Sabemos – prezado leitor e prezada leitora – da catastrófica situação de nossos concidadãos, moradores do estado do Rio Grande do Sul, atingidos por chuvas incessantes que causaram mortes e perdas materiais inimagináveis. A vida cotidiana, assim como no período pandêmico, a normalidade, está suspensa. Sociologicamente, há um contexto de patologia social e, por isso, há que se preocupar para que não se degenere para uma anomia.
Em 14/05/24 13:41
por Coluna do Prando
Rodrigo Augusto Prando é Mestre e Doutor em Sociologia, Professor universitário e pesquisador. Conselheiro do Instituto Não Aceito Corrupção, membro da Comissão Permanente de Estudos de Políticas e Mídias Sociais do Instituto dos Advogados de São Paulo e voluntário do Movimento Escoteiro.Textos essenciais de serem lidos para acompanhar e refletir sobre os movimentos da sociedade e do Poder.
Segundo estimativas do governo gaúcho, serão necessários R$ 19 bilhões para a reconstrução do estado, em ações de: resposta, assistência, reestabelecimento e reconstrução. É, por certo, o maior desafio político sobre um governador, no caso, Eduardo Leite, nos últimos 50 ou 100 anos. E, o pior, é pensar e projetar que tais eventos climáticos extremos poderão, num curto espaço de tempo, se repetirem trazendo tudo isso à tona novamente. Especialistas já asseveram acerca da necessidade de mudar cidades inteiras de lugar. Mudar uma cidade de lugar? Sim, pois a continuidade desta formação territorial trará, não raro, novas situações de catástrofe.
Uma população que, neste momento, vivencia o choque da perda – humana, de seus animais de estimação, de seus bens materiais – e que terá que, social e psicologicamente, reconfigurar suas vidas. Rememoremos as guerras, os rompimentos de barragens, os terremotos e os incêndios de grandes proporções. Tudo isso traz não apenas feridas físicas, perdas materiais, mas, sobretudo, impacto na saúde mental dos atingidos, todos, indistintamente, sentem e sentirão os resultados da vivência traumática em tela.
Não bastassem as desgraças já ocorridas e a projeção de novas chuvas e a queda intensa da temperatura, pululam nas redes sociais e nas ruas um conjunto de fake news que são direcionadas para intenções distantes da ética e da decência humana. A fake news não é uma mera, simples, mentirinha. Ela é produzida com objetivo de ser uma mensagem fraudulenta em seu conteúdo e que toma a forma de uma informação assentada em fatos, da realidade, mas que causará prejuízo econômico, político e, por isso, trará vantagens para seus disseminadores. Observe-se que o mecanismo da fake news, das teorias da conspiração, da pós-verdade e dos distintos tipos de negacionismo sempre busca captar atenção por conta do apelo emocional, de uma informação extraordinária, de uma grande conspiração das elites, dos governos, que, por isso, tem que ser compartilhada antes que a tirem de circulação. Assim, em pouco tempo ganham as redes, as ruas e formam narrativas que pouco tem de compromisso com a verdade factual.
Todos nós podemos, de alguma forma, contribuir. Pode-se contribuir com doações (financeiras ou itens de necessidade), com doação de trabalho voluntário, com ações de conscientização e não divulgando fake news e informações incompletas ou não verificadas. O momento reclama, de cada um, uma reflexão de que, independente de nosso grupo ou classe social, nossa vida poder mudar abruptamente e que teremos que tratar de forma profunda, séria e científica da relação da humanidade com a natureza, da ocupação do solo e da formação de nossas cidades. Estaremos, em breve, em período eleitoral e cabe, como cidadão e eleitor, questionar candidatos a prefeito e vereador: o que propõem no que tange a estes temas? Às catástrofes? A ocupação do solo? Aquecimento global?.
Se, enfim, tudo isso seja demasiado difícil para alguns, lembro da simplicidade de meus pais, de cultura caipira: “muito ajuda quem não atrapalha”. Sigamos em solidariedade e apresentando valores que possam minorar o sofrimento em voga. A tragédia que é deles é, na verdade, nossa.
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