Como as pequenas interações sociais fazem falta nessa pandemia
por Beatriz Prates em 24/02/21 11:06
Era domingo e nós trocamos mensagens curtas pelo Whatsapp.
Eu: “Precisamos nos ver, quero dar um presente para o bebê antes dele nascer!”
Ela: “Só se você vier me ver hoje, ele nasce a qualquer momento”.
Eu e minha amiga moramos a pouco mais de 100 km de distância. Nos conhecemos há 15 anos. Nos víamos com uma certa frequência, mas desde o início da pandemia só nos encontramos uma vez, na cobertura de um protesto, e ela ainda nem estava grávida. Como assim o bebê já está chegando?
Com o isolamento, o nosso círculo social – principalmente os encontros presenciais – ficou extremamente fechado. Neste quase um ano, sinto que não vi ninguém. Praticamente convivi com a minha família e uns poucos amigos. E até mesmo com eles acabaram aqueles encontros espontâneos, do tipo: “o que você vai fazer hoje? Vamos tomar uma cerveja? Tô passando aí”.
Os encontros presenciais durante a pandemia têm um ar de compromisso porque eles passaram, de uma certa forma, a ter que ter uma boa razão para existir, um motivo. Então, não é qualquer coisa. É o natal, aniversário e aquelas saídas de emergência quando você e seus amigos precisam desabafar.
As chamadas por vídeo, que pareciam uma alternativa, logo saturaram. No início participei de várias “festinhas” online, conversei com amigos fora do Brasil, mas em julho, quando meu marido organizou uma videochamada surpresa no meu aniversário, eu surtei. Era tudo que eu não queria depois de um dia inteiro de videochamadas no trabalho. Hoje praticamente não falo com nenhum amigo por essas chamadas. Ou é ao vivo ou são mensagens curtas pelo WhatsApp. Então são vários relacionamentos que ficaram pausados.
Com o tempo senti que não tenho saudades só dos amigos próximos. Tenho saudades dos conhecidos, dos amigos dos amigos (até os mais chatos), das pessoas que encontrava em restaurantes, bares, nas viagens e nos lugares onde gravava e fazia alguns trabalhos esporádicos. Esses conhecidos “periféricos”, descobri neste artigo do The Atlantic, também são super importantes para o nosso bem estar, o sociólogo Mark Granovetter da Universidade de Stanford pesquisou isso.
Eu não sei se amigos próximos e casuais têm o mesmo peso pra mim, mas eles fazem uma super falta. Quando a pandemia chegou a gente perdeu essas relações mais leves, justamente as que nos distraem de quem somos e de nossos problemas. E não tem jeito, por enquanto, elas vão ficar suspensas.
Nos resta aguardar a vacinação em massa para uma volta à normalidade. Não temos ainda muito ideia de quando isso vai acontecer. Mas sinto que, depois desta pandemia, não vamos dispensar nenhuma conversa. Vamos valorizar mais essas pequenas trocas. Afinal elas ajudam sim a deixar a vida mais leve, mais festiva e mais alegre.
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