Cuidado. A conjuntura atual exige que vicê faça contas porque já não temos mais o mesmo cenário dos anos 90 quando esta era uma verdade absoluta
Em 25/02/24 16:20
por Mara Luquet
Jornalista, fundadora e CEO do canal MyNews, considerado pelo Google referência mundial em jornalismo no YouTube. Foi colunista de finanças pessoais da TV Globo e CBN, editora do Valor Econômico e criadora do caderno Folhainvest, da Folha de S.Paulo.
Há alguns mantras de investimentos que estão sendo repetidos a exaustão nas redes que fizeram sentido no passado, mas que já não correspondem mais a conjuntura atual. O exemplo clássico é a compra do imóvel versus o aluguel. Então, você acha realmente que alugar imóvel é melhor do que comprar casa própria? Cuidado.
Nos anos 90, a partir do Plano Real, que usou e abusou da taxa de juro estratosférica para manter a âncora cambial que dava sustentação ao principal plano de estabilização monetária do pais, esta era uma verdade absoluta. Comprar imóvel não estava valendo a pena. Era possível ganhar mais com aplicações conservadoras que pagavam juros exorbitantes. E esta verdade foi sendo repetida anos a fio e tornou-se uma verdade absoluta na internet.
Mas, as simplificações que ajudam muito na hora de viralizar nas redes, escondem detalhes que fazem muita diferença na hora de você montar sua carteira de investimentos.
Então vamos voltar ao exemplo dos imóveis.
Em relação aquela época temos hoje três diferenças:
1) a taxa de juros real (acima da inflação) é mais baixa;
2) os preço dos imóveis, também em termos reais, são mais altos
3) o prazo máximo de financiamento saltou de 15 anos para 35 anos.
Esses três parâmetros fazem muita diferença naquele cálculo “compra do imóvel versus aplicação financeira”, a favor do imóvel.
No segundo semestre dos anos 90 chegamos a ter uma taxa de juro básica (selic) de 4% ao mês. Poucas coisas batiam os juros, observe o gráfico abaixo com a taxa real desde o Plano Real.
Hoje é preciso fazer contas. Esse cenário mudou completamente. As taxas de juros em queda obrigam que você corra riscos para buscar uma rentabilidade maior para seus investimentos.
Juros em queda também provocam um impacto no mercado imobiliário. Veja o gráfico abaixo a brutal valorização dos imóveis em períodos em que a taxa de juro estava em patamares muito baixos, em especial durante o governo de Dilma Rousseff. Mesmo com a alta na taxa básica nos anos posteriores elas não chegaram aos níveis dos anos 90 e início dos anos 2000.
E, como você pode observar no gráfico abaixo, o valor dos imóveis permanece em patamares mais altos do que o observado nos anos 90.
Em suma, com imóveis mais valorizados os aluguéis tendem a subir também. Dois movimentos, pois, que jogam muita água no chopp do “alugar é melhor do que comprar”.
Por fim, os financiamentos. Com financiamentos mais longos e taxas de juros mais baixas as prestações se acomodam mais fácil no orçamento do que muito aluguel.
Portanto, cuidado com as simplificações. Busque informações, faça contas e veja o que lhe dá mais tranquilidade. Porque ao final das contas o melhor investimento é aquele que o deixa mais perto de suas metas e o deixa dormir tranquilo. Então me diga: você acha realmente que alugar imóvel é melhor do que comprar casa própria?
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