É óbvio que o povo é parte desse jogo, porém, se o povo não entende bem as regras do jogo, joga um jogo tão tendencioso quanto os jogos de um cassino com chances quase inexistentes de ganhar.
por Rodrigo Arantes em 15/08/22 12:36
Com quase 10 anos de pesquisa sobre gameologia eu diria que está quase certo, gramaticalmente, porém essa afirmação passa longe da realidade.
Todo o poder emana do Jogo. Essa sim é a verdade.
Quem entende bem isso vai dominar o jogo e foi exatamente o que fez o marketeiro de Donald Trump, Steve Bannon, aplicando a Teoria dos Jogos e o poder das redes sociais, memes e outros elementos simbólicos para criar e administrar narrativas que viabilizaram a ascensão da extrema direita mundial que colocou Bolsonaro na nossa presidência.
Deste modo, movimentando corretamente os dados sobre o povo, Steve Bannon e seus clientes da sua empresa Cambridge Analytica conseguiram pelo poder do meta-jogo fazer prevalecer a sua vontade sobre a do povo na democracia.
Nos Estados Unidos, com o sistema do voto colegiado, foi ainda mais fácil e explicativo: como os votos nos estados do interior tem mais peso dentro da contagem de colégios eleitorais, ele falou exatamente o que os estados do midwest americano queriam ouvir e conseguiu fazer sua vontade prevalecer sobre a maioria da população absoluta e das classes mais ricas e poderosas do país que moram nas costas leste e oeste. Novamente, usando o poder do meta-jogo, o jogo dentro do outro jogo, para ludibriar a democracia e usar suas regras contra a maioria do povo, exercendo o poder por maior domínio da ludocracia.
Ludo vem do latim e significa jogo, e cracia vem do grego kratos que significa poder, ou governo.
Além da experiência de Bannon que foi executivo e produtor de séries de Hollywood como Seinfeld, Trump também tem uma experiência particular com gamificação sendo dono de cassinos e criador de uma série sobre o mundo dos negócios chamada O Aprendiz, que já foi até exportada para o Brasil estrelando João Dória que foi governador de São Paulo e candidato à presidência pelo PSDB que depois desistiu.
No dito país do futebol a ludocracia é mais real do que em qualquer outro país.
Em Brasília, no Eixo Monumental, o maior de todos os monumentos é o Estádio Nacional Mané Garrincha e o mais caro estádio da Copa de 2014. Além de o segundo mais caro estádio do mundo perdendo apenas para Wembley, no Reino Unido, na época.
Enquanto o poder executivo, o legislativo e o judiciário, estão representados nos edifícios do congresso, do planalto e do STF, e o dito quarto poder se encontra representado na Torre de TV mais acima, e do outro lado da rua, o Mané Garrincha significando quem sabe o quinto poder ou quem sabe o poder zero? O poder fundacional da nossa civilização?
Me pergunto por que o Brasil e não a Inglaterra é o país do futebol, embora o inglês esteja no nome do esporte até hoje se eles só conseguiram ser campeões uma vez na história, mas globalizaram o esporte mais até do que globalizaram o império britânico.
Agora campeões mesmo eles são no jogo financeiro, por que a moeda deles, a Libra Esterlina, já chegou a valer quase R$7,94 em 2021, e está valendo R$6,29 hoje, apesar da guerra na Europa, do Brexit e da recente renúncia com escândalos sexuais do ex-primeiro ministro Boris Johnson, um dos políticos que só chegaram ao poder graças ao trabalho de Steve Bannon e sua empresa Cambridge Analytica.
Ou seja, ao longo da última década e da repercussão das operações da Cambridge Analytica sobre o próprio Reino Unido e Brasil, os britânicos melhoraram 22% seu poder aquisitivo em relação ao Brasil, que piorou vertiginosamente. Entre estas repercussões estão a política do PPI adotada pela Petrobras como regra por exigência do mercado de futuros de gás e petróleo de Londres, para onde vai substancial parcela dos dividendos colossais que a Petrobras começou a pagar.
Com essa cooperação entre monarquia, bancos, bancos de dados e psicologia do jogo, os britânicos são hoje 3,21 x mais produtivos que os brasileiros que também acompanham o calendário de jogos de futebol mais lotado do mundo, onde os jogadores quase não tem tempo para descansar, algo já denunciado por alguns jornalistas do ramo. Como vimos, nem na pandemia a máquina do entretenimento esportivo poderia parar para proteção de vidas humanas.
Ainda assim, o poder do lúdico é tão fundacional que o presidente Lula fez da Copa do Mundo o vórtice do seu projeto de país bem inserido na globalização dizendo que “ninguém achava que o Brasil poderia sediar uma Copa do Mundo” mesmo quando o país já havia sim sediado a Copa nos anos 50, que perdemos para o Uruguai.
Assim, o poder da ludocracia está além do povo por que penetra dentro da psicologia e dos instintos inconscientes das massas se aproveitando da propensão que o homem tem ao vício no jogo como tem ao vício no álcool e outras drogas. A dopamina é a droga do jogador e quando este jogador perde o controle do vício ele se transforma num ludopata. Nietzsche dizia que enquanto as psicopatologias são raras em indivíduos, nas massas, elas são a regra. Usando de elementos de game design as redes sociais viciaram uma geração inteira em aprovação e validação social e manipularam com essas máquinas e fabricação em massa de fake news a nossa política para depreciar a nossa moeda e desta forma manter a nossa posição de perdedor crônico do jogo financeiro. Jogo que é o verdadeiro talento dos britânicos, cujos banqueiros inventaram os primeiros fundos que Hedge.
O hedge funding foi a arte dos banqueiros que fez a grã-bretanha sobreviver a inúmeras crises, guerras e bloqueios de nações inimigas, se apoiando em um arquitetura equilibrada de apostas em vários mercados e segmentos para nunca sair financeiramente falido em nenhum cenário, mesmo que extremo.
Tal como um jogo de Poker, ela consiste simplesmente em tentar acumular uma carteira de ativos sinérgica e completa o suficiente para que você esteja pronto para a maioria dos cenários possíveis em torno de uma incerteza em aberto no horizonte. Os hedge funds, portanto, administram a incerteza. Mesmo que para isso seja necessário invadir e dominar países mais fracos, corromper políticos e orquestrar intervenções e golpes em países indefesos e traficar ópio para dentro de um império inimigo, pois é sempre por uma questão de garantia e sobrevivência do Reino Unido, que em última instância, tem uma rainha que tem imunidade para não responder por qualquer crime que seu serviço secreto cometa em seu pedido a pedido do sistema financeiro mundial que movimenta na City de Londres diariamente 25% da movimentação de capitais do planeta em mercados de câmbio e petróleo. Pois a maior parte do petróleo do mundo é comercializada pelos mares, e é daí que vem a tal licença para matar do 007.
Todas as outras bolsas do mundo são apenas franquias deste mesmo cassino que é o mercado de apostas cambiais que foi o segredo de sobrevivência da geograficamente limitada Grâ-bretanha e sua rainha de ouros. E não por acaso, os mesmos interessados na divisão e polarização política do Brasil são as elites de Londres e São Paulo, que se beneficiam deste negócio financeiro transnacional e que também apoiaram e ainda apoiam o Bolsonaro, não por que sejam necessariamente fascistas, xenofóbicas ou de direita. Mas por que com isso criam uma dinâmica de Good Cop e Bad Cop onde conseguem ter quase 100% de controle sobre os resultados de uma eleição.
Deste modo, o Brasil é o hedge de São Paulo que é o hedge de Londres na América do Sul e somos a base que sustenta o status quo bacana britânico e pagamos royalties para Londres pelo nosso petróleo que investimos para descobrir e extrair. Mas além disso, a Petrobras está pagando dividendos duas vezes maiores que as demais petroleiras no mundo. A cada litro de gasolina que colocamos no nosso carro hoje, pagamos uma taxa cada vez maior para Londres que pagou preço de banana nas ações da companhia ao articular um impeachment promovido por pessoas que saíram às ruas com as camisas da CBF, enquanto o Rio de Janeiro recebia os jogos olímpicos. Mais uma vez ela, a Ludocracia.
Estamos sob as rédeas de Londres com a cumplicidade de São Paulo que faz hoje do país uma nova fazendona de escravidão financeira onde 4 em 5 famílias estão endividadas e São Paulo é a casa grande com pleno emprego e o resto do país, senzala, sem emprego, sem crédito e sem estrutura.
Já passamos por isso antes e superamos isso antes quando em 1930 Getúlio Vargas liderou uma rebelião dos demais estados da nação contra São Paulo e Minas e seu “Café com Leite”. Vargas colocou o país no rumo da industrialização com políticas industriais e trabalhistas, criou a indústria siderúrgica, a Petrobras e o BNDES. Um projeto de país que nem os militares ousaram desconstruir e que viu no impeachment de 2016 a sua morte e com ele o poder de compra do Real.
Sem um projeto de país atualizado estruturando o valor da nossa moeda, é improvável vermos o dólar abaixo de R$4 num eventual governo Lula, quando o mercado financeiro de Londres tem seu homem na jogada como vice-presidente. Mesmo Lula se dizendo o pai do pré-sal, é improvável que reverta sua privatização. E no cenário de um governo Lula sob ataque ou com saúde enfraquecida, numa conjuntura passando por instabilidades econômicas e políticas em atrito com a direita e com os militares, temos os ingredientes para uma bomba armada para instalar a próxima crise política e fazer o dólar ultrapassar os 6 reais num eventual governo Alkimin, garantindo mais uma década de estagnação para nós em benefício dos que entendem e sabem jogar o jogo do poder, de fato.
Pois como eu disse, todo poder emana do Jogo, e enquanto o povo não entender o jogo e jogar, será peça no jogo de outros jogadores que entendem e jogam o jogo como se suas vidas estivessem em jogo, por que eles sabem que estão. E nós, será que ainda não sabemos?
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