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CULTOS E MISSAS

Templos fechados e corações abertos para conter a pandemia

Não posso crer em um Deus punitivo, que cobra presença nos templos como um patrão furioso, mesmo sabendo que isso pode gerar morte

por Henrique Vieira em 14/04/21 12:41

“O Altíssimo não habita em casas feitas por mãos humanas”, diz a Bíblia no livro de Atos (7: 48). Então, em meio a maior crise de saúde do século, fechar templos e igrejas temporariamente se torna um ato fundamental para preservar o que há de mais sagrado: a vida.

O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu manter a decisão de proibir celebrações religiosas presenciais para conter o avanço da pandemia. No país onde mais se morre por Covid em todo mundo – e que já chegou a bater o recorde de mais de 4 mil mortes em 24 horas –, todos os esforços devem se concentrar em impedir o contágio do coronavírus e salvar vidas.

A decisão é acertada. E dói. Para quem tem uma crença, a vivência nas comunidades de fé pode ocupar a centralidade da própria existência. Templos, igrejas, terreiros e espaços religiosos são lugares de encontro, afeto, consolo, cuidado e assistência social. Mas não há experiência individual que possa sobrepor à vida de todos. Mais do que nunca, nossa espiritualidade precisa estar à serviço do próximo. 

Henrique Vieira, pastor da Igreja Batista do Caminho, professor, ator, escritor e poeta.
Henrique Vieira, pastor da Igreja Batista do Caminho, professor, ator, escritor e poeta.

Não posso crer em um Deus punitivo, que cobra presença nos templos como um patrão furioso, mesmo sabendo que isso pode gerar morte. Cristo, o Deus que se fez homem, veio à Terra para promover amor e vida em abundância. Prefiro pensar em um Deus que sofre com cada uma das mortes por Coronavirus. Que chora quando vê uma história interrompida por descaso do Governo Federal. Que se dilacera ao ver um filho ou filha sufocar sem o devido socorro em hospitais sucateados.

Deus está presente em nós. No sacrifício pessoal em nome da coletividade. No cuidado consigo e com o outro. Em cada gesto que transforma protocolo em salvação. Em tempos sombrios como este, é preciso ver com os olhos da fé, enxergando o sagrado que extrapola o templo e se manifesta na vacina, no suor dos profissionais na linha de frente no combate à Covid, no auxílio emergencial que promove a justiça e combate a fome. É preciso reconhecer o valor do conhecimento humano como dádiva divina. Interpretar a realidade e adquirir informação para preservar e promover a vida é um exercício de responsabilidade e cuidado com toda criação de Deus. 

O acúmulo científico tem demonstrado a importância do distanciamento social para salvar vidas, portanto é preciso reconhecer a importância e a urgência dessa recomendação. Negar a ciência e o saber humano historicamente adquirido é também rejeitar as possibilidades e potencialidades que Deus nos proporciona para aprender, evoluir e cuidar uns dos outros. 

Mesmo com os templos fechados, a Igreja pode e deve participar de redes de solidariedade e contribuir para ajudar a quem precisa. Podemos e devemos combater a fome e consolar as milhares de pessoas em luto. Há muito a fazer em nome do amor e por amor, mesmo em tempos de pandemia. Inclusive deixar os templos fechados, mantendo o coração aberto! 

Cuidemos uns dos outros, pois é neste cuidado que o Sagrado habita. Paz e bem!


Quem é Henrique Vieira

Henrique Vieira é pastor da Igreja Batista do Caminho, professor, ator, escritor e poeta.

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