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BALAIO DO KOTSCHO

Toffoli já fez o mea culpa do Judiciário. Falta agora a mídia lavajatista fazer sua autocrítica

A Operação Lava Jato e todas as suas consequências, até a chegada de Jair Bolsonaro ao poder, não teriam existido sem a cumplicidade das instâncias superiores do Judiciário e da grande mídia brasileira.

Em 09/09/23 14:48
por Balaio do Kotscho

Ricardo Kotscho, 75, paulistano e são-paulino, é jornalista desde 1964, tem duas filhas, 5 netos e 19 livros publicados. Já trabalhou em praticamente todos os principais veículos de mídia impressa e eletrônica. Foi Secretário de Imprensa e Divulgação da Presidência da República (2003-2004). Entre outras premiações, foi um dos cinco jornalistas brasileiros contemplados com o Troféu Especial de Direitos Humanos da ONU, em 2008, ano em que começou a publicar o blog Balaio do Kotscho, onde escreve sobre a cena política, esportes, cultura e histórias do cotidiano

“VIRADA DE JOGO – Lula frente a frente com Moro: o presidente riu por último”, essa é a legenda a revista Veja, que está uma tristeza só

A Operação Lava Jato e todas as suas consequências, até a chegada de Jair Bolsonaro ao poder, não teriam existido sem a cumplicidade das instâncias superiores do Judiciário e da grande mídia brasileira.

Esta semana, o ministro Dias Toffoli, do STF, já fez o mea culpa do Judiciário, ao enterrar definitivamente a Lava Jato, condenada numa longa sentença por agir, durante anos, fora e acima das leis, numa grande armação para atingir os objetivos políticos dos seus mentores, Moro & Dallagnol, cavalos de Tróia da extrema direta nativa a serviço de interesses externos. 

“Foi tudo ilusão na Lava Jato?”, pergunta candidamente o colunista Carlos Alberto Sardenberg no Globo deste domingo. 

Não, meu caro, não foi tudo ilusão, foi uma grande armação da qual você e muitos dos seus colegas participaram alegremente, mesmo sabendo de tudo que se passava em Curitiba. 

Serdenberg pergunta também “O que fazer com o dinheiro?”, referindo-se aos R$ 6,28 bilhões arrecadados pelas Petrobras nos acordos de leniência com a Odebrecht e outras empresas, que agora foram todos anulados pelo STF por utilizarem provas imprestáveis.  

Para quem vive de salário, pode parecer muito dinheiro, mas o que o colunista não diz é que isso representa apenas 1% dos R$ 600 bilhões de prejuízos causados ao país pela Lava Jato, segundo cálculos de 2022 do site Consultor Jurídico, com base num levantamento feito pelo Poder 360 no ano anterior. 

“Somente entre as 11 maiores construtoras, a queda de receita foi de 89% em quatro anos”, causando a perda de milhões de empregos, o fechamento de empresas fornecedoras, e um abalo inédito nas estruturas política e econômica do país e na imagem do Brasil no exterior, sem falar nas sequelas do bolsonarismo, que ainda levarão décadas para serem extirpadas de parte da nossa sociedade.  

Nada disso foi capaz até agora de fazer a chamada grande imprensa e seus porta-vozes mudarem de opinião, muito menos de fazer uma autocrítica. Em colunas, editoriais e reportagens, o ministro Dias Toffoli foi duramente atacado, acusado de partidarismo, enquanto defendiam ainda as “conquistas da Lava Jato”, como se a corrupção tivesse acabado no país. “O último prego no caixão”, lamenta a revista Veja, que foi um baluarte na defesa e propaganda da Lava Jato. Na televisão de notícias, os comentaristas pareciam mesmo ter saído de um velório.  

Foi bom só para certos jornalistas que subiram na carreira na onda do lavajatismo e para o ex-juiz Sergio Moro, eleito senador, que garantiu um contrato de R$ 3,7 milhões com a consultoria Alvarez & Marçal, dos Estados Unidos, responsável pela recuperação judicial de empresas julgadas por ele, e o ex-procurador Deltan Dallagnol, eleito deputado federal, já cassado. Moro corre o mesmo risco, em julgamento marcado para o final do ano, sobre as suas mal explicadas contas eleitorais, suprema ironia, para quem fez fama combatendo o “caixa dois” dos partidos. 

Passou para a história do jornalismo brasileiro a célebre foto dos seis repórteres “heróis” da Lava Jato comemorando a condenação de Lula. “Enquanto isso, companhias, trabalhadores e o próprio Estado sofrem com os impactos econômicos causados pelas ações da autodenominada força-tarefa”, escreve o Conjur, publicação muito respeitada no meio jurídico. 

A respeito da pergunta sobre “o que fazer com o dinheiro?” dos acordos de leniência, lembro apenas que na época Moro & Dallagnol tentaram usar parte do arrecadado na criação de uma fundação destinada aos estudos de “combate à corrupção”, maracutaia que foi abortada pelo STF. São uns pândegos, para dizer o mínimo.

Vida que segue.  

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