aproveitando o seu repertório como um todo. Talvez tenham cometido um erro ao apostar em várias faixas do álbum mais recente (Kingdom, 2020) e ter deixado de fora da apresentação músicas como “Swallowed”.
Mas, boa parte dos hits que alavancaram milhões de cópias vendidas (na época em que o sucesso ainda era apurado assim) foram executados – como Machinehead e Glycerine, por exemplo, além da mais recente “Bullet Holes”, que fez parte do filme “John Wick – Parabellum”.
É um fato que a banda se esforçou muito para agradar.
Gavin em mais de uma vez interagiu com o público – agradecendo as pessoas que levaram cartazes e cantaram as músicas, tomou uma cerveja do patrocinador do evento – ressaltando que os ingleses gostam de uma gelada (no calor que estava, impossível que fosse de outro jeito), e, como num último apelo para esquentar a apresentação, deixou o palco e correu em meio as pessoas enquanto Traynor segurava o show com a sua guitarra.
No fim, foi um bom show de abertura que poderia ter um efeito melhor, caso a programação subsequente fosse outra.
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Passado o intervalo, subiu ao palco o UB40 – em uma formação que conta apenas com participação do vocalista Ali Campbell da banda original, para trazer para o ambiente um pouco mais de paz e amor.
O ritmo de reggae e ska, empurrado para o pop no mais das vezes, funcionou perfeitamente para o público, agora muito mais envolvido e participativo.
Ali Campbell sentiu o clima e, jogando em casa, flutuava pelo palco como se estivesse de volta aos anos 80, sendo acompanhado pela plateia com palmas e vozes, contando com a iluminação intimista das lanternas dos celulares.
O tour na vibe “De volta ao passado” se esbaldou em covers icônicos de músicas de Neil Diamond, Sonny & Cher, Al Green e Elvis Presley.
Por falar neste último –agora ainda mais em evidência, dada a iminência da estreia da película “Elvis”, a balada “Can´t Help Falling in Love” foi o momento mágico do concerto e trouxe a certeza de que o terceiro dia de festival tinha realmente começado.
A seguir, a banda formada pelo trio Morten Harket, Magne Furuholmen e Paul Waaktaar-Savoy, quase todos sexagenários – é importante ressaltar, entregou uma performance de altíssimo nível.
Quem esperava algo preguiçoso, meio que emulando um cover de si mesma, como parece ser a tônica de muitas bandas antigas, se surpreendeu positivamente com o show focado e visceral entregue pelo A-HA no Parque da Bela Vista. A impressão que deu é que o know how dos noruegueses e a paixão pelo ofício não envelheceram um dia sequer.
A apresentação seguiu um roteiro estudado para conquistar a plateia aos poucos, dando pílulas das faixas mais conhecidas do repertório para provocar um envolvimento crescente, marcando território com trechos que ficarão na lembrança, como quando dedicaram “Crying in the rain” às vítimas do atentado ocorrido em Oslo na noite anterior. “É um dia triste na Noruega” – disse Magne, visivelmente emocionado, para depois dar ao público uma das melhores exibições da canção.
E o ritmo seguiu alternando os vários momentos da banda, valendo o destaque para a execução de “Hunting High and Low” – iniciada de forma simples, baseada no piano e nos vocais, para irromper com a atuação completa da banda, acompanhada pelas vozes dos milhares de espectadores.
O auge se deu ao fim, com “Take On Me”, o momento mais esperado da noite. Era fácil ver as pessoas comentando e pedindo baixinho para que fosse a próxima a ser tocada. Quando soaram os primeiros sons da introdução, a sensação era de gol decisivo e o comportamento do público idem. O plano dos noruegueses – se é que existiu, de fato, deu certo. Muito certo.
O show mais esperado da noite, a banda britânica pop/new wave Duran Duran fez por merecer a espera e a idolatria.
Da atitude ao figurino, da escolha do repertório ao comportamento no palco, o Duran Duran deu uma aula de como desfrutar do seu imenso e aclamado acervo de 40 anos de canções, com a audácia de demonstrar que os sexagenários fizeram, fazem e continuarão fazendo boa música.
De “A View to Kill”, que fez parte do James Bond de 1985, passando por “Notorious” e “Friends of Mine”, passando por “Ordinary World” – em dedicação emocionada ao povo da Ucrânia, Simon Le Bon e sua turma brindaram o público com uma grande atuação, apesar de alguns senões na voz de Le Bon em alguns momentos mais exigentes.
Falo em atuação pois não é só do desfile de sucessos que viveu o Duran Duran, mas sim da performance magnética que nos permite compreender que nem só da perfeição técnica vive o espetáculo.
O final do show foi muito bem estruturado, com a execução de “Girls on Film” em uma versão mixada com “Acceptable in the 80´s”, de Calvin Harris e uma volta para o bis com “Save a Prayer”, pouco depois de pedir orações pela Ucrânia, e o ápice com “Rio”, fechando com chave de ouro o terceiro dia de festival.
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