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Estigmatizar a Monkeypox, como ocorreu com o HIV/Aids, pode atrasar o diagnóstico

A Monkeypox não é uma infecção sexualmente transmissível (IST), embora possa se espalhar por meio do contato íntimo durante as relações sexuais

por Agência Bori em 02/08/22 10:08

O editorial publicado na segunda (1), pela Revista Brasileira de Enfermagem (REBEn), traz reflexões sobre o risco de a varíola de macacos ser uma doença, no âmbito da saúde pública, estigmatizada e que reforce estereótipos homofóbicos e racistas. Assinado por Álvaro Francisco Lopes de Sousa, Anderson Reis de Sousa e Inês Fronteira, o texto alerta que a Monkeypox não é uma infecção sexualmente transmissível (IST), embora possa se espalhar por meio do contato íntimo durante as relações sexuais, quando existe erupção cutânea ativa (vermelhidão, caroço ou inchaços).

A Monkeypox é uma zoonose viral endêmica em vários países da África Central e Ocidental. Com uma incubação média entre seis e 13 dias, caracteriza-se por um período que pode ir de zero a cinco dias de febre, cefaleias, linfadenopatia, astenia e mialgias, seguido de erupções cutâneas cerca de um a três dias após o aparecimento de febre. As erupções cutâneas tendem a ser mais localizadas nas faces e extremidades, podendo ocorrer também nas mucosas orais, genitais, conjuntivas e córneas. Normalmente autolimitada, tende à resolução em duas a quatro semanas. Diante do aumento de casos, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou, no sábado (23) que a Monkeypox passou a ser uma nova emergência global de saúde.

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Os autores observam que o número desproporcional de casos entre a população de gays e outros homens que fazem sexo com homens (HSH) levou a OMS a emitir recomendações voltadas exclusivamente para essa população o que, na opinião deles, particulariza e coloca a dimensão da sexualidade (posição afetivo-sexual) dessa população em destaque e em alvo de maior vigilância, mobilizando um conjunto de repercussões desvantajosas para a vida e saúde dessas pessoas.

Ancorados nos fatos históricos cronológicos das epidemias – como o ocorrido com o surgimento do HIV/aids há 40 anos – os autores questionam se o atual direcionamento da informação sobre o surto de Monkeypox para a população de HSH não poderá vir a contribuir para uma maior expressão de casos nesta população ou, por exemplo, para protelar o diagnóstico e a procura por cuidados de saúde, diante do receio da hostilização pública e/ou das violências institucionais.

“Relacionar a orientação sexual com o vírus Monkeypox não faz qualquer sentido, já que existem opções de comunicação que se podem mostrar igualmente efetivas, como, por exemplo, focar na prática de relações sexuais entre indivíduos infetados, sem categorizar sexualidades ou práticas em específicos, assumindo uma posição globalizada das ações sanitárias e de controle epidemiológico”, explica Álvaro Francisco Lopes de Sousa, editor científico da Revista Brasileira de Enfermagem.

Ainda segundo o editorial, a retórica estigmatizante pode desativar de forma rápida e profunda a resposta baseada em evidências, alimentando ciclos de medo, que afastam grupos-chaves, que possam estar em contextos sociais de vulnerabilidade. Os autores recomendam que as equipes de enfermagem se engajem no trabalho da equidade de gênero, construam abordagens terapêuticas não segregantes nem estigmatizadoras, desenvolvam instrumentos de educação sanitária para a comunidade, desenhem planos de ação e de cuidado focados no controle da transmissão, rastreamento, monitoramento e vigilância dos casos, apoiem no diagnóstico diferencial, desmistificando a associação com as IST, especialmente mediante ao aparecimento de lesões na região genital e perianal, bem como no empoderamento da população para a autogestão do risco e a diminuição das vulnerabilidades em saúde.

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