Coluna do Aquiles

SINA DESBRAVADORA

Um trabalho arrebatador

Na coluna desta semana, discorro sobre o novo álbum de Vitor Ramil, que contempla seleção primorosa dos poemas de Paulo Leminski (1944-1989)

por Aquiles Reis em 01/11/24 10:13

Vitor Ramil lança novo álbum em homenagem a Paulo Leminski | Fotos: João Urban/Divulgação

Hoje falaremos do álbum Vitor Ramil (músicas) Mantra Concreto Paulo Leminski (poemas) (clique neste link para ouvir), produzido pela gravadora Satolep Music. Ao selecionar primorosamente alguns poemas de Paulo Leminski (1944-1989), cobrindo-os de música, a sina desbravadora de Vitor novamente aflorou. Eis algumas delas.

De repente (Vitor Ramil e Paulo Leminski): o synth bass (Edu Martins) pulsa intenso. O violão de aço de Vitor marca o tempo com poucos acordes que se repetem. E vem a percussão (Alexandre Fonseca). Com ela, a voz de Leminski: “(…) Tenho a impressão/ Que já disse tudo./ E tudo foi tão de repente/ (…) A música é o destino natural do ser humano (…)”. A surpresa do inusitado devolve as palavras do poeta à realidade com pujança plena.

Amar você (Ramil e Leminski): a tabla (Alexandre Fonseca) vem com o violão de Vitor, que canta: “Amar você é coisa de minutos/ A morte é menos que teu beijo (…)”. A percussão (Alexandre Fonseca) é delicada, consistente. A tabla protagoniza o arranjo. Com ela, a poesia ganha ainda mais significações.

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Profissão de febre (Ramil e Leminski): o violão de Vitor dedilha notas, enquanto aguarda que ele cante: “Quando chove,/ Eu chovo/ Eu faço,/ De noite,/ Anoiteço (…)”. A melodia que emoldura o propósito dos versos na canção é linda! Ainda mais por estar acompanhada de um baixo acústico com arco (Edu Martins).

Será quase (Ramil e Leminski): a kalimba (Santiago Vazquez) e o violão de Vitor iniciam. Ele canta suave: “Um dia sobre nós também/ Vai cair o esquecimento/ Como a chuva no telhado/ E sermos esquecidos/ Será quase a felicidade”. Num belo intermezzo, a kalimba sola com um toque mágico.

Uma carta uma brasa através (Ramil e Leminski): violão (Vitor Ramil), synth bass (Edu Martins) e percussão (Alexandre Fonseca) iniciam. Vitor canta bonito: “(…) Uma sílaba/ Um soluço/ Um sim/ Um não/ Um ai/ Sinais dizendo nós/ Quando não estamos mais”.

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Minifesto (VR e PL): Vitor entoa: “(…) Viva e morra este dia/ Metal, vil,/ Surdo, cego e mudo. (…)”. A batera e a percussão (Alexandre Fonseca), somadas à guitarra de Toninho Horta, o acompanham com firme precisão. A guitarra improvisa. Vitor volta; Toninho vem. Ouve-se a voz de Leminski repetindo uma palavra em loop… meu Deus!

Caricatura (VR e PL): o violão de Vitor e a percussão (Alexandre Fonseca) antecedem a entrada do cantor – a cada música ele canta sempre melhor; agudos e falsetes afinados que só: “(…) Tudo, tudo, tudo,/ Não passa de caricatura/ De você, minha amargura/ De ver que viver não tem cura”. Sampleados da BBC, tímpanos, bumbo e pratos sinfônicos ajuntam-se ao synth bass (Edu Martins) e criam a sintonia perfeita com a poesia musicada.

Vitor Ramil buscou em Paulo Leminski o conteúdo para a criação consagradora de Mantra concreto. Ser ouvida é o ofício desta obra existencial que aqui cumpre o sagrado papel de assim ser.

Aquiles Rique Reis

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