Estudiosa de James Joyce, Amara fala sobre sua carreira literária e sua transição
por Luciana Tortorello em 30/06/21 18:46
Na semana do dia do Orgulho LGBTQIA+, o MyNews conversou com a escritora e travesti Amara Moira. Ela é doutora em crítica literária e professora do cursinho Descomplica, falou sobre como foi sua transição, e também de suas obras, que contam um pouco de sua história.
“Eu nasci, disseram para mim ‘você é um homem’ e eu tentei ser esse homem por muito tempo. De alguma forma nem sempre é fácil a gente descobrir que a vida foi programada para nós, não é a melhor das vidas, não é mais interessante ou a mais leve. Durante muito tempo, eu tentei ser esse homem que disseram que eu era quando eu nasci e com 29 anos, foi o momento em que eu tive condições de me blindar e de me preparar para enfrentar o que viesse pela frente”, conta a professora.
Amara explica que aos 29 anos ela tinha acabado de ser aprovada em primeiro lugar no processo seletivo do doutorado, que lhe garantia uma bolsa de estudos e que isso garantiria parte de seu sustento se sua família não aceitasse essa transição e a expulsasse de casa, por exemplo. Nessa época, ela também já era conhecida no meio universitário, o que lhe garantiu aceitação da maioria das pessoas que estavam à sua volta também. O doutorado de Amara Moira foi sobre James Joyce, escritor ocidental considerado por muitos como um dos mais difíceis de se estudar.
“Quando você transiciona cedo demais, você vai acabar sofrendo um monte de violências, porque você vai estar por um momento muito vulnerável da sua vida. Eu que começo minha transição com 29 anos, acaba que eu consegui me blindar um pouco melhor. Eu já era conhecida dos professores, dos alunos, que já tinha relação afetiva comigo, já existiam outras pessoas trans que tinham acabado de transicionar que estavam ocupando o espaço ali, abrindo espaço para os debates a respeito de pessoas trans no meio universitário, eu já tava dentro da militância LGBT como bissexual também”, lembra a doutora em crítica literária.
Em 2016, Amara Moira escreveu seu primeiro livro, o “Se eu fosse puta”, em que conta sua experiência na vida noturna da prostituição. Mesmo tendo a bolsa de doutorado, ela sentiu a necessidade de se achar e ali, no meio de outras prostitutas travestis, ela não era vista como um “corpo estranho”.
“É uma questão complicada, porque na universidade havia 5 pessoas trans e 30 mil alunos então no espaço onde o tempo inteiro ficavam olhando para mim, o tempo inteiro me sentia sendo julgada, avaliada eu me senti um objeto estranho ali, um corpo estranho e quando eu ia visitar minhas amigas prostitutas, era uma rua só de travestis, uma rua inteira de pessoas que tinham vivido coisas que eu estava começando a viver num espaço de resistência, um espaço onde corpos como os meus são normais, podem ser chamados de bonitos, onde eu podia construir uma relação com meu corpo mais positivo era muito bom estar ali”, relata a escritora.
O livro conta suas memórias nos dois anos em que ela trabalhou na noite, conta sobre o dia a dia, como era a negociação, o que os clientes pediam, como é que eles a tratavam dentro e fora do quarto. Moira já está com seu terceiro livro, o “Neca + 20 poemetos travessos”, vendido pela editora O Sexo da Palavra.
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