Como os números da disputa presidencial podem direcionar as posturas e estratégias para tocar primeiro na linha de chegada
por Paulo Totti em 19/01/22 14:19
Enquanto a pandemia avança implacável, inabalável, o governo já bate dois dígitos de inflação em 12 meses (10,06%), e a Petrobrás anuncia novos preços da gasolina, do diesel e do gás natural, a campanha presidencial faz uma pausa à espera da volta da atividade parlamentar em fevereiro. Mas a situação eleitoral não mudou e bolsonaristas começam a temer que nada ou muito pouco mudará até 2 de outubro. Só foi generosa com o PT a pré-estréia da campanha em dezembro, quando todos os principais partidos, à exceção da fusão Dem-PSL, tornaram públicos os que pensam ser seus mais expressivos nomes. Lula saiu na frente em todas as regiões do país e em todas as categorias de renda e parcelas etárias.
É como na Corrida de São Silvestre, Um atleta que largou junto dos outros na Avenida Paulista, esquina com Ministro Rocha, já chegou a Higienópolis; seu escudeiro anda pelo Museu do Futebol e o imensurável pelotão de retardatários – todos os demais – apenas atingiu o Instituto do Coração. A velocidade que o líder desenvolve parece a do etíope Belay Bezabh, vencedor de ponta a ponta na última corrida, e não a do conhecido “Coelho”, que costuma sair na liderança em desabalada carreira, mas logo cansa e abandona a disputa, satisfeito por ter recebido um punhado de aplausos.
Até agora, o favorito Lula da Silva tem 48% das apostas no último Datafolha Os demais, aí incluído o próprio Jair Bolsonaro (22%), mais Sergio Moro (9%), Ciro Gomes (7%), João Dória (4%), Simone Tebet (1%) e Rodrigo Pacheco (1%) somam apenas 44%. Não pontuam Alessandro Vieira, Aldo Rebelo e Felipe D’Ávila. Noves fora os brancos e nulos, se o ritmo futuro for o mesmo de agora, Lula chegará sozinho, rápido e folgadamente, à frente do prédio da Fundação Casper Líbero, na volta à Avenida Paulista.
É a maioria absoluta, obtida na primeira volta da corrida, como se não existisse outra. Pesquisa mais recente, da mineira Quaest, confirma o levantamento do Data Folha: Lula, 45%; Bolsonaro, 23%; Moro, 9%; Ciro,5%; Dória, 3% ;Tebet, 1%. Os demais não pontuaram]
É claro que uma corrida de marmanjos pelo centro de São Paulo não tem a mesma importância e nem a mesma seriedade de uma sucessão presidencial, mas para quem conhece São Paulo é fácil entender a magnanimidade das diferenças desenhadas no mapa da cidade. Quem não conhece entenderá os números.
Antes de permitir que estas constatações, apenas retóricas e metafóricas, se transformem em dura realidade nos próximos nove meses, ilustres líderes do Centrão – excluídos os descerebrados do “cercadinho” – passam a pensar em mudar o tom das manifestações presidenciais, a admitir – por enquanto reservadamente – que comportamentos recentes como o da sabotagem à vacinação infantil ou o da caluniosa insinuação de que a Anvisa serve a interesses inconfessáveis, mais prejudicam do que contribuem à conquista de votos para manter Bolsonaro na presidência até 2026.
O recesso parlamentar faz com que sugestões de mudança de rumos sejam apenas murmuradas, mas a partir de fevereiro poderão ficar mais explícitas. E terá chegado o momento de o próprio Centrão oficializar seu desconforto. Este é um agrupamento político que se mantém fiel ao aliado mas se recusa a acompanhá-lo até o inferno.
A partir de resultados nas pesquisas que reprisem o observado hoje, outros setores do bolsonarismo poderão defender a mesma posição, entre eles estamentos militares mais civilizados (a gente não comprova que existam, mas certamente existirão, em nome de Jesus). Se os setores mais serenos do bolsonarismo (que também existirão, benditos sejam) mudarem a campanha, mostrarem que querem resolver as disputas na supremacia do voto, embora sua vitória seja uma ilusão no estágio atual da composição de forças, nossa frágil democracia estará salva.
Se nada mudar, é por que Bolsonaro já desistiu de ganhar a eleição. E é no golpe que pensa e se prepara.
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