Resultado do PIB ficou abaixo das expectativas. Consumo das famílias estagnado e queda da indústria e do agronegócio pesaram
por Juliana Causin em 01/09/21 20:11
O IBGE divulgou nesta terça-feira (1º) o resultado do PIB (Produto Interno Bruto) do país para o 2º trimestre de 2021. A queda foi 0,1% em relação aos três meses anteriores, interrompendo a sequência de três trimestres de recuperação da economia brasileira. O resultado mostra também a perda de fôlego da economia, que no primeiro trimestre do ano cresceu 1,2%.
Segundo o IBGE, a queda de 0,1% é considerada de estabilidade. Entre o mercado financeiro, os analistas projetam um resultado melhor para o período, de alta de 0,2%. A retração entre os meses de abril e junho veio como resultado principalmente da queda da agropecuária, de 2,8%. A indústria apresentou recuo de 0,2% e o setor de serviços teve leve recuperação, com avanço 0,7%.
Segundo o ministro da Economia, Paulo Guedes, o resultado foi reflexo do período mais “trágico” da pandemia, o que fez com que o desempenho econômico andasse de lado. “Foi o trimestre mais trágico, quando a pandemia abateu mais brasileiros, foi abril, maio e junho deste ano, com a segunda onda. Foi justamente quando entrou de novo o auxílio emergencial, a expansão dos programas de assistência”, disse o ministro.
“Nós mantivemos a responsabilidade fiscal de um lado e o compromisso da saúde dos brasileiros de outro lado”, acrescentou o ministro, em um almoço nesta terça-feira. Apesar do resultado, Guedes defendeu que a economia brasileira “voltou em V” e que o país “está crescendo novamente”.
Em entrevista ao MyNews Investe, o economista-chefe da Órama, Alexandre Espírito Santo, explica que a perda no setor agropecuário, que vinha apresentando resultados positivos nos trimestres anteriores, já é demonstrativa dos efeitos da crise hídrica no setor produtivo.
“O agronegócio infelizmente é muito sensível. O grande problema dessa falta de chuva é você ter, além do preço de energia e do efeito sob atividade, o impacto sobre o agronegócio, que precisa da água para irrigação”, acrescenta ele.
Do ponto de vista da demanda, o resultado do PIB mostrou também uma estagnação no consumo das famílias no período, apesar da melhora nas atividades de serviços, com o avanço da vacinação contra a covid-19. Segundo Espírito Santo, o consumo zero das famílias é reflexo principalmente do desemprego.
Essa é a avaliação feita também pela coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, na divulgação dos resultados. “Apesar dos programas de auxílio do governo, do aumento do crédito a pessoas físicas e da melhora no mercado de trabalho, a massa salarial real vem caindo, afetada negativamente pelo aumento da inflação. Os juros também começaram a subir. Isso impacta o consumo das famílias”, diz ela.
Outro ponto negativo para o resultado é o de investimentos, medido pela Formação Bruta de Capital Fixo, que teve queda de 3,6%. Para o economista da Órama, o movimento é resultado de um aperto das empresas em um cenário em que os custos inflacionários estão altos.
“O índice de preços ao atacado e ao produtor estão muito acima da inflação para o consumidor. O que isso mostra: os empresários estão tendo um aumento de custos, mas não estão conseguindo repassar esse aumento para o consumidor, então acabam achatando suas margens. Isso reflete nos investimentos porque se ele diminui sua margem, ele corta investimentos”, diz o economista.
Os custos também explicam a baixa da indústria, que tem sofrido também com a falta de insumos na cadeia produtiva. “A indústria de transformação é influenciada pelos efeitos da falta de insumos nas cadeias produtivas, como é o caso da indústria automotiva, que lida com a falta de componentes eletrônicos. É uma atividade que não está conseguindo atender a demanda. Já na atividade de energia elétrica houve aumento no custo de produção por conta da crise hídrica que fez aumentar o uso das termelétricas”, avaliou Rebeca Palis.
Diante do cenário, agravado pela crise hídrica, os economistas já têm piorado suas expectativas para o PIB em 2021 e 2022. “Nós estávamos trabalhando até ontem com previsão de PIB de 5,2% de para o ano de 2021. Nós revisamos para 5% de projeção de alta. Para 2022, nós já tínhamos revisado para baixo a projeção, para 1,8%, e infelizmente vamos precisar alterar também”, diz Espírito Santo.
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