Em motociata, presidente diz que fotos do 7 de setembro servirão para mostrar que ministros serão colocados em seu “devido lugar”
por Juliana Braga em 06/09/21 09:09
Às vésperas do 7 de setembro, o presidente Jair Bolsonaro voltou a convocar a população para os atos em Brasília e em São Paulo. Sem citar nomes, afirmou que o povo, como poder moderador, não pode admitir “um ou dois” atuando fora das quatro linhas da Constituição e disse ser necessário enquadrá-los. Neste sábado (4), Bolsonaro participou de uma motociata em Pernambuco.
“Temos um ou outro saindo da normalidade. Temos, sim, um ou dois jogando fora das quatro linhas da Constituição. Dizer a vocês que nós jogamos dentro das quatro linhas, mas o povo, como poder moderador, não pode admitir que nenhum de nós jogue fora dessas quatro linhas”, defendeu.
Em função da pandemia, não haverá o tradicional desfile de 7 de setembro na Esplanada dos Ministérios. O presidente, no entanto, participará de uma manifestação em seu apoio em Brasília, pela manhã, e outra na Avenida Paulista, em São Paulo, à tarde.
Em outro trecho, o presidente deixa mais claro estar se referindo ao Judiciário. Ele afirma que se algum dos ministros deles agir fora da Constituição, ele chama a sua atenção e o demite, caso não mude de postura. O mesmo aconteceria na Câmara dos Deputados ou no Senado Federal, onde os parlamentares são chamados a responder no Conselho de Ética.
“O nosso Supremo Tribunal Federal não pode ser diferente do poder Executivo ou do poder Legislativo. Se lá tem alguém que ousa a continuar agindo fora das quatro linhas da Constituição, aquele Poder tem que chamar essa pessoa e enquadrá-la e lembrá-la de que ela fez um juramento de respeitar a constituição”, sustentou.
Segundo ele, caso isso não ocorra, em qualquer dos três Poderes, a “tendência” é acontecer uma ruptura. “Ruptura essa que eu não quero, nem defendo. Tenho certeza, nem o povo brasileiro assim o quer, mas a responsabilidade cabe a cada Poder e eu apelo a esse outro Poder que reveja a ação dessa pessoa que está prejudicando o destino do Brasil”, completou.
Bolsonaro tem empreendido uma cruzada contra dois ministros do STF: Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes. Barroso é também presidente do Tribunal Superior Eleitoral e tem se manifestado abertamente contra o voto impresso, bandeira do chefe do Executivo. O ministro argumento que o voto impresso oneraria os cofres públicos e não serviria como forma de auditar a urna eletrônica justamente por ser mais suscetível à fraude humana.
Já Alexandre de Moraes preside inquéritos que investigam não só Bolsonaro como também seus aliados. O presidente subiu o tom após o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, ter sido alvo de uma operação e preso por suspeita de integrar uma milícia digital voltada a ataques à democracia. Em agosto, Bolsonaro apresentou um pedido de impeachment de Moraes ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que o arquivou por falta de embasamento jurídico.
A motociata começou às 9h da manhã no município de Santa Cruz do Capibaribe. O grupo percorreu cerca de 60 quilômetros, passando por Toritama e encerrando em Caruaru, onde Bolsonaro discursou em um estacionamento. Estava acompanhado de ministros e do pastor Silas Malafaia.
Em seu discurso, o presidente voltou a convocar seus apoiadores a participarem das manifestações previstas para a próxima terça-feira (7), referindo-se a data como “a nossa outra Independência”. “Todos ouvirão o clamor de vocês e não estaremos lá apenas para fazer figuração. Estaremos lá para mostrar a todos que não admitiremos mais quem quer que seja ignorar a nossa Constituição.”
O presidente ainda disse que os movimentos que o apoiam sempre foram pacíficos e nunca houve atos de vandalismo. “Tenho certeza que o retrato da imagem lá na Esplanada, onde estarei pela manhã, bem como o retrato, à tarde, quando estarei na Paulista, o retrato do povo servirá para mostrar para esses que ousam não respeitá-los, esses que ousam não mais se submeter à nossa Constituição, eles serão colocados no devido lugar”, ameaçou.
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