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Um ano de altos e baixos de Petro na Colômbia

"Estou no governo há um ano, não no poder", e apontou para obstáculos que têm encontrado em outras forças que diz possuírem o poder "de facto", empresas, imprensa, cartéis de narcotráfico.

Em 09/08/23 12:04
por Coluna da Sylvia

Sylvia Colombo nasceu em São Paulo. Foi editora da Ilustrada, da Folha de S. Paulo, e atuou como correspondente em países como Reino Unido, Colômbia e Argentina. Escreveu colunas para o New York Times em Espanhol, o Washington Post em Espanhol, e integra os podcasts Xadrez Verbal e Podcast Americas. Entrevistou a vários presidentes da regão. Em 2014, participou do programa da Knight Wallace para jornalistas na Universidade de Michigan. É autora do "Ano Da Cólera", pela editora Rocco, sobre as manifestações de 2019 em vários países da regiõa. Vive entre São Paulo e Buenos Aires, enquanto viaja e explora outros países da Latam

Foto: divulgação

Gustavo Petro, presidente da Colômbia, sempre teve um estilo grandiloquente de discursar, buscando a palavra perfeita para ficar nos livros de história. Quando tomou posse, há um ano, parafraseou o escritor García Márquez (1927-2014), mudando o final do romance “Cem Anos de Solidão”. Enquanto o Nobel apontava para um fim catastrófico da espécie humana, Petro prometeu outra coisa aos colombianos: “Hoje começa nossa segunda oportunidade sobre a terra”.

Nesta semana, quando completou um ano no comando do país (em 7 de agosto), o presidente da Colômbia, em entrevista à jornalista Maria Jimena Duzán, demonstrou que sente que tem uma tarefa mais complicada adiante e que não pôde avançar em promessas cruciais de sua campanha. “Estou no governo há um ano, não no poder”, e apontou para obstáculos que têm encontrado em outras forças que diz possuírem o poder “de facto”, empresas, imprensa, cartéis de narcotráfico. Por outro lado, demonstrou otimismo porque crê que sua fórmula é uma alternativa ao neoliberalismo que floresceu no país nos anos 1990, com a nova Constituição, e que vem demonstrando estar liquidado. Isso, segundo Petro, abre espaço para o extremismo de direita e “ameaça o planeta”.

“Por conta da crise econômica, da guerra, da pandemia e da crise ambiental, há uma crise civilizatória, o fascimo cresce porque acabou o neoliberalismo não tem mais soluções”.
Primeiro presidente de esquerda da história da Colômbia, Petro foi eleito por margem apertada na disputa com o direitista Rodolfo Hernández. Em sua plataforma estava promover a “paz total”, ou seja, a pacificação de um país atormentado pela violência por meio de negociações com os distintos grupos, uma reforma agrária por meio da compra e doação de terras improdutivas, e uma ambiciosa agenda de redução da produção do petróleo e revigoramento da luta contra o desmatamento amazônico.

Mas, quanto de fato pôde avançar Petro?

Uma das mais esperadas promessas de campanha do colombiano é a reforma agrária que consta do acordo de paz assinado com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), em 2016.
As cifras, porém, ainda estão distantes do ideal. No tratado, se fala de uma entrega de 3 milhões de hectares e a formalização de 7 milhões já ocupadas por camponeses. A gestão Petro chegou a apenas 2% desta meta. O presidente alega ter encontrado vários obstáculos, como a falta de um mapeamento preciso das terras improdutivas e disputas locais de facções criminosas que impedem a atuação do Estado no campo.

Na área ambiental, Petro havia prometido o abandono gradual e avançado do petróleo e do gás, substituindo-os por energias alternativas e renováveis.
Porém, para além dos eloquentes discursos que deu sobre o tema em várias cúpulas internacionais, a gestão não pôde ir muito adiante nesse quesito devido à dificuldade de fazer acordos com empresas privadas que pudessem instalar esses parques eólicos e solares.

Na área de desmatamento, sim, há boas notícias, como a redução de 29,1% do ano passado para este.

O governo, porém, vem enfrentando dificuldades em aprovar projetos no Congresso. Politicamente, a aliança que elegeu Petro, uma frente ampla de esquerda e centro, se desfez, e hoje os conservadores dominam o parlamento. Com isso, ficaram travadas reformas e normas nas áreas econômica e de educação.

A oposição vem ganhando força e isso deve ser visível nas eleições regionais que ocorrem em outubro. Escândalos como os que envolvem os áudios de seu ex-colaborador Armando Benedetti e a prisão de seu filho, Nicolás Petro, não ajudam. Ambos apontam para a possibilidade de Petro ter recebido apoio financeiro para sua campanha vindo do narcotráfico, uma acusação que já custou caro a outros ex-mandatários como Álvaro Uribe ou Ernesto Samper.

Aliado do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, Petro vem navegando águas turbulentas e com protestos da oposição no horizonte próximo.

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